17 de setembro de 2012

Opinião - Inventar a solidão


 
Título: Inventar a solidão
Autor: Paul Auster
Editora: Asa

Sinopse:
Num registo íntimo e pessoal, Paul Auster evoca aqui algumas experiências da sua infância, quando as tentativas (e os frequentes fracassos) de relacionamento com o pai marcavam uma rotina familiar difícil. E, paralelamente, a sua própria experiência enquanto pai.

Por vezes comovente, outras vezes hilariante, "Inventar a Solidão" é um mergulho no mundo das emoções genuínas e da sentimentalidade. Há neste livro experiências com as quais todos nos podemos identificar – quer como filhos, quer como pais – e considerações sobre a verdadeira natureza das relações familiares. Um livro sobre a família como só Auster podia escrever – experimental mas sempre sentido, capaz de evitar sentimentalismos sem ser sentimentalmente frio. Uma leitura excelente tanto para a já numerosa legião de seguidores do trabalho de Paul Auster, como para os recém-chegados à sua obra.

Opinião por Catarina Alves Domingos:

Considero uma primeira parte muito bem conseguida. Pelo fato de o autor descrever e falar na primeira pessoa de acontecimentos passados, presentes, memórias e sobretudo da sua relação com o pai, relatos esses que me agradam e fazem parte do meu estilo de literatura predilecto.
Achei curioso o fato de Paul criticar severamente o seu pai por ser uma pessoa fria e que não mostrava sentimentos, mas ao longo da leitura, apercebi-me que afinal Paul não era assim tão diferente do seu pai, pois apesar de este já ter morrido Paul mostra uma indiferença em relação a esse fato e mostrava-se distante, como se pode ver pela utilização de uma linguagem fria, sem sentimento e puramente analítica com que Paul fala do seu pai e de tudo o que este foi, ou melhor dizendo, a tudo o que o seu pai não foi para ele.
Paul critica numerosas vezes o seu pai, pela distância que sempre tinha para com todos e pela maneira, indiferente e apática com que via a vida, mas Paul sem se aperceber está a tornar-se num homem igual ao seu pai. Visto que este tinha acabado de morrer e são raras a vezes em que se sente que ele realmente lamenta o que aconteceu.
Em contrapartida ao que disse anteriormente, havia momentos narrativos em que Paul ultrapassava a sua “capa de racionalidade”, que a meu ver era só uma fachada para encobrir tudo o que realmente ele sentia e para esconder o fato de interiormente desejar mais do que tudo a aprovação e aceitação do seu falecido pai.
Como comprovativo disso o autor diz mesmo que este livro e esta parte em específico foram escritas para que Paul mantivesse viva a memória do seu pai, pois ele achava que assim que parece de escrever essa memória se ia embora e que se esqueceria do seu pai.
Já no final descobre uma possível explicação para o comportamento de se pai, que tem a ver com a estranhas circunstancias em que o seu avô paterno foi morto.
Em relação à transição que é feita entre as duas partes do livro considero que não foi muito bem conseguida, pois existe um corte radical com o que foi anteriormente dito e nos é apresentada uma narrativa que difere em muito da anteriormente tida.
O autor descreve a sua vida e os acontecimentos dela como se fosse uma pessoa exterior a si mesmo, como que alguém que observou todos os ínfimos da sua vida e da sua mente e a está a contar. Refere-se a si mesmo e a outras pessoas integrantes da sua vida com letras maiúsculas, não as tratando pelo nome, outro fator que pode levar o leitor a fazer a associação errada das pessoas com as letras.
Acho, portanto esta parte um pouco confusa, visto que se trata de uma parte mais liga às memórias, mais direccionada ao interior da pessoa, onde o autor descreve situações passadas mas que as mistura com acontecimentos presentes.
Nesta parte predominam citações de diversos autores que servem de ponto de reflexão para quem lê, apesar de por vezes não ter encontrado relações que me permitissem compreender na totalidade o que o autor pretendia dizer.
Esta é também uma parte onde o autor descreve o processo criativo, ou seja, o leitor deparasse várias vezes com as indecisões do autor, com relatos de folhas brancas e de páginas por escrever, folhas essas que com tanta dificuldade o autor tenta preencher. Achei que apesar de poucas e de muito misturadas com memorias e relatos do presente, estas indicações mostram o quão difícil a escrita pode ser.
É como que um entrar na mente do autor para ver o que lá se passa, dai ser tão confuso devido ao emaranhado de ideias, de memórias, de vivencias com que o leitor se prende.
Auster explora a sua mente estabelecendo paralelismo entre a sua vida e algumas pessoas com quem se cruzou durante a sua vida (pai, compositor com quem compartilhou o quarto em Paris e que foi como um pai, relação de Rambrandt com o seu filho Tutus justaposta com a sua e do seu filho)
Encontra em histórias conhecidas como a do Pinóquio, a de Eneias paralelismos com a sua vida. Contudo as historias estão confusas porque não aparecem seguidas, aparece uma parte de mais tarde quando se está a falar de outro assunto aparece o resto. A historia fica a meio, fazendo com que seje difícil de acompanhar o seguimento do livro.
Considero difícil encontrar um fio condutor para esta parte do livro.
É uma parte mais descritiva, argumentativa, com linguagem técnica, com menos acção que por vezes faz com que se perca o interesse pela leitura.

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