25 de junho de 2020

Opinião – “Matthias e Maxime” de Xavier Dolan


Sinopse

Quando uma amiga em comum pede a Matthias (Gabriel d’Almeida Freitas) e Maxime (Xavier Dolan), dois amigos de infância, para filmar uma cena de um beijo entre ambos para uma curta-metragem amadora, eles aceitam. O que não poderiam prever era que esse momento de intimidade tivesse tal efeito dentro de si, confrontando os dois rapazes com as suas preferências sexuais, e que alterasse tão completamente a forma de se verem um ao outro...

Opinião por Artur Neves

Este filme foi estreado no Festival de Cinema de Cannes de 2019, escrito, realizado e protagonizado por Xavier Dolan e só serviu para acentuar, mais uma vez, a sua própria escolha de orientação sexual, pois como abordagem e desenvolvimento do tema na análise profunda de uma tendência que se tende a normalizar com o passar do tempo e com a assunção de mais interpretes, nada de novo nos traz.

Xavier Dolan não é propriamente um estreante nestas andanças onde já apresentou em 2013 “Tom na Quinta” onde o desenvolvimento da homossexualidade está bem representada com os seus silêncios, frustrações e sonhos perdidos que nos deixa perplexos ao contemplar nesta história o apagamento dessa ansiedade, ainda genericamente não assimilada socialmente que neste filme se centram em diversas reuniões entre amigos, comes e bebes em família, onde paira um clima de vacuidade e suspensão, não diretamente induzido pela história, mas antes pelo que o espectador poderia esperar que ele fosse desenvolvido desde a primeira cena do beijo que dá motivo ao argumento.

Mas não, Matthias desenvolve um personagem equívoco, hesitante, sempre inadequado no sítio onde se encontra, com olhares furtivos e inexpressivos em diferentes direções e para diferentes intervenientes em ações avulsas cujos objetivos não são explícitos por tão inconsequentes que se apresentam.

Poe outro lado, Maxime já é um personagem mais presente, tanto no convívio com os outros como nas discussões com a sua mãe, a quem controla o dinheiro e os gastos de casa, recuperando alguns tiques do seu argumento para “Mamã” de 2014, embora noutro contexto. No seio da sua família ele usa a sua irmã mais nova, voluntariosa e perfeitamente integrada na “Geração Z”, bem como as tias e mães dos seus amigos como representantes do estereótipo de uma sociedade que não considera a sua geração como séria, mas não passa daí e se teve intenção de evoluir ou escamotear esse tema como direta incidência nas suas escolhas, não passou de intenção.

Assim, de reunião em encontro, esgotam-se duas semanas antes da partida de Maxime para a Austrália apresentadas em flashback (aqui também não se percebe o interesse da alteração temporal, considerando que este tema pretensamente construído com tensão crescente, teria mais sentido na sequência lógica dos eventos) onde nada de relevante se passa para o propósito da história sentindo-se um vazio total da narrativa que sem querer ser grosseiro, mas antes realista, classifico como um tempo de “encher chouriços”.

A amizade entre os dois foi afetada desde o início do filme e isso transformou a relação entre eles que deveria ter sido apreciada e desenvolvida ao longo da história entre os dois personagens, mas não, acentua-se o protelamento da situação que fica reservada para o jantar de despedida em que Matthias faz um discurso ininteligível, abandona o jantar subitamente, mas depois volta para nos apresentar uma cena de amor tórrido com Maxime, porém inconsequente e inconclusivo sobre as suas opções.

No dia da partida, cabe ao espectador decidir, escolher, o que seja, qual foi a decisão de Maxime… ora bolas para isso não devia ter sido necessário esperar 120 minutos. Uma desilusão…

O filme está em exibição no cinema Trindade, da cidade do Porto

Classificação: 4 numa escala de 10

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