3 de setembro de 2020

Opinião – “O 3º andar: Terror na rua Malasaña” de Albert Pintó


Sinopse

A família Olmedo abandona a sua aldeia, esperando que uma vida na cidade lhes traga mais prosperidade, e compra um apartamento no terceiro andar do número 32 da Rua Manuela Malasaña, em Madrid. Mas os Olmedo desconhecem que há mais uma presença no apartamento que adquiriram. Algo de cuja existência não se apercebem vai pôr em risco as suas vidas e eles vão ter de se defender. E se a coisa mais aterradora de uma vida na cidade não estiver lá fora... mas sim dentro da nossa casa?... Inspirado numa história real.

Opinião por Artur Neves

Já referi noutras crónicas, tenho apreciado o progresso do cinema espanhol, no sentido de se ter tornado mais maduro, mais consciente do seu papel de representativo divulgador do modo de estar da sociedade espanhola, como apoiante ou como crítico das suas atitudes em documentos que nos apresentam lições de vida a seguir ou a rejeitar.

No subgénero de cinema de suspense ou de terror, que tem os seus apreciadores particulares, também notei evolução na cinematografia espanhola, mas no caso presente parece que Albert Pintó reuniu uma coletânea de cenas tradicionais do género, tais como; sons, sombras, figuras fugitivas, possessões, seres deformados, levitações, exorcismos e toda mais uma série de outras caraterísticas que os efeitos especiais sabem potenciar e engendrou um argumento para ligar contínua e insistentemente as cenas coletadas.

Desde a primeira imagem até final, a história vai sucessivamente de acidente em acidente tentando provocar-nos o susto com a surpresa da sua aparição, cada uma mais dramática que a anterior até ao arremedo de exorcismo final não concretizado, porque o mal tem o poder de fazer desaparecer as letras da bíblia. Provavelmente para se eternizar e permitir uma sequela.

O mais confrangedor todavia, situa-se no facto da história não ser credível, as cenas preocupam-se somente em criar o susto gratuito, quer se verifique coerência ou não dos factos e das atitudes dos personagens em resposta aos mesmos, num completo desconchavo das sequências que nos vão sendo apresentadas, com a lógica remota de um espírito maligno habitar o 3º andar da rua Malasaña, algures em Madrid dos anos 70, sob o signo da inspiração numa história real.

Não duvido que naquela época e naquele meio social, no prédio antigo em que se situa aquele 3º andar, possa ter existido algum rumor de possessão espírita veiculado pelos moradores e vizinhos, todos eles trabalhadores em ocupações modestas. O que contesto é que a história seja contada à pressão dos eventos, em cenas risíveis de conteúdo e a resposta das personagens seja vaga ou até inexistente somente para permitir a continuada exaltação em crescendo dentro do tempo previsto para o videograma.

Num filme de terror “a sério” o medo deve ser insinuado subtilmente de forma a excitar os receios ou reservas do espectador nos seus próprios medos, que serão assim projetados nas cenas apresentadas provocando sentimentos de repulsa e negação, donde sairá a verdadeira ansiedade e a correspondente produção de adrenalina que o espectador fiel do género procura.

Nada disto se passa aqui, durante os 104 minutos deste equívoco que desde o início se percebe ao que vem. E é pena, porque a realização técnica do filme apresenta efeitos e recursos com potencial para contarem uma história decente.

Classificação: 4 numa escala de 10

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