3 de outubro de 2010

Entrevista a Fábio Ventura


É com grande prazer e orgulho que vos trago a primeira entrevista da D´Magia na área de Literatura. Abrimos, assim esta rubrica, com uma entrevista a Fábio Ventura, o autor da Saga Orbias, que lançou no passado dia 6 de Setembro a sua segunda obra “Orbias - O Demónio Branco”. Editado pela Casa das Letras (Grupo LeYa), esta obra de fantasia vem dar continuação à história iniciada no seu primeiro livro “Orbias – As Guerreiras da Deusa”, que tantos leitores angariou. Muito do seu sucesso deve-se à grande actividade do autor nas redes sociais, especialmente na actualização do Blog (http://orbias-asguerreirasdadeusa.blogspot.com/), do Facebook, à criação de vídeos e à publicação de contos gratuitos.


Sobre o autor:

Fábio Miguel Ventura nasceu em 1986 em Portimão, terra onde cresceu. Licenciou-se em 2008 em Ciências da Comunicação pela Universidade do Algarve. O gosto pelo fantástico e pela escrita levaram-no a enveredar por esta área. Orbias é a sua obra de estreia.


Entrevista:

Como surgiu a ideia de escrever um livro?
A ideia de escrever um livro surgiu durante a faculdade. Eu sempre gostei de criar histórias, mesmo quando era mais pequeno. Depois, durante a faculdade, quando comecei mesmo a praticar a escrita, comecei a ganhar um gosto especial por ela e foi aí que decidi escrever um livro, criar um projecto, desafiar-me a mim próprio. Foi um processo muito engraçado e compensador. Engraçado porque me estava a dar prazer escrever um livro e compensador porque gostei do resultado final, tive a sensação de “missão cumprida”. A partir daí começou outra fase: a de enviar o livro para as editoras para avaliação

Começaste a escrever com que idade?
A escrever histórias a sério foi aos dezanove anos.

Foi fácil te lançares no mercado da literatura?
Aos dezanove anos, escrevi uma primeira versão do Orbias, mas ainda estava muito fraca na minha opinião. Aos vinte e dois anos, voltei a pegar no livro e reescrevi-o. Foi uma mudança de 200%. A minha escrita tinha amadurecido e consegui melhorar o livro, apercebendo-me que naquela altura ele estava pronto para ser enviado para as editoras, que foi o que fiz. Logo após os primeiros emails enviados, recebi uma resposta da Casa das Letras. Tendo em conta esta segunda fase, não foi complicado, foi mais uma questão de (muita) sorte.

O que dirias a alguém que sonha em se estrear neste mundo?
Antes de mais é preciso ter muita persistência e força de vontade porque é um mercado muito demorado e silencioso. Demorado porque as editoras demoram muito tempo a dar respostas. E silencioso porque as editoras muitas vezes não respondem aos emails enviados, nem positiva nem negativamente. É preciso também ler muito, tentar ler o máximo de géneros e estilos para se saber o que já foi feito e o que se pode fazer, e também para se apurar a própria escrita. E, claro, é preciso escrever muito, há que se practicar para exercitar, para melhorar a escrita. Depois é a melhor parte que é o exercício da imaginação, criar histórias, e isso passa também por ver filmes, ler livros, jogar videojogos, dar passeios, ver arte... porque devemos pegar em tudo o que mexe com a nossa imaginação, tudo o que faz florescer qualquer coisa dentro de nós.

Onde vais buscar a tua inspiração?
Eu não vou buscar inspiração a coisas específicas. Tento fazer coisas que gosto e que me inspiram, que mexem com a minha inspiração. Por exemplo, como tinha dito na pergunta anterior, ver filmes, séries, jogar videojogos, ver arte.. Basicamente, vou buscar inspiração a tudo o que tiver qualquer coisa para me contar, a qualquer coisa que eu consiga pegar e criar uma história a partir daí.

Como é o teu processo criativo? Escreves conforme a tua inspiração ou és mais metódico?
Escrevo conforme a inspiração. Não sou daqueles autores que planificam e têm tudo esquematizado. Gosto mais de partir de uma ideia inicial e escrever a partir daí, até para as coisas ficarem mais fluidas e espontâneas. De certa forma, é como se as personagens tivessem um daqueles balões de fala e estivessem a contar a história através de mim.

