5 de novembro de 2010

Entrevista a Samuel Pimenta

É com uma enorme alegria que esta semana vos trago mais um jovem autor, desta vez o escolhido só podia ser o Samuel Pimenta.


Sobre o autor:
Samuel Pimenta, com 10 anos começou a escrever em prosa, com 13 em poesia e com 14 aventurou-se no texto dramático. Tem como referências poetas e escritores como Fernando Pessoa e heterónimos, Luís de Camões, Almeida Garrett, Florbela Espanca, Miguel Torga, Paulo Coelho, Eça de Queirós, J. K. Rowling, Sophia de Mello Breyner Andresen, Hermann Hesse, Erasmo de Roterdão, José Saramago, Eugénia Frazão… entre muitos outros. Para além das colaborações que fez em jornais escolares, também viu alguns poemas e textos seus publicados em jornais regionais. É beneficiário da Sociedade Portuguesa de Autores desde Fevereiro de 2006. Em Junho de 2007, viu-se classificado em 2.º lugar num concurso de escrita realizado no âmbito da inauguração da Biblioteca Municipal Dr. Hermínio Duarte Paciência, em Alpiarça. Actualmente, estuda na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, integrando o curso de Ciências da Comunicação. Para além da escrita dedica-se, também, ao Reiki. Encontra-se, presentemente, a trabalhar no segundo volume da Trilogia Heros, O Escolhido.


Perguntas:

Começaste a escrever com que idade?
Lembro-me que escrevi o primeiro texto em prosa, o meu primeiro conto, com 10 anos. Foi precisamente com essa idade que “oficializei”, digamos, a minha aspiração em ser escritor. A partir de então, nunca mais parei! Com 13 anos iniciei-me na poesia e, com 14, no texto dramático. E confesso que “escrever” já está tão entranhado em mim que já é difícil ignorar esse meu lado. Sendo mais preciso, escrever tornou-se, com o passar do tempo, uma das minhas necessidades básicas de sobrevivência.

Como surgiu a ideia de escrever “O Escolhido”?
Sempre fui uma criança muito fantasiosa. Cresci com a minha mente povoada por personagens e seres fantásticos, por mundos estranhos e sociedades mágicas, fantasias essas que acabava por aplicar nas minhas brincadeiras de miúdo.
“O Escolhido” surgiu da necessidade que eu tinha em materializar o lado mais fantasioso e surreal da minha imaginação. Dei por mim a organizar uma sociedade diferente daquela em que estamos inseridos, num mundo diferente daquele a que estamos habituados. Surgiu Incantatus, o conceito de Monarquia-Democrática, a cidade de Cantio. Surgiu o Heros, o Ralph, a Angelina. Surgiram as Seis Chaves de Cristal. Surgiram os trux, os mentari, os dragers, os veneficus… As ideias foram aparecendo por si mesmas; percebi que, estando perante um novo mundo, com uma sociedade própria, teria de criar uma História que sustentasse tudo isso, leis que mantivessem essa sociedade em funcionamento… Tive de tornar credível esse novo mundo que tinha (e tenho) dentro da minha imaginação. E então, só depois de ter o Mundo Incantatus bem estruturado, é que avancei para a escrita do primeiro volume da trilogia.

Onde vais buscar a tua inspiração?
Seria descabido da minha parte dizer que vou buscar a minha inspiração apenas a um lugar. Na realidade, são vários os meios onde busco inspiração. No caso d’ “O Escolhido”, a música teve (e continua a ter) um papel crucial. Falo mais de bandas sonoras ligadas ao género fantástico e a épicos, mas também de música celta, étnica e clássica. Os filmes que vejo e os livros que leio também me inspiram para a escrita. E a Natureza, a magia da Natureza, que me encanta desde que me conheço como gente!
Acima de tudo, deixo-me inspirar pela Vida, pelas pessoas, não só na escrita de ficção, mas também na produção poética.

Como é o teu processo criativo? Tens algum ritual?
Quando comecei a escrever os meus pequenos contos, escrevia à mão. Entretanto, dado o tempo que demorava a passá-los para formato digital, optei por começar a escrever ficção directamente no computador. É mais rápido e mais funcional! No entanto, ando sempre com um bloco para o caso de precisar de tomar nota de alguma ideia pertinente que surja.
Quando escrevo ficção, começo com uma ideia inicial e uma ideia final, tenho noção de como quero começar e terminar a história, assim como de alguns acontecimentos importantes pelo meio, mas o desenrolar da trama surge no momento da escrita. E o mesmo se aplica às personagens: umas já as conheço e sei qual o seu percurso na história, outras vão surgindo.
Já com a poesia, a situação é diferente. Como disse, ando sempre com um bloco, o mesmo onde tiro algumas notas, mas cuja finalidade é, acima de tudo, escrever poesia. Desde os 13 anos que é sempre o mesmo tipo de bloco. E a caneta também é especial! É óbvio que, se precisar muito de escrever um poema e, por alguma razão, não tiver comigo o meu bloco e a minha caneta, escreverei o poema com outra caneta e noutro suporte, mas confesso que tenho este hábito, do qual já não prescindo.
Quando escrevo poesia, tanto posso escrever na base do impulso, como na base do mais racional ou do mais emocional. Por norma, ouço música quando escrevo neste género e, quando a inspiração surge, a vontade de satisfazer a necessidade de a materializar no papel é abismal. Daí escrever poesia em qualquer lugar, seja no café, no banco de jardim, no quarto, no comboio… O mesmo já não acontece quando escrevo em prosa, necessitando do recato do meu quarto (por norma) para me poder concentrar.

