27 de junho de 2020

Opinião – “O Resto de Nós” de Aisling Chin-Yee


Sinopse

Quando o ex-marido de Cami Bowden (Heather Graham), Craig, morre repentinamente de um ataque cardíaco, a vida perfeita que Cami criou começa a desfazer-se. No funeral de Craig, Cami e sua filha adolescente Aster (Sophie Nélisse) encontram Rachel (Jodi Balfour), a segunda esposa muito mais jovem de Craig, por quem ele deixou Cami, e Talulah (Abigail Pniowsky), a segunda filha de Craig, que está evitando o processo de luto. Rachel, tendo passado grande parte de sua vida adulta como esposa que fica em casa, revela a Cami que Craig escondeu uma infinidade de dívidas e que a casa deles terá de ser vendida - Rachel e Talulah ficarão sem casa ou com qualquer cêntimo em seu nome enquanto esperam que a apólice de seguro de vida de Craig se execute. Movida pela precária situação de Rachel, Cami oferece relutantemente a sua casa para ambas morarem temporariamente. Agora, juntas sob o mesmo teto, as mulheres processam a sua tristeza e raiva pela morte de Craig e procuram um significado e direção para as suas vidas. Durante este tempo, velhos segredos e conflitos de lealdade ameaçam fragilizar o tênue equilíbrio em torno deste grupo.

Opinião por Artur Neves

Aisling Chin-Yee cofundadora do movimento #MeToo é uma produtora e recente realizadora de origem chinesa, estabelecida em Montreal, Canadá que nos traz um argumento de Alana Francis e uma estreia destas duas colaboradoras em longas-metragens de cinema, adaptando o romance de Patrick Ness; “The Rest of Us just Live Here”, sobre um tema pouco explorado, talvez pela raridade de casos reais conhecidos e pelo criticismo inerente à situação de coabitação de duas mulheres casadas com o mesmo homem em tempos diferentes e atualmente viúvas, cada uma com a sua respetiva descendência.

Este tema, sobre o qual não me vou alongar considerando que a sinopse é suficientemente elucidativa, tem sido abordado de forma jocosa, como motivo de paródia da relação estabelecida e nunca com a generosidade comovente, engraçada e por vezes maliciosa de uma relação improvável entre duas mulheres e as suas respetivas filhas que apesar da diferença etária significativa que as separa, uma adolescente e outra infantil, competem entre si pelos seus direitos e com meios difíceis de imaginar á partida.

Observada globalmente, esta história pode descrever-se, como a influência de um homem, relacionado a diferentes níveis com cada elemento deste quarteto de mulheres em diferentes estágios da vida, e a importância para cada uma que ele teve durante o tempo de convívio, de época social, de preconceito, de convenção assumida no estilo de vida que todas viveram. Não se pense que é projeto fácil se for pretendida uma abordagem honesta e credível, sendo o primeiro defeito que lhe aponto a sua limitada duração de 80 minutos para desenvolver um quadro tão complexo de emoções contraditórias e de relações humanas.

Este facto faz com que a história apresente personagens de espírito ágil, com resoluções simplistas e breves para situações complexas sem deixar amadurecer as contradições que as repelem, ou as semelhanças que sem quererem admitir, as torna próximas entre si subordinadas a um modelo comum de relacionamento, todavia pela exiguidade do tempo disponível tudo tem de ser dirimido em tom breve e superficialmente.

Repare-se que Aster, por exemplo, tem um segredo que envolve o namorado e como tal distancia-se das opiniões de Cami, cedendo. Talulah por seu lado, na sua infantilidade, assume um estado de negação em relação à morte do pai que reproduz em certa medida a repulsa de Rachel à memória de Craig, responsabilizando-o pelo estado de pobreza em que ele as deixou, decorrente de vários negócios sem sucesso.

De todas estas contradições, acusações mútuas, e os impasses daí decorrentes vai lentamente nascer um espírito de solidariedade comum nunca antes imaginado que promove um espírito de equipa e uma condescendência onde antes só existia azedume. Aster opta por proteger a sua meia-irmã quando antes a repelia. Cami verifica no estado de fragilidade emocional de Rachel um motivo para justificar a sua própria existência, numa altura em que Aster prepara a sua emancipação. São tudo processos que requerem tempo, não só para serem descritos como para serem ilustrados e não pode culpar-se o quarteto de atores que com toda a qualidade desempenham os personagens que lhe são confiados.

É pena… ainda assim, pode ser visto na plataforma de streaming; Prime Video – Amazon

 Classificação: 5 numa escala de 10


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