8 de julho de 2020

Opinião – “A Cor da Ambição” de Giuseppe Capotondi


Sinopse

James Figueras (Claes Bang), um crítico de arte charmoso e ambicioso, caiu em desgraça. Passa os seus dias em Milão a dar palestras sobre história de arte para turistas ignorantes. A sua única réstia de esperança é o seu novo interesse amoroso, a enigmática americana Berenice (Elizabeth Debicki). Dá-se uma oportunidade quando é contactado por um abastado negociante de arte, Joseph Cassidy (Mick Jagger), que convida James para a sua vivenda no Lago Como, e lhe pede para roubar um quadro ao lendário artista solitário Jerome Debney (Donald Sutherland). Mas logo a ganância e a ambição de James levam a melhor sobre si e deixam-no preso numa teia feita por si mesmo.

Opinião por Artur Neves

A cor da ambição é o vermelho alaranjado matizado por zonas mais vermelhas e outras mais alaranjadas, profundamente confundidas na posse do desejo único de ser possuidor da coisa ímpar que completa a falta e potencia o lado mais irrefletido do desejo.

Neste excelente thriller de Giuseppe Capotondi, realizador italiano de 52 anos, que fez carreira no universo dos telediscos, onde em pouco tempo tem de se mostrar o mais possível, traz-nos a adaptação dum romance policial de Charles Willeford publicado em 1971, contando a história de um homem falhado que perdeu os objetivos de outros tempos e agarra-se ao que aparece em busca da recuperação de si e da redenção para os atos que o levaram à atual situação.

Figueras não é intrinsecamente um mentiroso, é um homem que usa os seus conhecimentos e a sua experiencia da melhor forma que os possa adaptar à situação do momento e fá lo com profissionalismo ao guiar turistas sem conhecimentos de arte, nos meandros da pintura de forma a motivá-los na contemplação dessa forma de arte e aqui, os 10 minutos iniciais do filme são extraordinários da demonstração da sua capacidade verbal para transformar o “nada” em “tudo”, desmontando de seguida tudo o que foi dito.

Berenice, pelo seu lado é uma mulher misteriosa, professora na sua cidade natal no Minnesota, em viagem de repouso pela Europa na sequência de uma operação ao útero que lhe motivou maior atenção para si própria e para o que quer da vida. Vive com a sua mãe e esta viagem serve também para repensar a sua situação e reinventar-se. Entra distraidamente na sala onde se realiza a palestra de Figueras, que também serve como apresentação do seu livro sobre arte, e mostrando a irreverencia da sua personalidade e da sua idade, bem como, a disponibilidade do seu espírito aberto, aceita o repto de Figueras, lançado a todos os assistentes da palestra.

Esse encontra é apenas o começo de uma relação com o homem a quem ela confirma o bom começo depois de uma noite de sexo e pergunta como irá acabar no futuro, pois embora exista “química” entre os dois, Figueras é suficientemente reservado nos seus motivos.

Joseph Cassidy é o colecionador de arte que pretende obter uma obra do pintor Jerome Debney (Donald Sutherland com 84 anos, mas sempre surpreendente nas suas interpretações) para a sua coleção e desafia Figueras a obtê-la em troca da sua reabilitação e reconhecimento público perdidos.

Até aqui a história resume-se ao estabelecimento das relações entre este elenco forte o suficiente para que as múltiplas reuniões e conversas sobre o simbolismo da arte, as suas caraterísticas particulares e as suas motivações dos quadros que são citados nos envolvam neste mundo de acesso restrito. Joseph Cassidy sabe o quer, está habituado a obter tudo o que pretende e possui a vantagem ameaçadoramente discreta para levar Figueras a sucumbir irrefletidamente ao laranja avermelhado da ambição que o cega.

Daqui para a frente o filme ganha a dinâmica do thriller e do suspense e vemos Figueras a tentar por todos os meios tirar vantagem de Jerome Debney, o pintor recluso numa casa cedida por Cassidy, que lançou fogo a todo o seu espólio anterior e que hoje pinta na sua imaginação o azul do céu que não possui.

As histórias só acabam bem nos romances de cordel e nas telenovelas e esta não tem nada destas duas categorias, compondo-se num filme que recomendo vivamente. Em exibição nos cinemas NOS.

Classificação: 7,5 numa escala de 10

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