Já sabemos que durante o teu percurso literário escreveste prosa, poesia e até texto dramático, mas o que queremos saber agora é mesmo qual é o género que mais gostas de escrever e porquê.
Não posso dizer que tenho um género literário preferido para escrever. Todos eles são diferentes e todos têm um lado apaixonante. A prosa dá-me possibilidades diferentes da poesia e vice-versa, aplicando-se o mesmo ao texto dramático. Enquanto que, escrevendo em prosa, tenho noção de que o que estou a escrever é para ser lido, quando se escreve um texto dramático há a noção de que aquele texto servirá para, um dia, ser vivido pelas personagens em palco, através dos actores. E, com a poesia, posso focar o Sentir, as emoções que nela estão implicadas. Mas o engraçado de tudo isto é que, se apreciarmos bem, as possibilidades dos vários géneros literários podem cruzar-se e abrir, para quem escreve, um leque infindável de oportunidades.
Em poucas palavras, gosto de escrever. E isso basta-me.

Encontras-te de momento a escrever o segundo volume da “Trilogia Heros, O Escolhido”. O que podemos esperar de novo deste teu novo livro em relação ao anterior?
Na realidade, já o terminei. E posso dizer-vos como se irá intitular: “O Escolhido e os Templos da Loucura”.
Quanto à questão, penso que podem esperar mais acção, mais mistério, mais simbolismo, mais obscuridade e misticismo, mais maturidade na escrita e nas personagens. Com este segundo volume, algumas das questões levantadas no primeiro volume serão desvendadas. E prometo algumas surpresas, boas e más. Tem início a busca pelas Seis Chaves de Cristal que, estando espalhadas pelos diversos continentes, obrigarão o Heros e os seus amigos e companheiros de viagem a partirem numa aventura por terras onde, claro está, a magia e o perigo estão presentes. É um livro que me deixa satisfeito, gosto muito do resultado final.

Quais são as tuas referências literárias?
Ainda são algumas! Umas, inspira-me a sua obra literária. Outras, para além da obra, inspira-me o percurso de vida que levaram ou ainda levam. Posso começar por enunciar Fernando Pessoa e heterónimos, Luís de Camões, Almeida Garrett, Florbela Espanca, Miguel Torga, Paulo Coelho, Eça de Queirós, J. K. Rowling, Sophia de Mello Breyner, Hermann Hesse, Erasmo de Roterdão, José Saramago, Eugénia Frazão, Lewis Carroll… Olho todos estes nomes com o máximo respeito e reverência. São, sem dúvida, mestres da Literatura!

Qual o teu livro preferido?
Destacar apenas um livro como o meu preferido é muito complicado para mim, pois, tal como as referências literárias, os livros que considero verdadeiramente marcantes para a minha vida são vários. Mas posso destacar três, que estão, no que toca a preferência, ao nível dos outros que não irei mencionar: “O Perfume”, de Patrick Suskind; “Siddhartha”, de Hermann Hesse; e “O Mundo de Sofia – Uma Aventura na Filosofia”, de Jostein Gaarder.

Qual a tua citação preferida?
Confesso que é muito raro decorar passagens dos livros ou poemas que leio, daí ser difícil destacar uma citação. Mas talvez possa enunciar uma citação que está muito relacionada com o segundo volume da trilogia: “A loucura, longe de ser uma anomalia, é a condição normal humana. Não ter consciência dela, e ela não ser grande, é ser homem normal. Não ter consciência dela e ela ser grande, é ser louco. Ter consciência dela e ela ser pequena é ser desiludido. Ter consciência dela e ela ser grande é ser génio.” É de Fernando Pessoa. E estou totalmente de acordo!


Qual foi o último livro que leste?
O último livro que li foi, precisamente, o último livro que me faltava ler de uma das minhas referências. Foi “O Vencedor Está Só”, de Paulo Coelho.

