7 de julho de 2020

Opinião – “Rede de Espiões” de Olivier Assayas


Sinopse

O piloto cubano René González (Edgar Ramírez) deixa a mulher e a filha na ilha comunista, desertando para os Estados Unidos e iniciando uma nova vida em liberdade no início dos anos 1990. Mas René não é o ambicioso empreendedor que aparenta ser. Unindo forças a um grupo de exilados cubanos no sul da Florida, conhecido como Wasp Network (Rede Vespa) liderado pelo agente secreto conhecido como Gerardo Hernandez (Gael García Bernal) torna-se membro de um grupo de espiões pró-castristas incumbido de vigiar e de se infiltrar em grupos terroristas cubano-americanos que tencionam atacar a república socialista. Inspirado na história verídica dos “Cinco Cubanos”, agentes dos serviços secretos, “Wasp Network – Rede de Espiões” é um empolgante e sofisticado thriller político que inclui uma vasta galeria de cubanos e exilados cubano-americanos envolvidos numa complexa batalha entre ideologias rivais e lealdades instáveis.

Opinião por Artur Neves

Potencialmente esta história, que reporta o caso real de agentes infiltrados cubanos, fiéis aos ideais da revolução de Fidel de Castro, tem todos os ingredientes para poder oferecer ao espectador 125 minutos de um bom filme de ação e espionagem… mas nem tanto, o que é uma pena, embora se veja com agrado e contenha momentos de pura emoção.

O realizador Oliver Assayas adaptou o romance de Fernando Morais; “Os Últimos Soldados da Guerra Fria” que relata a história de um grupo de espiões que nos anos 90, após a extinção da União Soviética e o consequente fim da ajuda financeira a Cuba, se infiltrou em vários grupos cubanos sediados na Florida, pretensamente com o objetivo de ajudarem todos os que quisessem sair da ilha e pedir asilo nos USA, usando para isso diferentes meios de pressão como o terrorismo para reduzir o turismo na ilha, ou o tráfico de droga com vista à obtenção de fundos de apoios à contra revolução.

Talvez pela complexidade da história, onde ninguém está inocente, o por Assayas se cingir fielmente ao guião dos acontecimentos, tal como aliás já tinha feito em 2010 com “Carlos”, a história do revolucionário Venezuelano Ramírez Sánchez, o filme perde alguma dinâmica apesar do bom desempenho dos atores utilizados com particular destaque para René Gonzáles e sua mulher Olga; (Penélope Cruz) e filha Irma (Osdeymi Pastrana) em torno dos quais se desenvolve o drama da separação por motivos patrióticos e o pendor emocional que o filme merece.

Eles são pilotos de aviões, fogem e são utilizados pela resistência anti Castro para raids de salvação de refugiados à deriva no mar das Caraíbas, lançar panfletos de propaganda anti Castro sobre Havana e para o transporte de droga desde a Bolívia ou Nicarágua até à Florida. Nesta atividade é claro que outros interesses começam a emergir e outros pilotos, tal como Juan Pablo Roque (Wagner Moura), que já vem com outros contactos e outras motivações, estabelece um tórrido romance com Ana Magarita Martinez (Ana de Armas) como cobertura da sua atividade e consuma a atitude mais velhaca entre duas pessoas num relacionamento e não só.

A sequência do argumento contém desenvolvimentos surpreendentes mostrando diversas atividades que povoam o universo da espionagem e da contra espionagem, porque para o governo de Bill Clinton não é totalmente líquido o apoio aos anti castristas, bem como a permissão de atividades de contra espionagem no seio da organização “Brothers to the Rescue” de apoio aos novos desertores.

É pois toda esta dinâmica intrincada que Assayas nos oferece, que domina as pessoas que a carregam nem sempre com os mesmos objetivos e em que Assayas não se quer imiscuir demasiado retirando algo da perspetiva histórica, das paixões ideológicas e da política, concentrando-se nos múltiplos eventos e relações complicadas no seio do grupo que sucessivamente vem crescendo em número de elementos e de funções. Assayas não foge de todo aos motivos de revolta da alma de um país, mas devido à densidade da narrativa o espírito revolucionário fica adormecido nas atitudes dos seus protagonistas.

Tem valor suficiente para proporcionar um bom espetáculo e está disponível nos cinemas da NOS.

Classificação: 6 numa escala de 10

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