25 de janeiro de 2017

Opinião – “O Heroi de Hacksaw Ridge” de Mel Gibson


Sinopse

“O Heroi de Hacksaw Ridge” conta a extraordinária história verídica de Desmond Doss (Andrew Garfield) que em Okinawa, numa das batalhas mais sangrentas da 2ª Guerra Mundial, salva 75 pessoas sem disparar uma única arma. Ele foi o único soldado americano que, durante a 2ª Guerra Mundial, luta na frente de batalha sem estar armado, acreditando que apesar de a guerra ser justificada, matar continuava a ser errado. Como médico do exército, consegue evacuar, por si só, os feridos que tinham ficado em território inimigo, arriscando a ser abatido enquanto tratava dos soldados caídos, sendo ferido pela explosão de uma granada e atingido pelos tiros de snipers. Devido à sua bravura, Doss torna-se no primeiro objector de consciência a ser condecorado com a Medalha de Honra do Congresso Americano.

Opinião por Artur Neves

Dez anos depois da realização de outro filme baseado em factos verídicos; “Apocalypto” em 2010, eis que Mel Gibson nos apresenta este novo trabalho contendo o relato autobiográfico de um herói improvável na batalha mais sangrenta da segunda guerra mundial com o Japão entre Abril e Junho de 1945, não sendo todavia a batalha definitiva desta guerra. O Japão viria posteriormente a capitular na sequência da explosão das duas bombas nucleares em Hiroxima e Nagasaki, assumindo uma rendição sem condições.
Os factos são conhecidos da história, pelo que o valor deste filme centra-se no realismo e capacidade técnica com que são encenados, mostrando-nos em inteligentes e bem concebidas simulações a violência e a desumanidade de um combate sem quartel entre o poderoso exército norte-americano e a obediência fanática de um povo que se constituiu todo como um exército em nome de um império que só existiu na mente megalómana do imperador que o concebeu e desejava a sua concretização a qualquer custo.
A representação da batalha está soberba, a morte é abundante, indiscriminada e extremamente violenta como previsivelmente terá acontecido. Todos os pormenores são considerados com cuidado, particularmente o dos ratos que pululam por entre os cadáveres indiferentes à paixão que move os homens naquele diferendo. A realização constrói um ambiente de morte fétida e de desolação absolutamente credíveis, pedaços de corpos saltam em pedaços de onde menos se espera, toda a paisagem “cheira” a morte (ainda bem que a industria cinematográfica ainda não recriou estímulos para o olfato pois seria impensável assistir) e caos onde um homem, modesto de ambições, se agiganta na fidelidade das suas convicções e na loucura que as mesmas lhe conferem e assume-se como o salvador que ele mesmo venera, embora noutro contexto.
Desmond Doss (Andrew Garfield) está perfeito no seu papel de objetor de consciência, mostrando na primeira parte do filme as razões inabaláveis das suas convicções e na segunda o altruísmo e a loucura que o movem para “salvar só mais um…” de cada vez que volta ao campo de batalha.
Este é pois um filme de guerra com toda a carga realista que o realizador lhe confere e que já nos habituou, pelo que não será para todos os públicos. É todavia uma boa obra e um documento humano da história recente que merecia esta homenagem. Bom filme, bem feito, que recomendo.

Classificação: 8 numa escala de 10

11 de janeiro de 2017

Opinião – “Animais Noturnos” de Tom Ford


Sinopse

Susan (Amy Adams) é uma negociante de arte que se sente cada vez mais isolada do parceiro (Armie Hammer). Um dia, ela recebe um manuscrito de autoria de Edward (Jake Gylenhaal), seu primeiro marido. Por sua vez, o trágico livro acompanha o personagem Tony Hastings, um homem que leva sua esposa (Isla Fisher) e filha (Ellie Bamber) para tirar férias, mas o passeio toma um rumo violento ao cruzar o caminho com um gangue. Durante a tensa leitura, Susan pensa sobre as razões de ter recebido o texto, descobre verdades dolorosas sobre si mesma e relembra traumas de seu relacionamento fracassado.

Opinião por Artur Neves

Susan, uma mulher sofisticada e de boas famílias, vive uma relação que já não a satisfaz com o seu segundo marido identificado como homem de negócios que justifica a sua disponibilidade de meios e qualidade de vida, recebe pelo correio para apreciação, um exemplar do ultimo romance escrito pelo seu primeiro marido e grande amor da sua vida que ela desprezou por influencia da sua mãe que atendia mais à posição social do que à verdade das relações.
É com esta guião que Tom Ford, Americano, realizador e autor do argumento nos apresenta este seu segundo filme, contado com uma história dentro da história da vida de Susan, que esta interpreta e visualiza através da leitura do romance como uma vivência que lhe poderia ter acontecido se continuasse casada com o seu primeiro marido. Essa sua leitura perturba-a muito para além do enredo do romance, embora este nos indicie a possibilidade real de cenas de violência gratuita e implícita, através da caracterização das situações e dos autores materiais desse crime, que nos aparecem muito credíveis e capazes de os executar.
Estamos assim perante um drama com um suspense que ao vê-lo, me recordou David Lynch no seu filme Moulholland Drive, considerando o ambiente, os locais, as personagens e a maneira demorada a apresentar os factos, embora sem a mestria deste autor, pois a Tom Ford ainda falta “um bocadinho” para lá chegar. Não quero dizer todavia que não estamos em presença de um bom trabalho, bem construído, com um Michael Shanon a interpretar um polícia dedicado ao seu trabalho, à beira da morte por um cancro que lhe limita os dias de vida mas que ele gasta naquele caso mostrando-nos o que representa para algumas pessoas a abnegação pelas causas em que acreditam.
Susan é assim levada a repensar os seus atos, todas as atitudes da sua vida até aquele momento, bem como as afinidades que tinha com o seu primeiro marido e o convencionalismo das causas, por vezes poereis que justificaram a sua separação, por troca com uma relação em fim de ciclo que não lhe trás felicidade embora muita qualidade de vida.
Laura Linney interpreta uma mãe de Susan que merecia mais tempo e diálogos mais profundos para afirmar o seu personagem, pois assim aparece-nos como um elemento pontual. Ami Adams, lindíssima, tem neste filme pouco espaço para se afirmar ao contracenar com um soberbo Jake Gylenhaal (Edward) no papel de homem fraco. Um filme interessante que vale a pena desfrutar.

Classificação: 7 numa escala de 10