Se tivesses de escolher uma banda sonora para acompanhar a leitura de “O Escolhido”, qual seria?
Escolheria a música de Immediate Music.

Em que mudou a tua vida desde a publicação do teu primeiro livro?
Eis uma questão que nunca coloquei a mim mesmo! E, agora que penso nisso, para ser sincero, não mudou nada. Continuo a ser a mesma pessoa de sempre, continuo a ter as mesmas amizades, os mesmos gostos, as mesmas ambições. Continuo a fazer a minha vida da mesma forma que fazia antes de ter o livro publicado, apenas com uma ligeira diferença: o ter consciência de que, por fim, já tenho um livro nas bancas e que dei um passo importante na concretização do que tanto quero: ser escritor.
É óbvio que, ao ter um livro no mercado, passei a ser requisitado para apresentações em livrarias e escolas, o que acaba por trazer algumas mudanças na minha vida. No entanto, encaro tudo com muita normalidade.
Penso que continuo a mesma pessoa, só muda o facto de, em vez de ter “O Escolhido” em casa, com uma encadernação caseira, tenho-o à venda nas livrarias, à disposição de quem o quiser ler.

Já foste abordado na rua, ou por outro meio, por algum fã?
Com a era digital, o contacto com os leitores tornou-se muito mais fácil. Sou muito abordado na página da trilogia, no Facebook, assim como nos dois blogs que tenho. Sinto-me muito acarinhado e apoiado pelos leitores e isso acaba por ser muito reconfortante. Por vezes, são os comentários deles que me trazem ânimo. Aproveito para lhes agradecer, “Muito Obrigado”!

No dia 19 de Agosto, foste ao programa “Você na tv!”, como foi essa experiência?
A ida ao programa foi óptima para a divulgação do livro. A televisão é um meio de promoção muito cobiçado e conseguir chegar-lhe, pela segunda vez, foi importantíssimo para mim. Para além da oportunidade de promover o meu trabalho, valeu pela experiência de voltar ao “Você na TV”, que tão bem trata os seus convidados. E ter a oportunidade de falar, em televisão, daquilo que tanto me realiza, sabendo que estou a chegar a mais pessoas, só pode ser uma óptima experiência.

É um sonho ver os teus livros traduzidos além-fronteiras?
É. Quando escrevo, para além de escrever para mim, escrevo, também, para os outros. Conseguir ver os meus escritos traduzidos e vendidos além-fronteiras será o concretizar, ao máximo, do sonho de fazer com que o que escrevo esteja à disposição do maior número de pessoas. Vivo em Portugal, sou português e tenho noção dos obstáculos que existem. Mas também me corre nas veias o sangue dos portugueses conquistadores de novos mundos, dos portugueses audazes de outrora. Se em tempos foi possível levar Portugal mais longe, hoje não será diferente. Não tenho medo de lutar, estou habituado a fazê-lo.

Quais são os teus planos e objectivos para o futuro?
Quero continuar a escrever. Não consigo viver sem escrever. Para mim, escrever é como respirar. Melhor dizendo, respirar é como escrever. Quando terminar a trilogia, tenciono deixar o género fantástico e partir para novas aventuras em prosa. Não digo que não volte a escrever fantasia, talvez o faça no formato de conto infantil, mais tarde. Mas, assim que terminar o projecto que tenho em mãos, focar-me-ei num género distinto do fantástico. Tenho imensas histórias que quero contar, imensas personagens na minha imaginação com quem convivo diariamente. Quero materializá-las em livro, trazê-las à vida e colocá-las à disposição de quem as quiser conhecer também. Tenciono escrever para um público mais adulto. Para além disso, quero publicar em poesia. E ainda quero escrever, pelo menos, um teatro do princípio ao fim.
Assumo, sem qualquer receio, que quero viver da escrita. Sei que é difícil, sei que tenho de batalhar muito e de enfrentar muitas adversidades, mas não é impossível. Como disse, sou português! Em tempos fomos guerreiros e trouxemos ao mundo conhecido novas terras desconhecidas. Inspiro-me nesses heróis de outrora, nos valores que me foram ensinados e no sonho de querer ser, um dia, um escritor reconhecido. Suportado pelos pilares “família”, “amigos” e “leitores”, acredito que será possível, mas ainda há muito para ser aprendido. Ainda tenho uma longa viagem pela frente.
Todos temos um caminho próprio para percorrer. Escrever é o meu caminho.

2 comentários:

Priscila disse...

Gostei muito deste post, é bom ter conhecimento destes prodigios da natureza. Eu com 10 anitos só queria saber de Barbies e este moço já escrevia como "gente grande". Fiquei parva...
Bjs a tds.

Ana C. Nunes disse...

Gostei muito de ler esta entrevista, depois de hoje ter ido à apresentação do autora no Porto.