De onde nasceu o titulo Orbias?
Curiosamente o título foi a última coisa que nasceu. Primeiro escrevi o livro. Sabia que queria criar um título original, que ainda não existisse, e como a história se baseia em magia e existem objectos esféricos mágicos (orbes), acabei por pegar nessa denominação e adaptei-a para o nome do mundo.

Porque é que os nomes das personagens não são em português?
A verdade é que tenho sempre muita dificuldade em encontrar nomes para as personagens e os locais. Além disso, não queria nomes comuns e os nomes portugueses para mim eram muito comuns. Acabei por pesquisar alguns nomes e escolher estes, tendo todos eles uma simbologia por detrás. Depois também tentei dar um tom internacional ao livro. Não quis que fosse um livro só de um autor português, mas que também fosse um livro que pudesse concorrer com livros de outros autores estrangeiros que temos cá.

De todas as personagens, qual é a que mais se parece contigo?
A personagem mais parecida comigo é a Noemi, apesar de todas as personagens terem um bocadinho de mim. Isto também se deve ao facto do livro ter sido escrito na primeira pessoa, o que fez com que fosse inevitável que a personagem principal acabasse por ter muitos traços da minha personalidade. Por outro lado, a personagem masculina, o Sebastian, representa aquilo que eu gostava de ser, uma espécie de alter-ego.

Se pudesses ter um poder qual seria?
Se pudesse ter um poder seria o poder da Noemi, o poder da Omnisciência, porque sou muito curioso em relação à vida em geral, quero sempre saber mais sobre o mundo, sobre aquilo que nos rodeia. E o facto de conseguir concentrar tanta sabedoria sobre o mundo seria muito interessante. Além de que também é um poder mais inofensivo em relação ao das outras guerreiras. E confesso que também era giro conseguir voar, já que a Noemi se transforma em Anjo.

Quem escolhe as capas dos teus livros?
Basicamente é uma decisão de grupo. A editora tem uma designer que foi a autora das minhas duas capas. É ela quem faz as propostas, que depois são aprovadas por um conjunto de pessoas incluído eu próprio. Felizmente tive boas capas e foram logo as primeiras propostas a ser aceites.

O que podemos esperar de novo deste teu novo livro em relação ao anterior?
Podem esperar uma melhoria da escrita e da história. Relativamente ao primeiro livro da saga Orbias, tive um conjunto de criticas literárias que me apontavam falhas. Neste livro tentei ter atenção a essas mesmas falhas e melhorá-lo. Este novo livro também é mais negro e mais maduro. Introduzi muitas ideias novas em relação ao primeiro, ideias mais originais. E quem gostou do primeiro livro vai certamente gostar e ficar bastante surpreendido, especialmente com o destino e o desenvolvimento de cada uma das personagens. O primeiro livro foi, de certa forma, mais para apresentar as personagens e o mundo de Orbias, o contexto da própria história, e este segundo livro acabou por ser mais para desenvolver cada uma das personagens e as relações entre elas.

A contra-capa do “Orbias - Demónio Branco” traz a novidade de ter uma selecção de citações de blogues que leram o "Orbias - As Guerreiras da Deusa". De onde surgiu esta ideia?
A sugestão foi da minha editora e eu achei que foi uma excelente ideia porque é algo que os livros estrangeiros fazem imenso e que tem um efeito muito positivo a nível comercial. Os leitores, quando se apercebem que o outro livro foi bem sucedido e teve bons comentários, ficam realmente interessados e mais seguros para comprar os livros. Fui eu próprio que procurei as citações. Fiz uma pesquisa pelos diversos blogs que tinham críticas sobre o “Orbias – As Guerreiras da Deusa”, seleccionei cerca de 10 frases e a editora fez a selecção final.

A saga Orbias fica por aqui?
A possibilidade de haver um terceiro Orbias ainda está em estudo. O “Orbias – Demónio Branco” fechou um ciclo da história. Se voltar a pegar na saga será algo novo, porque teria de iniciar um novo ciclo. De qualquer forma, tenho um projecto novo, um livro novo, também do género fantástico, embora muito diferente da saga Orbias. Agora, conforme o feedback dos leitores deste segundo livro, haverá ou não um terceiro.

Então e queres desvendar um pouco mais sobre esse novo projecto?
É um projecto que ainda está numa fase muito inicial, mas posso dizer que será um pouco mais negro que o Orbias, mais maduro também, e que terá um foco em algumas problemáticas associadas ao meu público. Desta vez, o protagonista será masculino e talvez seja escrito na terceira pessoa.

