3 de março de 2011

Entrevista a Hugo Girão


Biografia:
Filho de Fernando Girão (músico, compositor, produtor), nasce em Lisboa no dia 10 de Novembro de 1975.
Desde cedo evidencia interesse pela arte, principalmente a música, devido à profissão de seu pai, de seu avô, Fernando Freitas, já falecido, guitarrista de Amália Rodrigues, e de sua avó, Maria Girão, brasileira de Salvador da Baia, filha de portugueses e grande intérprete de Fado, também ela já falecida.
Com onze anos vai viver para Madrid, junto de seu pai e é nesta altura que começa a escrever os seus primeiros textos. Desde então nunca mais parou de escrever.
Sonha em ser cantor e compositor como seu pai. Participa junto deste em vários espectáculos ao vivo, o que o leva a pensar sériamente numa carreira. Aos vinte anos e vivendo em Lisboa desde os quinze, compõe musica para o seu primeiro álbum, com produção do seu progenitor, visto sentir-se plenamente identificado com o trabalho SÉRIO desenvolvido por este, apesar de nunca sair para o mercado. A insegurança da profissão de seu pai fazem com que dê um passo atrás nas suas aspirações.
Casa-se aos vinte anos e decide ir viver para Algarve, em Loulé, onde conhece a associação cultural Casa da Cultura de Loulé ( CCL, http://ccloule.com/web), onde conhece a sua paixão pelo teatro amador. ” Suquetes de Karl Valentin e outros”, O meu Pequeno Principe”, adaptação de “O Principezinho” de Exuperry, onde interpreta o papel de aviador, “As minhas asas”, escrita em colaboração com Ana Paula Sousa, adaptando algumas crónicas de António Lobo Antunes, são alguns dos trabalhos nos quais participa como actor, encenador e autor de algumas das composições.
Com esta associação não perde o contacto com a boa música, devido ao facto de esta organizar um dos festivais de Jazz mais importantes do país, o Festival Internacional de Jazz de Loulé, onde conhece grandes músicos tais como Gilad Atzmon, Joel Trolonge, Birelli Lagrene, Franco Ambrosetti, Florin Nicolescu, Johnny Griffin, Ahmad Jammal, entre outros.
No ano 2000, a convite de seu pai, participa no projecto Pirilampo Mágico, onde participou com dois dos temas que iriam ser incluidos no seu primeiro álbum., “As palavras que eu te digo” e “Tão longe mas tão próximo” .
Abandona Portugal partindo para o norte de Espanha, onde reside na cidade de Zamora. É aqui que descobre, através da Internet, a sua amiga Anna Muller, que o anima a escrever para alguns grupos de todo o mundo. É assim que conhece o projecto Poemar.com e posteriormente o projecto Abrali.com onde edita alguns de seus textos e onde participa em duas antologias literárias, “Terra Lusiada” e “Cantos do Mundo”.
Entretanto conhece uma professora de teatro argentina, Valia Percik, que o anima a escrever em narrativa, visto identificar-se com alguns dos seus trabalhos. Isto, conjuntamente com a leitura de vários livros, em particular ” O Cavaleiro da Armadura Enferrujada “, de Robert Fischer, entre muitos outros, levam-no a escrever o seu primeiro livro chamado “O Rei e o Homem Que Já Tinha Sido”, através da Papiro Editora, comentado por Helena Torrado ( escritora), Ricardo Carriço (actor, encenador de teatro) e Cláudia Cadima (actriz), lançado no El Corte Ingles de Lisboa, no dia 29 de Novembro do ano 2006 apresentado pelos mesmos.
Em finais de 2007 edita com a Fronteira do Caos o livro “O Silêncio das Almas”, em co-autoria com Isabel Fontes e em Janiero de 2009, com a mesma editora, mas em solitário, o romance O SiLêncio dos Teus Olhos”, livro que tem dado que falar nos mais diversos recantos da Internet.


Entrevista:

Começaste a escrever com que idade?
Desde cedo, devido à profissão do meu pai, queria ser artista. Quando este se mudou para Madrid, à procura de outras oportunidades (finais dos oitenta, princípios dos noventa), quando tinha onze anos, criou o “Trabalho Intelectual”, que consistia em apresentar todas as quintas-feiras da semana um poema, uma musica, um guião, o que quer que fosse. O único limite era a imaginação. Ainda me lembro que o meu primeiro texto falava sobre o Rambo na selva à procura de uma cabana, apesar de que na escola primária, a Escola 29(e lembrei-me deste texto hoje, Domingo 28-11-2010), escrevi uma peça de teatro de fim de ano sobre o agente secreto 007, que acabou por não ser escolhida.

