11 de junho de 2012

Opinião - Sangue Quente

Título: Sangue Quente  
Autor: Isaac Marion  
Editora:Contraponto  

Sinopse: 
R. é um jovem em plena crise existencial. É um zombie. Numa América devastada pela guerra, pelo colapso da civilização e pela fome incontrolável de hordas de mortos-vivos, R. anseia por algo mais do que devorar sangue quente. Só consegue pronunciar alguns monossílabos guturais, mas a sua vida interior é rica e complexa, cheia de espanto pelo mundo que o rodeia e desejo de o compreender - bem como a si próprio. R. não tem memórias, não tem identidade e não tem pulsação= mas tem sonhos. Depois de um ataque, R devora o cérebro - e, com ele, as memórias - de um rapaz adolescente, e toma uma decisão inesperada: não devorar a jovem Julie, a namorada da sua vítima, e até protegê-la dos outros zombies. Começa então uma relação tensa mas estranhamente terna entre ambos. Julie traz cor e vivacidade à paisagem triste e cinzenta da semi-vida de R. e a sua decisão de proteger Julie pode até trazer de volta à vida um mundo marcado pela morte=Tão assustador quanto divertido e surpreendentemente terno, Sangue Quente é um livro sobre pessoas mortas que se sentem vivas, pessoas vivas que se sentem mortas - e o que podem sentir e fazer umas pelas outras.  

Opinião por Sónia Melo: 
A sinopse deste livro cativou-me, tanto que iniciei a sua leitura com as mais altas expectativas. No entanto, o começo desta história não foi propriamente atractivo. Diria até que o autor apresentava, do meu ponto de vista, uma escrita demasiado crua e visceral (literalmente), cheguei, inclusive, a sentir-me enojada com certas descrições sobre os já conhecidos hábitos alimentares dos zombies. 
Fosse sobre qualquer prisma, não me conseguia identificar com R, um protagonista muito invulgar. R era um zombie em todos os sentidos da palavra mas tinha algo mais e foi esse “algo mais” que serviu de ponto de partida para o desenvolvimento do livro. 
Foi quando R conheceu Julie, uma rapariga também ela única, que a história deu uma volta de 180 graus. R começou gradualmente a tornar-se humano. A pensar, a sentir e até a sonhar como qualquer um de nós. Essa mudança não foi brusca, o que foi bastante sensato da parte do autor. 
Se, no início não sentia qualquer empatia pelo personagem, comecei a gostar cada vez mais dele, até que passei a compreendê-lo bastante bem. Considero que é quando nos identificamos com uma personagem que realmente nos apaixonamos por uma história e somos absorvidos por ela. 
Para mim, a leitura é uma viagem. Vamos até onde o autor nos quer levar e é quando conseguimos chegar a esse destino que atingimos todos os desafios propostos com aquela leitura. 
A mensagem deste livro é sobre esperança e redenção. Graças a R, um zombie inconformado, a humanidade que se julgava perdida encontra uma cura, que não é nada mais do que a esperança. Tal como R nos diz: 

“Estamos onde estamos, independentemente da forma como cá chegámos. O que interessa é para onde vamos a seguir.” (pág. 95)

"Vamos chorar, sangrar, desejar e amar e, assim, encontraremos cura para a morte. Seremos nós a cura. Porque queremos sê-lo." (pág. 244) 

Para mim, este livro é daqueles que primeiro estranha-se e depois entranha-se, mais do que uma história de amor, estamos perante uma história sobre o destino da humanidade. Aqui, perante o desapego para com a vida daqueles que supostamente tinham todo o direito a vivê-la, vivenciamos um forte apego à vida daqueles que aparentemente já não tinham o direito sequer a desejá-la. 
Com um dos finais mais fascinantes que já tive o prazer de ler, este livro traz-nos uma mensagem de fé bastante invulgar. 
 Aconselho vivamente que leiam esta obra de Isaac Marion, um autor deveras promissor.

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