28 de setembro de 2021

Opinião – “Sombra” de Bruno Gascon

Sinopse

Em 1998, Isabel tinha a família perfeita até que um dia chega a casa e descobre que o seu filho de 11 anos desapareceu. A partir desse momento tudo muda. Apesar da cobertura mediática do caso e da existência de um suspeito a justiça falha constantemente e Isabel percebe que somente ela poderá manter viva a busca por Pedro. Passam-se quinze anos e apesar de todos os obstáculos que encontra Isabel vai continuar a fazer de tudo para reencontrar o filho que todos querem que esqueça, mas que ela acredita que ainda está vivo. Uma mãe sabe.

Opinião por Artur Neves

A história deste filme é baseada no caso do desaparecimento do Rui Pedro, um menino de 11 anos que desapareceu em circunstâncias misteriosas em 4 de Março de 1998 quando passeava com um amigo, ou pelo menos conhecido da família, que à partida não indiciava qualquer inconveniente na sua companhia.

A história, tal como a realidade, são inconclusivas até ao momento dos reais motivos do desaparecimento do Rui Pedro (referido apenas por Pedro em todo o filme) e constituiu o caso mais notório de desaparecimento de menores, antes do caso Maddie no Algarve, ainda em investigação internacional.

O filme começa com as buscas do Pedro, pelos locais onde seria mais provável a sua presença, matas, bosques, ruínas de casas abandonadas por um grupo de vizinhos da família. Ao fim de algum tempo de busca infrutífera o grupo separa-se e ressalta aqui a angústia crescente de Isabel (Ana Moreira) que de por todos os meios procura o seu filho por todos os meios e em todo o lado a que tem o ensejo de ir. Aqui compete-nos elogiar o personagem construído por Ana Moreira, correspondente à verdadeira mãe de Rui Pedro, mostrando o desespero inicial pela perda, o crescendo de raiva pela inércia das autoridades, a angústia pelo passar do tempo sem qualquer progresso visível e a perseverança em não deixar cair o assunto contra todas as vozes que recomendavam o abandono e a pacificação.

Isabel, não descansa, a sua esperança em encontrar Pedro é constante, embora à custa da sua degradação física e mental mostrando-nos os traços da dor infligida por tamanha perda. Chegam sinais ténues da sua eventual presença algures, que ela segue até à exaustão de resultados. A polícia judiciária não sai muito bem na fotografia, quando 13 anos depois do desaparecimento, o novo inspetor que ficou com o caso chega a resultados suficientes para conduzirem a tribunal o principal suspeito que até ao momento se recusara a falar. O anterior responsável do caso, entretanto reformado, é chamado a depor e não apresenta justificações atendíveis para tão grande demora processual, nem para a desclassificação das testemunhas que foram finalmente consideradas. O principal suspeito recusa-se a falar em tribunal e o caso é novamente encerrado sem solução.

Há suspeitas e indícios dessas suspeitas mas a ausência de provas inibe uma condenação e tudo volta ao ponto de partida que teve como principal resultado a infelicidade de uma família e a desestruturação de uma mulher que ainda hoje não perdeu as esperanças de encontrar o seu filho desaparecido.

É uma história de amor, força e coragem de uma mulher que ainda não desistiu de procurar o seu filho que desapareceu. Tem boas interpretações, já foi premiado em festivais de cinema internacionais e representa mais uma página de bom cinema português dirigido por um realizador para o qual este filme é o seu terceiro trabalho e merece atenção futura. Interessante.

Tem estreia prevista em sala a 14 de Outubro

Classificação: 6 numa escala de 10

 

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