Como surgiu o sonho de escrever um livro?
Devido às dificuldades da vida do meu progenitor (Fernando Girão), decidi afastar-me de tudo o que tivesse que ver com a arte, mas nunca parei de escrever. Com vinte anos compus oito temas para o que seria o meu primeiro disco mas o medo, a incerteza, a falta de maturidade e outros tantos factores de carácter pessoal fizeram-me abandonar essa ideia. Mesmo assim, nunca abandonei a vontade de escrever, quer fosse em prosa ou em verso. Devido à crise que se instalou no país, abandonei Portugal em 2004 e fugi para Espanha onde conheci a Internet, grupos de poesia(Poemar.com e Abrali.com) e gente que me animou a escrever como forma de vida( Anna Muller, Celso Brasil), apesar dessa vontade ter explodido somente depois de conhecer Valia Percik, uma professora de teatro argentina que me deu um conselho de ouro que tento seguir à letra: escrever “sem me atar às formas”(citação textual).

Foi fácil te lançares no mundo literário?
Na vida não existem facilidades sem trabalho. Estive muito tempo à procura, muitas portas se fecharam, mas isso faz parte do processo. Procurar e encontrar alguém que acredite e aposte em ti, na condição de desconhecido, é sempre um risco para qualquer editora. Com a qualidade e quantidade de títulos existentes no mercado é preciso ter sorte, uma grande dose de paciência e muito trabalho para que um ano depois de ter iniciado a procura estivesse no mercado. Apesar de ter encontrado muitos obstáculos no caminho(ninguém disse que seria fácil), valeu a pena ultrapassá-los.

O que te levou a escrever “O Rei e o Homem que já tinha sido ”?
“O Rei e o Homem que Já Tinha Sido ” nasce da leitura de um livro lindíssimo do autor americano Robert Fischer intitulado “O Cavaleiro da Armadura Enferrujada”. Os conselhos da minha professora de teatro, a leitura deste livro e a vontade de homenagear a doutrina espiritual que professo(a doutrina espiritista ou kardecista, devido ao facto de ter sido codificada por Allan Kardec) e que tanta luz trouxe à minha vida, originaram a história da viagem de um rei que parte em busca de algo valioso que julga perdido, recordando ensinamentos adormecidos de valores nobres enquanto rei e homem.

Onde vais buscar a tua inspiração?
Vivo a vida de forma intensa e isso nota-se no meu carácter. Um sorriso, uma palavra, um gesto, um sonho, uma pedra, uma criança, um ensinamento, um livro, um beijo, uma musica, uma frase, o vento, o sol, a lua, a vida, a morte, a doença, a cura, uma discussão, amar, a tristeza, o mar, o céu em todas as suas tonalidades, a neve, a chuva, o calor; tudo o que me rodeia, o mau e o menos bom, é motivo de inspiração porque acredito que de tudo se aprende.

Como é o teu processo criativo? Tens algum ritual?
Tudo tem relação com a questão anterior. O meu processo criativo tem a sua génese na vida em si, ou seja, as histórias que quero contar podem estar no outro lado do mundo ou mesmo ao virar da esquina, daí levar sempre comigo um caderno e uma caneta. O meu único ritual resume-se a duas simples necessidades: uma banda sonora de acordo com o que quero escrever(sou filho e neto de músicos, ou seja, não sei viver sem música) e grandes doses de silêncio e sossego(quer seja de dia ou de noite).

Quais são as tuas referências literárias?
Todas as que me façam crescer como ser humano.O meu pai, Fernando Girão, responsável pela minha vontade e forma de escrever, António Aleixo, Florbela Espanca, Pramoedya Anantha Toer, Haruki Murakami, Robert Fischer, o meu querido amigo Luis Filipe Sarmento, Antoine de Saint Éxuperry, Mathias Malzieu, Carlos J. Barros, João Pedro Martins, Paulo Coelho, Deepak Chopra, entre tantos outros.

Qual o teu livro preferido?
Espero que Deus me dê saúde e tempo para ler muitos livros. Escolher é uma árdua e injusta tarefa porque todos e cada um deles deixam uma marca única e diferente. No entanto, e de momento, fico com “O Principezinho”. A magia das suas palavras consegue enfeitiçar-me cada vez que o releio. Devo dizer que tenho um “fraquinho” por este livro visto ter interpretado o papel de Aviador numa adaptação que eu e os meus grandes amigos Mário Soares e Ana Paula Sousa fizemos para a Casa da Cultura de Loulé.

