10 de março de 2011

Opinião - A Senhora de Shalador


Título: A Senhora de Shalador
Autor: Anne Bishop
Editora: Saída de Emergência

Sinopse:
Durante longos anos, o povo de Shalador suportou as crueldades das Rainhas corruptas que reinavam, proibindo tradições, punindo quem se atrevia a desafiá-las e forçando muitos à clandestinidade. Pese embora os refugiados tenham encontrado abrigo em Dena Nehele, nunca conseguiram considerar esse lugar como a sua terra.
Agora, depois da aniquilação dos Sangue deturpados de Dena Nehele após a purificação, a Rainha de Jóia Rosa, Senhora Cassidy, assume como seu dever restaurar a terra e dar provas das suas capacidades como soberana. Ciente de que para assumir tal tarefa irá precisar de todo o ânimo e coragem que conseguir reunir, invoca o poder dentro dela que nunca fora posto à prova, um poder capaz de a consumir caso não consiga controlá-lo.
Ainda que a Senhora Cassidy sobreviva à sua prova de fogo, outros perigos a aguardam. Pois as Viúvas Negras descortinam nas suas teias entrelaçadas visões de algo iminente que irá mudar a terra - e a Senhora Cassidy - para sempre.

Opinião por Cat SaDiablo:
A história deste livro passa-se logo a seguir aos acontecimentos de Aliança das Trevas. Cassidy é Rainha de Dena Nehele, com um contrato de apenas um ano de experiência. Este povo muito fragilizado e maltratado está tão sedento de uma boa Rainha como a própria terra. Depois de ter recuperado o tesouro de Lia, a antiga Rainha de Jóia Cinzenta do território, Cassidy conquistou a simpatia e a confiança da sua corte e dos habitantes da sua casa. Esta Rainha de Jóia Rosa está gradualmente a demonstrar a sua capacidade de fazer renascer Dena Nehele, quer junto dos Sangue e dos plebeus da povoação de Grayhaven como também junto dos Sangue influentes do resto do território. Mas nem todos sentem que Cassidy possa fazer a diferença, e existem aqueles que sobreviveram à purificação dos Reinos mas que contêm em si uma semente de perversidade e da deturpação dos Sangue. Essa semente pode encontrar terreno para germinar no coração de uma jovem e insegura Rainha, e destruí-la se esta não for protegida.

Sou uma fan incondicional de Anne Bishop. O seu mundo das Jóias Negras arrebatou-me de forma inesperada e irregovável desde Filha do Sangue, e estas personagens e o seu negro mundo nunca mais me largaram. Para quem já leu a trilogia das Jóias Negras, é fácil perceber que sou uma apaixonada por este mundo e as suas personagens. Basta atentar no próprio nick que escolhi para me apresentar: SaDiablo. É um nome que traz tanto significado. É o nome da minha personagem favorita desta autora, e é o nome da minha segunda personagem favorita, e também (com uma ligeira variação) da minha terceira personagem favorita. A minha quarta personagem favorita não se chama SaDiablo devido a um acontecimento que é desvendado na trama da trilogia, mas é filho da favorita e irmão da terceira. Confuso? Para os estreantes no mundo fascinante de Anne Bishop, cedo percebem que esta é uma família a ter em consideração, e que aprenderão a amar. Para os já convertidos, desafio-vos a adivinhar as minhas preferências. Mas adiante... É sem dúvida uma das minhas autoras favoritas (só perde para Juliet Marillier) e aguardava com expectativa este A Senhora de Shalador.

