13 de novembro de 2018

Opinião – “Silvio e os Outros” de Paolo Sorrentino


Sinopse

Viveu no nosso imaginário pelo poder do seu império de Media, a sua ascensão meteórica e a capacidade de sobreviver a reveses políticos e a processos judiciais. Encarnou, durante vinte anos e após a queda do comunismo, o laboratório da Europa e o triunfo absoluto do modelo liberal.
Entre o declínio e a intimidade impossível, Silvio Berlusconi simboliza uma era que se questiona, desesperada pelo seu vazio.

Opinião por Artur Neves

A história que este filme nos trás é a figura, a vida de Silvio Berlusconi durante o tempo em que este ocupou o poder em Itália como membro da direita tradicional representada pelo partido Forza Italia onde foi líder incontestado, tendo ocupado o cargo de Primeiro-ministro por três vezes, até à dissolução do mesmo, para a criação do Polo della Libertá que o levou de novo ao poder como Presidente do Conselho de Ministros em coligação com a Liga do Norte também de extrema-direita.
Todavia, Silvio Berlusconi ficará na história pelos negócios de sucesso, embora com fumos de corrupção por ligações á Máfia e fundamentalmente pela sua conduta truculenta, recheada de escândalos sexuais em que as festas Bunga-Bunga foram o expoente máximo da sua carreira política. É precisamente neste aspeto que o filme incide, no tráfico de mulheres bonitas forçadas a tronarem-se acompanhantes de luxo para toda uma corte em torno de Silvio, mostrando-nos um mundo decadente, manipulado por um oportunista provinciano de Taranto, que se desloca para Roma, em busca da oportunidade de chegar perto de Silvio (Lore no original) à custa da satisfação das suas necessidades.
Só que, Paolo Sorrentino, realizador e argumentista Italiano nascido em 1970, digno representante de uma certa forma Feliniana de contar histórias apresenta-nos estes factos, contando os factos em si mesmo, com uma sequência remota da verificação dos eventos. Isto mesmo é descrito logo nas primeiras imagens do filme em que o realizador adverte que o filme é como que uma “biografia livre” de Silvio Berlusconi, pelo que é conveniente ter conhecimento prévio de quem foi realmente este homem para se enquadrar os factos na história que nos é apresentada.
Paolo Sorrentino é um realizador com um pendor de execução barroco nas cenas dos seus filmes, procurando através de pormenores e de cenários luxuosos transmitir-nos a realidade para lá da justificação da sua ocorrência. Aliás, qualquer justificação não cabe neste filme sendo toda a história constituída por cenas que ilustram comportamentos, pensamentos e filosofias que seguem um ténue fio condutor que só sublinham os factos que nos são mostrados. Dos seus filmes anteriores destaco “A Grande Beleza” de 2013 que lhe valeu o Óscar para o melhor filme estrangeiro em 2014, onde tal como neste filme, nos mostra o seu grande amor por Roma, enaltecendo locais onde para ele deve ser um prazer estar.
Temos portanto aqui um filme exuberante de beleza, de grande miséria, de vício, sobre um político do nosso tempo que primou pelo exagero em muitas facetas da vida e da fortuna. Um homem que se considerava quase um Deus, um César, e que por esse facto concluía ter cumprido o seu destino e que todos deveriam venerá-lo por todas as suas realizações que tinham sido feitas em proveito deles. Gostei!...

Classificação: 7,5 numa escala de 10

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