14 de abril de 2011

Opinião - História do Cerco de Lisboa

Título: História do Cerco de Lisboa
Autor: José Saramago
Editora: Editorial Caminho

Sinopse:
"«Há muito que Raimundo Silva não entrava no castelo. Decidiu-se a ir lá. O autor conta a história de um narrador que conta uma história, entre o real e o imaginário, o passado e o presente, o sim e o não. Num velho prédio do bairro do Castelo, a luta entre o campeão angélico e o campeão demoníaco. Raimundo Silva quer ver a cidade. Os telhados. O Arco Triunfal da Rua Augusta, as ruínas do Carmo. Sobe à muralha do lado de São Vicente. Olha o Campo de Santa Clara. Ali assentou arraiais D. Afonso Henriques e os seus soldados. Raimundo Silva ""sabe por que se recusaram os cruzados a auxiliar os portugueses a cercar e a tomar a cidade, e vai voltar para casa para escrever a ""História do Cerco de Lisboa"". Uma obra em que um revisor lisboeta introduz a palavra ""não"" num texto do século XII sobre a conquista de Lisboa aos mouros pelos cruzados.» (Diário de Notícias, 9 de Outubro de 1998)"

Opinião por Isabel Azevedo:
Raimundo Silva sempre foi um revisor editorial dedicado, imparcial e competente… pelo menos até ter sido encarregue de rever o ensaio histórico “História do Cerco de Lisboa”, o livro que alterou radicalmente a sua vida. Já terminado o trabalho, não consegue resistir a um inesperado e irracional impulso de colocar a palavra “não” na frase “os cruzados auxiliaram as tropas de D. Afonso Henriques na conquista de Lisboa aos mouros”. Descoberta a sua falha, a editora propõe-lhe que reescreva a história da conquista da cidade com base nessa premissa: os cruzados não auxiliaram os portugueses. Assim, a acção vai alternando entre o século XII e a actualidade.

Adorei o livro! Parte de uma ideia bastante original: o narrador mostra-nos as consequências que um simples "não" escrito por impulso tem, não só na Historia de Portugal, como na vida da personagem principal. O enredo está magnificamente construído, articulando-se na perfeição os dois planos da narrativa.

Este livro é uma das provas de que é um mito a ideia normalmente difundida de a escrita de Saramago ser densa e complexa. Está pontuado de diálogos e situações simultaneamente hilariantes e susceptíveis de reflexões profundas. A forma como está escrito, repleto de ironias, é maravilhosa, bem dentro do estilo de Saramago. Este toque humorístico de sátira que Saramago sempre confere às suas obras, fez-me gostar ainda mais da história.

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