Apesar da minha devoção a esta autora, foi a muito contragosto que me tive de admitir não ter gostado tanto de alguns dos últimos livros publicados. Em Jóia Perdida achei que muito do potencial da história ficou por terra, e nem o protagonismo da fantástica Surreal e do rebenta-paredes Lucivar, ambos sempre deliciosos, conseguiu trazer o livro ao nível que Bishop nos tinha vindo a habituar. Com Sebastian e Belladona, Bishop apresenta-nos todo um novo universo, Efémera. E apesar de serem livros que gostei imenso e me terem agarrado do início ao fim, não me arrebataram como as Jóias Negras (que estão por si só num patamar muito elevado de comparação). O Anel Oculto apresenta-nos acontecimentos fora da série temporal dos anteriores das Jóias Negras, e apesar de ser um excelente livro, não evitei sentir saudades das personagens que tanto adoro. É no seguimento deste que surge Aliança das Trevas, com novas personagens principais, mas um protagonismo partilhado com o clã SaDiablo e companhia, e devo dizer que isso fez toda a diferença.

E assim chegamos a este A Senhora de Shalador, continuação directa do anterior. O melhor elogio que posso fazer a este livro é que me fez regressar ao mundo das Jóias Negras de uma forma tão arrebatadora como já não acontecia desde a trilogia e Teias de Sonhos. Uma Anne Bishop da qual já sentia saudades e que tem em mim um efeito de droga. Este livro deixou-me ao mesmo tempo saciada e exultante, com vontade de ter mais; para logo a seguir começar sofrer os terríveis efeitos de abstinência com o esgotar da dose. Li-o em dois dias, com direito a noitadas e olheiras consideráveis no dia seguinte.

A história desta nova Rainha, da sua corte e do seu povo cativou-me e fez-me ler noite adentro. As novas personagens, densas e tão interessantes como as já conhecidas conquistaram-me. Os Parentes fizeram-me rir e quase chorar. A malvadez e a deturpação dos vilões, e a estupidez e cegueira daquele que não é vilão no coração fizeram-me virar páginas furiosamente para ler mais. E claro... as minhas personagens favoritas agarram-me em todos os capítulos em que surgem. Um balão de oxigénio que eu mal conseguia largar, um pedacinho mais desta droga que me faz rir tanto como faz chorar. Matei algumas das saudades destas pessoas que não existem, e fiquei com muitas mais. Talvez seja impressão minha, mas creio que detectei na escrita sentimentos semelhantes da própria autora, como se cada linha escrita acerca de Jaenelle, Daemon, Lucivar, Saetan, Deamonar, Draca e Karla (Beijinho, Beijinho) fosse um presente auto-imposto. Como se a autora sentisse tanto prazer a escrever sobre este mundo, como nós a ler. E tanto carinho e adoração pelas suas criações como os seus leitores mais fieis.
Acredito mesmo que assim seja, e recomendo sem qualquer reserva este livro a leitores de Anne Bishop, mesmo aqueles que se desligaram um pouco da autora. E recomendo também, e recomendo sempre, àqueles que ainda não conhecem esta autora que não percam tempo. Não é um tipo de leitura para todos os gostos, e há quem recomende apenas a estômagos fortes, mas é sem dúvida um universo arrebatador e apaixonante.

Deixando apenas umas notas finais, positivas e negativas (que este testamento já vai longo). Mais uma vez uma capa muito bonita e apelativa, e uma excelente tradução da Cristina Correia, como tem sido hábito!
Por outro lado, além do enorme azar que tiveram com a exclusão inadvertida de um capítulo da história, é impossível não reparar no pobre trabalho de revisão que este livro foi alvo. Para aqueles que, como eu, não perdoam uma dose considerável de gralhas, exorto-vos a ignorá-las e prosseguir a leitura, que recompensa os pequenos erros. Não é nada comum no trabalho desta editora, que nos tem proporcionado livros com excelente qualidade gráfica e edições muito boas, por isso esperemos que este livro tenha nos próximos tempos uma nova edição com as devidas correcções.

O melhor: Um excelente regresso ao universo das Jóias Negras.
O pior: Os problemas de nível gráfico que têm assolado esta edição, mas que acabam por não ensombrar a qualidade do livro.

5/5 - Excelente!

1 comentário:

Cat SaDiablo disse...

Olá! Para quando o resultado dos passatempos? :)