25 de abril de 2011

Opinião - Sputnik, Meu Amor

Título: Sputnik, Meu Amor
Autor: Haruki Marukami
Editora: Casa das Letras

Sinopse:
"O narrador, um jovem professor primário, está apaixonado por Sumire, uma rebelde que conheceu na universidade. Um dia, num casamento, Sumire conhece Miu, uma mulher fascinante e misteriosa, de meia-idade, por quem se apaixona loucamente, acabando por se transformar na sua secretária. Partem para a Europa, numa busca que as empurra para uma estranha e mútua descoberta, e também para um desenlace assombroso."

Opinião por Marisa Costa:
Nas primeiras páginas tive a ideia de que este ia ser mais um romance normal, relatado por um homem apaixonado por uma personagem feminina invulgar e cativante com algum humor à mistura. Mas com o passar das páginas essa ideia foi-se transformando em algo mais. O narrador apresenta-nos primeiro a Sumire, uma aspirante a escritora, amante de livros e de música. Só depois o narrador se vai dando a conhecer, é um jovem professor da escola primária. Seria de esperar que os dois talvez vivessem uma história de amor intensa, mas não é bem assim. Em vez disso, Sumire, uma rapariga de 22 anos que vivia para a escrita como desejo de vida, que nunca tivera qualquer tipo de desejo sexual, apaixona-se loucamente por Miu, uma pessoa casada, mais velha, e mulher, uma ex-pianista com um negócio de importação de vinhos. O narrador leva-nos a apaixonarmo-nos lentamente por Sumire, que nos leva a apaixonarmo-nos lentamente por Miu. E indirectamente vamo-nos apaixonando pelo narrador, pelo amor e desejo que nutre por Sumire, pela forma como descreve calmamente mesmo a relação entre Sumire e Miu, pela forma como passa por sensações tão humanas.

É um livro que nos agarra pelo suspense de querer conhecer melhor as personagens e onde o humor vai sendo substituído pela solidão. É uma obra em que nos apercebemos que os seres humanos, embora de longe possam parecer um monte de estrelas brilhantes e próximas, de perto, são solitários pedaços de metal afastados, como satélites. Que raramente se podem encontrar em sintonia, no que diz respeito aos seus amores e desejos. O narrador amava e desejava Sumire, que gostava e precisava dele mas não o amava. Em vez disso, amava e desejava Miu que a amava mas não desejava. O narrador, por sua vez, podia desejar mas não amar as mulheres com quem se encontrava.

Neste livro aprendemos um pouco, questionamos a essência da vida um pouco, mas acima de tudo somos atirados para um mar de sensações. É um livro sobre a sensação de vazio, e sobretudo sobre a ilusão e a esperança de haver um “outro lado” onde estamos a viver por completo. Quanto ao final, penso que é daqueles que dá margem de manobra e ainda estou à procura da minha interpretação!

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