10 de julho de 2020

Opinião – “Arkansas: Reis do Crime” de Clark Duke


Sinopse

Dois pequenos criminosos, Kyle (Liam Hemsworth) e Swin, vivem às ordens de um chefe do crime chamado Frog (Vince Vaughn), que nunca conheceram. Mas quando uma transação corre pessimamente, consequências assustadoras abalam subitamente a vida rotineira da dupla. Vender produtos ilícitos é um negócio arriscado e duvidoso, sem margem para segundas oportunidades.

Não há certo nem errado. Eles têm de ser eliminados.

Opinião por Artur Neves

Adaptado do romance de 2008; “Arkansas” de John Brandon, uma história sombria e cómica sobre um par de traficantes de droga, algures no sudoeste rural dos USA, Clark Duke apresenta-nos uma história bem construída, ao estilo dos irmãos Coen, Scorcese, ou mesmo Tarantino com menos exuberância, sobre Kyle e Swin (o próprio realizador) que estabelecem um negócio de tráfico sem conhecerem o seu fornecedor e patrão, nem a rede em que estão inseridos, que ilustra a paisagem monocromática do sudoeste americano, bem como, a apática mentalidade dos seus personagens, cujo comportamento inclui atitudes amargamente engraçadas num western dos dias de hoje.

Originalmente programado para estrear no festival SXSW de 2020, este filme sofreu um sério revés na sua programação devido ao surto pandémico que ainda vivemos, tendo ido diretamente para as plataformas de streaming que lhe deram um tratamento indiferenciado, que não teria acontecido noutras circunstâncias.

Este filme é pois um thriller satírico que junta habilmente a atividade clandestina do tráfico de drogas com a tragicomédia da vida de dois traficantes, “parceiros de trabalho” mas nunca verdadeiros amigos ou sequer simpáticos entre si no trato recíproco, que se encontram acidentalmente por encontro marcado por outrem e têm de cumprir escrupulosamente o programa de distribuição estabelecido por alguém que desconhecem de todo e coletar os proventos da venda para o entregarem em data, modo e lugar determinados.

Kyle, todavia é mais presente, e nos seus silêncios, frequentes e duradouros em que junta os dados das observações que recolhe aqui e ali, forma com eles um possível esquema da organização que contudo não é partilhada por Swin que apenas quer usufruir da sua percentagem e viver sem preocupações o tempo que lhe sobra.

Para complicar a história, Swin enreda-se num caso amoroso com uma habitante local, que constitui uma principal violação ao contrato estabelecido por Frog (Vince Vaughn), o patrão desconhecido, que entende aquela atitude como um atentado á sua soberania e uma ameaça ao seu império de distribuição de droga que ele imediatamente se preocupa em eliminar, ou pelo menos em neutralizar. Eles não o conhecem, mas Frog vigia-os e segue-lhes todos os movimentos. Aqui o filme introduz outros personagens e desvenda ligações e intrigas do passado que relançam a história noutros contornos bem arrojados para este realizador que pela primeira vez leva a cabo uma história que não vive do histrionismo dos seus personagens, como nas suas realizações anteriores.

Todos os personagens interagem estre si nesta história como é óbvio, mas cada um tem o seu mundo particular desligado de todos os outros em que, embora assumindo esse “desligamento” criam um conjunto heterogéneo de comportamentos e atitudes que preenchem o ambiente do local, caraterístico do mundo rural dos USA que é memorável e recorda-nos o tipo dos eleitores que escolheram Trump.

À maneira de Tarantino “Arkansas” é dividido em cinco atos onde se manipulam e exibem as particularidades dos seus personagens e dos tempos a que se referem, conjugando os eventos da história sobre, enganos, identidades equivocadas e assassinato que nos prendem e motivam atenção durante os seus 117 minutos de duração. Tem ainda a capacidade de sugerir ao espectador um caminho óbvio de sequência, mas nada mais falso, as sucessivas reviravoltas sinistras depressa nos aconselham a apenas ver e fruir. Interessante.

Classificação: 6,5 numa escala de 10

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