2 de julho de 2020

Opinião – “Senhores do Crime” de Guy Ritchie


Sinopse

A história do expatriado americano Mickey Pearson um homem que construiu um império de marijuana altamente lucrativo em Londres. Quando se torna pública a notícia de que ele está a tentar lucrar com os negócios para se puder reformar, desencadeiam-se conspirações, esquemas, suborno e chantagem, com a única tentativa de sabotarem o seu domínio de luxo. Realizado por Guy Ritche (Snatch – Porcos e Diamantes; Um Mal Nunca Vem Só) e com Hugh Grant, Michelle Dockery e Charlie Hunnam.

Opinião por Artur Neves

Aí está a reabertura do cinema ao vivo, isto é, em sala… não se trata de uma televisão melhor ou pior, mas da sala escura, onde podemos viver emoções através do visionamento de uma história. Claro que para defesa das distribuidoras e também pela escassez de produção durante os tempos duros que atravessamos (porque a crise ainda não passou) as salas abrem com reposições e no presente caso; “The Gentlemen – Senhores do Crime” é uma reposição feliz por se tratar de um filme contado de uma forma particular por Fletcher (Hugh Grant) um investigador privado, contratado para investigar os negócios de Michael Pearson (Matthew McConaughey) que pretende vender o seu negócio de patrão da droga para se poder reformar e gozar o resto da vida com sua mulher Rosalind (Michelle Dockery) como que de um trabalhador regular se tratasse.

O problema não reside nos desejos de Michael Pearson (tratado carinhosamente por Mickey) mas antes nos potenciais compradores que rivalizam entre si a aquisição do império de Mickey que inclui o multimilionário americano Matthew Berger (Jeremy Strong) e o mafioso chinês Dry Eye (Henry Golding) que não olha a meios para conseguir o que ele já considera seu antes de o possuir.

Fletcher, amigo de longa data de Mickey, aparece em casa dele para uma longa conversa sobre o negócio em que dirime argumentos a favor e contra os potenciais adquirentes, transformando a história numa versão vintage no universo dos filmes de Guy Ritchie.

Este realizador britânico que teve um auspicioso início com filmes negros, ambientados em universos de crime e diálogos espirituosos que evidenciavam o sotaque da Inglaterra profunda e das docas, mudou-se a certa altura para os sucessos de bilheteira de Sherlock Holmes, 2009 e, pior ainda, Aladdin, 2019, para o qual escreveu o argumento, tenta agora redimir-se com esta nova comédia trágica no mundo da droga em Inglaterra, para a qual convida atores de nomeada e com larga experiência, para desenvolverem um trabalho tão árduo como inovador.

Os factos narrados por Fletcher, são visionados na tela como ilustração dos seus argumentos, mas nem sempre correm como previsto, porque Mickey já os antecipara e em certas situações até neutralizara os seus efeitos, mas os dados estão lançados e a narrativa prende o espectador a uma ação que é descrita por Fletcher de uma certa maneira e ocorrem com algumas nuances que estragam as melhores previsões. Deste modo, alguma ação é repetida em duas versões, enquanto Fletcher e Mickey manipulam a realidade sombria nas ficções de Fletcher o que torna o filme credor de alguma complacência do espectador durante os 113 minutos de duração.

No meu entender é por uma boa causa, pois assim transforma-se um nefasto submundo numa sofisticada comédia, polvilhada de piadas racistas sobre chineses cujo autor é o próprio Dry Eye. Mickey por seu lado revela-nos um Matthew McConaughey diferente daquele que conhecemos nos anos 90 e que lhe trouxe o Oscar em “O Clube de Dallas” de 2013, ou “Interstellar” de 2014. Mickey aqui é um sóbrio mafioso, pachorrento nas palavras, muito sentado e quieto, estranha-se, mas o personagem não pede mais.

Por outro lado, de Colin Farrell, aparece como um treinador de box num personagem absolutamente secundário mas animado de um frenesim e uma agitação que o argumento deveria incluir mais no enredo da história. No global é um filme que se vê com agrado, tem suspense e indefinição até ao final, constituindo uma boa opção para uma rentrée tão esperada.

Classificação: 6,5 numa escala de 10

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