Qual a tua citação preferida?
Entre outras muitas- “Não faças aos outros o que não gostas que te façam a ti” e mais recentemente- “Escrevo porque sonho que um dia as minhas palavras tornar-se-ão realidade”., da qual desconheço o autor.

Qual foi o último livro que leste?
“O Ladrão de Livros” de Carlos J. Barros, da editora Fronteira do Caos.

Fala-nos um pouco de “O Silêncio dos teus olhos”.
Este livro é uma homenagem sincera às mulheres que fizeram de mim o homem que escreve estas palavras. A minha mulher, as minhas avós e todas as que, de alguma maneira, passaram pela minha vida e deixaram uma marca, por pequena que fosse. Sou dos que pensa que por trás de um grande homem existe uma grande mulher (outra citação que se identifica muito comigo). As mulheres são a personificação da força anímica aliada á força do amor sem limites...

Se tivesses de escolher uma banda sonora para acompanhar a leitura de “O Silêncio dos teus olhos” qual seria?
“Shine” e “Both Sides Now” de Johnny Mitchell, “Angel” de Sarah McLaughlin, “Mulher” de Fernando Girão, “Caracoles” e “Mare Mia” de Diana Navarro, Lara Fabian, “Against All Ods” de Phil Collins, “Lost” e “Dark Road” de Annie Lennox, entre tantas outras. Todas elas me fizeram companhia enquanto escrevia “O Silêncio dos Teus Olhos”.

Qual foi o livro que mais gostaste de escrever e porquê?
Os meus livros são como os meus filhos, cada um prima pela sua individualidade e personalidade. Cada livro revela preocupações e maneiras de sentir, algumas momentâneas e outras que perduram para o resto da vida. Cada um dos meus títulos visa transmitir um estado de espírito que creio importante partilhar. Cada frase de cada um deles é parte integrante de mim e por mais que a vida e o tempo me transmutem, serão como uma fotografia que, minuciosamente, capta um momento concreto no tempo para se tornar infinito.

Com qual das personagens te identificas mais?
Com todas, visto que em todas elas existe sangue do meu sangue.

O que podemos esperar de diferente do teu último livro em relação aos anteriores?
Tudo e nada. Todas as pessoas com quem falo(as que leram O Silêncio dos Teus Olhos e que, paulatinamente, vão tomando contacto com os outros títulos que tenho editados através dessa fantástica rede social chamada Facebook), dizem a mesma coisa: escrevo com alma. Isso é algo que eu não quero que seja diferente nunca. Apesar de seguir o conselho de Valia Percik, ou seja, não atar-me às formas, o meu último trabalho, ainda em fase de construção, é um romance. A diferença em relação aos meus romances anteriores é que, desta vez, fala sobre o amor sob a perspectiva de dois adolescentes que se apaixonam.

Quais são os teus planos e objectivos para o futuro?
Continuar a escrever “sem atar-me às formas”, ter saúde para o fazer, que “Os Meninos do Vento”(livro infantil com cariz solidário) veja a luz em breve, recuperar-me rapidamente da cirurgia ao pâncreas a que vou ser submetido antes do Natal, ter saúde para ver os meus filhos crescerem e desfrutar da companhia dos meus, poder continuar a partilhar o carinho com todos os que estão do outro lado do monitor, e que os meus Guias não me abandonem e me permitam continuar a dispor da inspiração suficiente para fazer aquilo que mais gosto: ter a capacidade de criar histórias e transformá-las em livros que vos toquem a alma e vos ajudem a sonhar com um mundo melhor...

Gostaria, se me permitisses, de mostrar o meu mais profundo agradecimento à minha actual editora, a Fronteira do Caos, representada por Carla Cardoso e Victor Raquel. Pelo esforço com que têm trabalhado no sentido de dar oportunidade aos novos autores que, como eu, procuramos um lugar nas estantes das livrarias. É, neste momento, em Portugal, a editora que mais arrisca na promoção de novos projectos e talentos. Por isso, e pelo respeito com que sempre fui tratado(os livros da chancela Fronteira do Caos são também distribuídos em Moçambique, Angola e Brasil), mostrar-lhes o meu mais profundo agradecimento por apostarem em mim, esperando estar sempre à altura dos acontecimentos.

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