8 de setembro de 2012

Opinião - Momo




Título: Momo 
Autor: Michael Ende 
Editora: Presença

Sinopse:
Momo é uma criança de cento e tal anos que aparece um dia na cidade, junto ao anfiteatro. Uma criança abandonada que tem, no entanto, algo especial: ela sabe ouvir. Simplesmente ouvir o que as pessoas têm para falar.
Graças a esta particularidade Momo reúne junto a si um número interminável de amigos, de todas as idades. As crianças gostam da maneira como ela brinca com elas, e os adultos da maneira como ouve. Quando falam com ela parece que as ideias fluem mais depressa e conseguem encontrar logo solução para os seus problemas.
Mas um dia surgem problemas mais sérios. Aparecem uns senhores cinzentos em quem ninguém repara. A cidade começa a ficar escura. Perde a alegria à medida que os habitantes começam a trabalhar cada vez mais, para poupar tempo, dizem.
Os amigos de Momo começam a não aparecer. Têm mais coisas em que pensar. E um a um todos se vão embora e Momo fica sozinha.
Até que conhece Cassiopeia, a tartaruga, e através dela o Mestre Hora. Ele vai-lhe explicar o mistério do Tempo. E ensina-lhe o mais importante: como derrotar os homens cinzentos.


Opinião por Joana Marques:
Há muito tempo que um livro não me deixava tão presa quanto este. A sensação de não querer largar o livro luta com a vontade crescente de ver o fim. O livro é de 1973 mas a última edição portuguesa, pela Presença, data de 2005. Desde então não saíram mais edições. Posso adiantar que contactei inúmeros alfarrabistas e livrarias. Inclusive a Presença. E ninguém consegue arranjar o livro.
Momo encanta-nos desde o início. Quando menciona a sua idade depressa é explicado que Momo não sabe os números e as letras. Mas mesmo essa explicação não retira a magia de Momo.
O livro está escrito de uma maneira fascinante. Muito simples, bastante descritiva. Não admira por isso que seja um livro juvenil. Mas, tal como o Principezinho, é um daqueles livros que só enriquece quem o lê, seja adulto ou criança.
A cada página apaixonava-me por uma frase, por um parágrafo, por uma ideia. Em cada personagem eu demorava a leitura para perceber melhor as suas dúvidas, os seus anseios, as suas alegrias. Sentimo-nos quase como Momo, a ouvi-los descrever os seus problemas. Sentimo-nos novamente crianças num mundo que nos maravilha a cada instante.
Tudo corria bem até chegarem os Senhores Cinzentos. Nos seus carros escuros, com as suas gabardines cinzentas, os seus chapéus e os seus charutos. Convencem as pessoas de que ao trabalharem mais poupam tempo. Que o tempo é precioso e não deve ser gasto. Que será um investimento depositá-lo no Banco do Tempo. Sem se aperceberem, os habitantes da cidade começam a trabalhar cada vez mais. Deixam de fazer as coisas que lhes dão prazer para não gastarem tempo inútil. Sem perceberem que são manipulados.
Momo é a única que percebe o que se está a passar. A única que consegue ouvir um homem cinzento e perceber que algo está errado. Mas a partir desse momento Momo torna-se um alvo a abater. E por isso tem de fugir.
O livro não é um conto de fadas nem tem pretensões de o ser. Em cada palavra sobre o tempo revemo-nos e às nossas acções. Vemos o tempo que desperdiçamos com coisas inúteis e que poderíamos ganhar de outra forma. Embora os Senhores Cinzentos não sejam reais a verdade é que hoje em dia todos dependemos deles.
A dada altura o autor diz que “Há um grande segredo, que apesar de tudo é diário. Todas as pessoas participam dele. A maior parte limita-se a aceitá-lo sem o questionar. Esse segredo é o tempo. Há calendários e relógios para o medir, mas pouco significado têm, pois todos sabem que uma única hora pode parecer uma eternidade ou então passar como um instante – consoante aquilo que se vive nela. Porque o tempo é vida. E a vida mora no coração.”
E são frases como esta que nos fazem querer ler mais e mais. Que nos fazem querer conhecer Momo e os seus amigos.
Vai ser o poder de Momo, a sua simplicidade, e a sua forma de ver a vida, a derrotar os Senhores Cinzentos. Porque só as crianças sabem que o tempo é maleável. Só elas mantêm a inocência de saber brincar, de saber viver, de saber maravilhar-se com o mundo que os rodeia.
Momo é um livro daqueles que aquece o coração e a alma. É um livro que não nos abandona mesmo depois de fechado e colocado na estante. É um livro a que agradeço ter aparecido na minha vida. Posso dizer que fiquei mais rica depois de o ter lido.
Tenho esperanças que um dia a Presença volte a reeditar o livro. Ou até mesmo outra editora que lhe pegue. Posso dizer que seria uma história que gostaria de ler a um futuro filho.
Se o conseguirem arranjar, se tiverem amigos que o tenham ou se anda esquecido numa qualquer prateleira, repesquem-no. Levem-no novamente à luz e saboreiem as palavras de Michael Ende. Por Momo… por vós…

“- E quando o meu coração parar de bater? – perguntou Momo.
- Então – retorquiu Mestre Hora – também o tempo parará para ti, criança. Poderia também dizer-se que és tu própria que retrocedes através do tempo, através de todos os teus dias, meses e anos. Passeias-te pela tua vida, até chegares ao grande portão redondo de prata, através do qual entras. Aí, voltas a sair.(…)
- És a morte?(…)
- Se as pessoas soubessem o que é a morte, não mais a temeriam. E se não mais a temessem nunca ninguém lhes poderia roubar o seu tempo de vida.”
 

2 comentários:

Joana disse...

Que surpresa descobrir aqui a minha opinião. Resta acrescentar que foi retirada do blog aarvoredoslivros.blogspot.com

Marta Castro disse...

Olá. Boa noite. A opinião não foi retirada do teu blogue, mas sim da tua participação no nosso passatempo de opiniões, cuja autorização deste para a sua publicação.