25 de novembro de 2021

Opinião – “Casa Gucci” de Ridley Scott

Sinopse

Inspirado na chocante história verídica dos bastidores da família detentora do império da moda italiana. Quando Patrizia Reggiani (Lady Gaga), uma desconhecida de origem humilde, se casa com Maurizio Gucci (Adam Driver), a sua ambição desmedida começa a desencadear no legado da família uma imparável espiral de traição, destruição e vingança que culmina... num assassínio.

Opinião por Artur Neves

Este filme é um drama autobiográfico, baseado no livro “The House of Gucci” escrito em 2001 por Sara Gay Forden e magistralmente dirigido pelo realizador inglês Ridley Scott que tantos e tão bons trabalhos nos tem oferecido ao longo dos anos, dos quais não posso deixar de destacar; “Alien de 1979 ”Blade Runer” de 1982 e a sua sequela de 2017, “O Gladiador” de 2000, ou ainda esse belo fresco sobre o tráfico de droga no México; “O Conselheiro” de 2013, que nos mostra como fazer cinema não depende somente dos meios ao dispor, mas também da qualidade criativa do diretor e do profissionalismo do elenco contratado para o efeito, que consiga desenvolver as caraterísticas dos personagens que nos transmitam com realismo e convicção os seus papéis na história. É um prazer ver cinema assim, para além de um excelente meio de aquisição de cultura.

O universo Gucci constitui uma griffe associada a fama e luxo planetário em malas, sapatos, chapéus, óculos e moda, destinados a uma elite selecionada que está disposta a despender muito dinheiro pelos bens adquiridos que lhe conferem o sentimento de pertença a um “clube privado” de posse de objetos com uma etiqueta que ostenta um elevado número de zeros no seu preço. Aliás no filme é referido o artifício fraudulento praticado por Aldo (Al Pacino), (irmão de Rodolfo (Jeremy Irons) seu sócio na empresa), da fabricação dos mesmos modelos de acessórios mas com materiais e fabricação comuns para venda a preços muito inferiores e poder ser comprado por qualquer pessoa que poderia assim dizer que possuía um “Gucci”. O resultado desse material contrafeito pela própria fábrica Gucci, rendia muitos milhões à marca que não eram declarados ao fisco e não podia ser suspenso, disse Aldo a Patrizia, quando esta lhe propôs encerrar a fabricação.

Gucci, sendo uma marca de tanto prestígio e aceitação tem conseguido manter ao longo do tempo grande reserva sobre a sua constituição e atividade, nomeadamente este caso, que foi considerado na época o mais mediático de Itália, o assassinato de Maurizio Gucci em 27 de Março de 1995, encomendado por sua mulher Patrizia Reggiani em conjunto com uma vidente e cartomante em que ela confiava e de quem se tornou íntima, Giuseppina Auriemma (Pina) (Salma Hayek) através da contratação de dois malfeitores conhecidos desta, que se revelaram incompetentes e grosseiramente levianos ao divulgarem a sua autoria aos amigos, tendo posteriormente constituído alvo de investigação policial que conduziu à incriminação de Patrizia (então conhecida por Viúva Negra) e de todos os implicados, quando no início as autoridades pensavam que o assassinato fosse fruto de uma guerra financeira.

O romance entre Maurizio e Patrizia começa em 1972, numa festa privada para a socialite rica de Milão em que ambos se encontram e simpatizam imediatamente ao ponto de Maurizio perguntar a um amigo; “Quem é aquela linda rapariga vestida de vermelho que se parece com Elizabeth Taylor?”. Ela por seu lado não se sentiu imediatamente atraída, tendo sido a insistência de Maurizio com várias prendas e convites em que ela foi apresentada a Rudolfo Gucci, pai de Maurizio, que a convenceu a namorar e a casar contra a vontade de Rudolfo, que adivinhando o desfecho o ameaçou de o deserdar. Quando Patrizia começou a perceber o enorme filão em que tinha caído, depressa começou a resolver as coisas à sua maneira, pressionando Maurizio e entretecendo alianças e rancores entre os membros da família ao seu alcance, intrometendo-se nos negócios e fazendo com que o declínio da empresa se estendesse ao seu matrimónio até que em 1985 Maurizio decidiu divorciar-se sem que Patrizia concordasse com a separação. O processo foi complexo e devido à progressiva falência da empresa, Paolo Gucci (Jared Leto), filho de Aldo Gucci resolveu vender a sua metade da empresa aos árabes, que embora inicialmente a potenciasse revelou-se uma péssima opção, tendo acabado a magnífica empresa familiar por ter entrado em bolsa, ser comprada por múltiplos proprietários e ser hoje gerida por um conselho de administração onde não figura qualquer membro da família original.

A família Gucci, através da sua porta-voz Patrícia Gucci, não ficou muito satisfeita com o filme, reservando mesmo o direito de mover uma ação judicial, de acordo com os ecos sociais decorrentes da estreia. É pois um filme muito interessante, bem contado e soberbamente representado, fruto de pesquisa e dedicação dos atores na construção dos seus personagens de modo a serem o mais fiel possível à realidade que lhe deu origem, que recomendo sem reservas. É sem dúvida um dos filmes mais aguardados do ano.

Tem estreia prevista em sala a 25 de Novembro

Classificação: 9 numa escala de 10

 

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