Gostarias de escrever outro tipo de livros?
Sim, mas a longo prazo. A verdade é que não é boa estratégia mudar repentinamente de género ou de estilo porque dá muito trabalho fidelizar um público, não convêm perde-lo logo a seguir. Espero ir mudando aos poucos. O meu objectivo é tornar a minha carreira o mais versátil possível, mas aos poucos e com sensatez.

Qual o teu escritor favorito?
Tenho vários, mas descobri recente o Haruki Murakami, que se tornou instantaneamente o meu autor favorito. Depois tenho o Scott Westerfeld, a Cassandra Clare e a Jennifer Armintrout, que são autores de fantasia com os quais me identifico muito e que têm um grande talento para contar histórias.

Qual o teu livro preferido?
É o “Kafka à beira-mar” do Haruki Murakami, porque é um livro muito simples na escrita, mas com uma grande complexidade e magia nas mensagens que transmite. Foi um livro que realmente me deixou a pensar em muitas coisas da vida durante muito tempo.

Qual a tua citação preferida?
Não tenho assim nenhuma favorita mas se tivesse de escolher uma acho que seria :“A sorte protege os audazes”. A sorte tem um papel fundamental nas nossas vidas, sendo que teremos sempre de arriscar e lutar para conseguir ter essa sorte.

Qual foi o último livro que leste?
Foi o “Hex Hal”, da Rachel Hawkins (Rachel Hawkins). Agora estou a ler o “Laços de Sangue 2: A Possessão”, de Jennifer Armintrout.

Se estivesses de escolher uma banda sonora para acompanhar a leitura de Orbias qual seria?
Teria de ser uma banda sonora onde tivesse temas dos Evanescence, Linkin Park, Paramore, Muse, The Killers, Staind, entre outros.

Em que mudou a tua vida deste a publicação do teu primeiro livro?
O que mudou foi que conheci muita gente nova. Como tenho duas obras disponíveis para um público também ganhei uma espécie de responsabilidade social visto que estou a escrever para “o outro”. Estou agora a começar a crescer e o meu nome está a começar a ser conhecido, tal como o do livro. Mas a minha vida não mudou drasticamente, mantém-se basicamente a mesma.

Já foste abordado na rua, ou por outro meio, por algum fã?
Fui abordado apenas uma vez. Quando estava a trabalhar no meu part-time, houve uma leitora que me reconheceu. Foi muito engraçado. Mas há uma razão para que não seja muito reconhecido: quem é famoso é o livro e não eu. E ainda bem porque eu sou muito recatado, não gosto de ser o centro das atenções nem de demasiado mediatismo.

É um sonho ver os teus livros traduzidos além-fronteiras?
É, mas não é só um sonho, é algo que gostaria mesmo que isso acontecesse. Mas é difícil. É muito complicado por causa da barreira da língua. As editoras lá fora é que ficam responsáveis pela tradução e são quem decide se devem publicar o livro ou não e não é fácil uma editora estrangeira se interessar por um livro escrito numa língua como o português. Talvez no Brasil seja mais fácil... pode ser um sonho mais real.

Quais são os teus planos e objectivos para o futuro?
Os meus planos passam por continuar a escrever e a crescer dentro do mercado literário, continuar a agradar os leitores e a surpreendê-los. Depois é conseguir uma oportunidade e crescer também profissionalmente na minha área de formação.

Se os “Orbias” fossem adaptados ao cinema que actores/actrizes gostarias de ver nos devidos papeis?
Quando escrevo, imagino sempre as minhas personagens como actores ou cantores que de facto existem. Espero que isto não influencie a imaginação dos leitores, mas gostaria imenso de ver os seguintes artistas: Amy Lee (Noemi), Brandon Flowers (Sebastian), Jessica Alba ou Eliza Dushku (Lorelei), Evangeline Lilly (Riddel), Christina Ricci (Rouge), Florence “and the Machine” (Belladonna) e uma Reese Witherspoon mais novinha (Lily-Violet).

3 comentários:

DiAleX disse...

Vou meter um link no meu fórum para esta entrevista ;)

Ana C. Nunes disse...

Esse novo projecto do Fábio parece promissor. Não é tão comum encontrar livros de fantasia na perspectiva masculina, por isso acredito que seja interessante.

Alice disse...

Parabéns aos dois!
Ao Fábio pelos seus livros e as histórias que cria; à Marta pela belissima entrevista.
Gostei :)