8 de setembro de 2020

Opinião – “A Vida Extraordinária de Copperfield” de Armando Iannucci


Sinopse

A partir da obra-prima de Dickens, A Vida Extraordinária de Copperfield traz-nos uma visão renovada e diferente da obra semiautobiográfica do seu autor. Passado na década de 1840, o filme narra a vida do seu icónico protagonista (interpretado por Dev Patel), enquanto este se movimenta num mundo caótico, na tentativa de encontrar um lugar que parece escapar-lhe. Da sua infeliz infância à descoberta do seu dom como contador de histórias e escritor, o percurso de David – ora hilariante, ora trágico – é sempre cheio de vida, cor e humanidade.

Opinião por Artur Neves

Nada de confusões, este Copperfield nada tem a ver com o “mágico” americano seu homónimo mas antes com uma obra de ficção escrita por Charles Dickens, lançada em Londres pela editora Bradbury & Evans em 1850 que narra à maneira de Dickens, com descrições rápidas e concisas sobre as características dos seus personagens, o seu próprio percurso de vida desde o nascimento até á idade adulta da publicação do livro, que viria a torná-lo reconhecido pelos leitores que começavam a aparecer numa classe de comerciantes e outros agentes sociais que deram origem ao início de uma classe média burguesa no século XIX em Inglaterra.

O livro terá sido publicado inicialmente em fascículos, entre Maio de 1849 e Dezembro de 1850, aos quais se seguiu a publicação da obra completa, escrita na primeira pessoa e relatando os seus múltiplos contactos com as pessoas que constituíram o seu círculo familiar e de amigos.

Assim encontramos, entre outros personagens, a sua mãe Clara Copperfield (Morfydd Clark) descrita como inocente mas dura, o seu padrasto cruel e violento Edward Murdstone (Darren Boyd) que após a morte da esposa e do seu filho recém-nascido, o coloca a trabalhar numa fábrica de que era o principal acionista. A fiel caseira da família Copperfield Clara Peggotty (Daisy May Cooper) que tratou dele com carinho na infância, o acompanhou pela juventude e o incentivou a tornar-se independente. A sua tia excêntrica e temperamental Betsey Trotwood (Tilda Swinton) que passou a ser sua guardiã, quando ele fugiu da fábrica de Edward Murdstone. Wilkins Micawber (Peter Capaldi) um homem sensível que estabelece uma amizade com David e o ajuda, apesar das suas imensas dificuldades financeiras, sempre perseguido pelos seus credores que reclamavam os empréstimos concedidos. Mr Wickfield (Benedict Wong) corretor e advogado da sua tia Betsey Trotwood, que acaba por lhe estropiar toda a fortuna em maus negócios decorrentes do seu vício em álcool e do seu perverso sócio Uriah Heep, (Ben Whishaw) que por intervenção de Agnes (Rosalind Eleazar) é descoberto, incriminado por fraude e preso.

David cai de paixão por Dora Spenlow (Morfydd Clark, que também interpreta o personagem de Clara Copperfield) uma menina bela e ingénua mas um pouco lerda, de pele branca e cabelos louros aos caracóis e embora sinta não ser a pessoa certa casa-se com ela, que morre após o aborto do que seria o primeiro filho. É a oportunidade da sensível Agnes, que secretamente o amava há muitos anos e finalmente ambos descobrem a felicidade que habitava com eles. Casam-se e têm muitos filhos.

O filme é assim esta multiplicidade de contactos, vivencias, alegrias e tristezas ao sabor da linha de vida de David Copperfield num registo de comédia, farsa e drama, com personagens muito vincados, unidimensionais, que se cruzam no tempo de vida e entretecem esta teia de relações fantasiando o que terá sido a vida de Charles Dickens vista por ele próprio, através do seu avatar David Copperfield. Não é um filme com mensagem particular, apenas uma história de ficção sobre um mundo real já desaparecido que nos distrai durante 120 minutos.

Classificação: 6 numa escala de 10

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