10 de setembro de 2020

Opinião – “O Segredo do Refúgio” de Dave Franco

Sinopse

Dois casais alugam um refúgio perfeito à beira-mar, mas, em pouco tempo, o que deveria ser um fim de semana de descanso assume contornos sinistros…

“O Segredo do Refúgio” é o thriller de estreia em realização de Dave Franco, protagonizado por Alison Brie (“Glow”), Dan Stevens (“Downton Abbey”), Jeremy Allen White (“Shameless”) e Sheila Vand (“Argo”).

Opinião por Artur Neves

Nesta história, Dave Franco, nascido e criado na Califórnia, estreia-se como realizador da sua primeira longa metragem que aborda a construção do suspense em duas formas aparentemente diversas, mas que o filme prova não estarem assim tão distantes, considerando que na primeira aborda-se as mentiras que contamos aos outros e a nós mesmos e na segunda, o efeito da tecnologia pôr a nu os nossos segredos mais íntimos que não queremos partilhar com os outros e que fazem parte da mentira que não queremos assumir.

Confuso?... nem tanto, porque o filme consegue apresenta-las claramente no intervalo temporal de um fim de semana, numa casa de sonho alugada para o desfrute de uma merecida pausa intercalar na rotina do trabalho, que se transforma num angustiante pesadelo, com uma história de infidelidade, duplamente repudiada, e a ação de voyeurismo do dono da casa num ato declarado de violação de privacidade, que nenhum dos personagens envolvidos quer que seja revelado.

A ideia do fim de semana surge na cabeça de Charlie (Dan Stevens) como comemoração da conquista de um grande projeto para a sua startup tecnológica situada em Portland, na qual Mina (Sheila Vand) é sócia e principal desenvolvedora de software. Para partilhar a alegria desta significativa conquista, tanto Charlie, como Mina, incluem no grupo os seus companheiros que são; Michelle (Alison Brie) mulher de Charlie e Josh (Jeremy Allen White), irmão mais novo de Charlie e companheiro de Mina, por quem nutre além de amor, uma grande admiração pela sua inteligência e conhecimento de programação, inversamente proporcional à sua baixa autoestima, decorrente de ser somente um condutor de Uber numa família de sucesso.

É este quarteto que aluga a casa de sonho, que lhes é apresentada à chegada por Taylor (Toby Huss) um rude e vagamente displicente gestor da propriedade que logo à partida se mostra intolerante com o facto de Mina ser de origem muçulmana. Muito embora essa má impressão à chegada não deixe sequelas no grupo, tudo se transforma quando percebem que Taylor tem acesso à casa na ausência deles, mesmo sendo para satisfazer um pedido de Michelle que á entrada lamentou ter-se esquecido de trazer o seu telescópio, ao perceber que o céu límpido e a noite sem poluição luminosa seria o lugar ideal para fazer observação das estrelas.

É neste ambiente de luxo que subtilmente começam a emergir divergências entre os nossos quatro protagonistas. Eles estão de fim de semana, são todos partes relacionadas, provocam-se mutuamente com brincadeiras verbais que os caracteriza, bebem e fumam para descontrair que simultaneamente aliviam os espartilhos da conveniência, do ressentimento e da dúvida, até certo ponto controlada. Charlie é sempre o mais sério, ou calculista, que restabelece o equilíbrio. Mina oscila entre um equilíbrio delicado e a exuberância de que mais tarde se arrependerá. Michelle é uma pragmática serena e consciente que procura cumprir os objetivos da viajem com a ajuda do cunhado Josh, que paira um pouco à deriva tentando ocupar um lugar naquele grupo a que ele procura pertencer.

O filme que começa como um thriller psicológico, vai evoluindo para algo mais dramático e paranoico, embora lógico, considerando o grau de censura que as cenas nos sugerem e que criam o suspense crescente, embora básico e direto, que a história utiliza. Para um estreante em realização Dave Franco mostra segurança na formação do ambiente e compreensão na possibilidade do suspense dentro dele, todavia o final da história é brusco e fácil que parece terem-lhe faltado tempo e dinheiro para pôr em prática outras ideias. Ainda assim, o enredo prende o espectador e faz valer o tempo despendido.

Classificação: 6 numa escala de 10

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