4 de maio de 2021

Opinião – “Minari” de Lee Isaac Chung

Sinopse

Uma terna e arrebatadora história sobre o que nos faz criar raízes, Minari acompanha uma família coreana-americana que se muda para uma pequena quinta no Arkansas em busca do seu próprio sonho americano. A casa da família sofre uma enorme mudança com a chegada da avó, matreira e desbocada, mas extremamente carinhosa. Por entre a instabilidade e os desafios desta nova vida nas rudes montanhas Ozark, Minari mostra-nos como a família é resiliente e como se constrói um lar.

Com Steven Yeun (Walking Dead; Burning) num dos principais papéis, Minari foi o filme vencedor do Grand Jury Prize e do Audience Award no Festival de Sundance de 2020. Vencedor do Globo de Ouro para o Melhor Filme Estrangeiro de 2021, Minari foi nomeado para seis prémios BAFTA e 6 Óscares® da Academia, nomeadamente para ‘Melhor Filme’, ‘Melhor Ator’ (Steve Yeun), ‘Melhor Realizador’, ‘Melhor Atriz Secundária’, ‘Melhor Banda Sonora Original’ e ‘Melhor Argumento Original.

Opinião por Artur Neves

Minari é um filme simpaticamente desconcertante… 

Simpaticamente por ser uma história de família, que valoriza a célula familiar, a entreajuda que deve existir (e existe neste caso) entre os membros que a constituem, as pequenas disputas familiares, o quotidiano de uma família coreana que resolve abandonar a sua terra em busca do sonho americano, no Arkansas rural e temente a Deus, na década de 60, com uma filha pré adolescente e um filho em idade infantil que serve como polo de atração para toda a narrativa que seria ainda mais pobre se ele não existisse.

Desconcertante… porque nos faz pensar; então e depois?... são imigrantes a lutar pela vida, pelo sustento do dia a dia obtido á custa da observação do sexo de pintos para os separarem em caixas diferentes, privilegiando as fêmeas que no futuro podem resultar em galinhas poedeiras e queimando os machos que por não porem ovos não podem esperar outro destino que não a incineração.

Minari é apenas uma erva aromática que a avó, Soonja (Yuh-jung Youn) trouxe da Coreia e plantou nas margens de um pequeno riacho nos limites da quinta, quando veio viver com a filha Monica (Yeri Han) a pedido desta e que já tinha motivado alguns atritos com o marido Jacob Yi (Steven Yeun) que privilegiava com maior interesse a rentabilização do terreno da pequena quinta para exploração agrícola de vegetais para vender na cidade, do que para cultivo de flores como era a preferência de Monica. Quero ainda deixar claro que acho forçada a atribuição a Yuh-jung Youn o prémio de Melhor Atriz Secundária na cerimónia dos Óscares 2021, quando comparando o seu desempenho com o de Olivia Colman em “O Pai” ou Glenn Close (muitas vezes nomeada e nunca premiada) em “Lamento de uma América em Ruínas” (ainda não anunciado em Portugal) que na minha opinião devem justamente sentir-se frustradas com as suas desqualificações neste certame.

Não é que o desempenho de Yuh-jung Youn tenha sido menor ou despiciente, mas o papel que lhe foi atribuído não exigia mais para lá de uma avó carinhosa, sim, matreira e desbocada como se refere na sinopse, não, mas apenas avó, coreana tradicional, com hábitos desajustados à nova vida, que após ter sofrido um AVC provoca um incêndio de consequências devastadoras a toda a família.

A vida decorre monótona, tendo no pequeno David (Alan S. Kim) o centro das suas preocupações, no seu problema cardíaco que preocupa todos e carece de cuidados especiais que o pequeno coreano nem sempre segue. O trabalho na quinta após as obrigações profissionais de Jacob Yi também é difícil de manter, só com a ajuda do seu vizinho Paul (Will Patton) um religioso fanático iluminado por uma fé religiosa que o faz caminhar cambaleante pelas ruas com uma cruz às costas, celebrando o caminho para o calvário de Jesus Cristo e impondo a sua presença a Jacob Yi que acaba por aceitá-lo como colaborador, o que faz deste filme uma história sem heróis em que apesar das suas diferenças intrínsecas ninguém é minimizado ou ridicularizado, nivelando igualmente todos os personagens.

Jacob e Monica trouxeram diferendos conjugais da Coreia que são dificilmente ultrapassáveis e o seu afastamento é dolorosamente tangível nos conflitos amargos nunca resolvidos e relegados para um limbo que o filme prefere ignorar, mostrando-nos apenas um hiato de vivência de um casal que resolveu arriscar fora do seu meio natural. “Minari” fica assim reduzido a uma erva aromática num “cozinhado insonso” que se esgota em si próprio e cujo “cozinheiro”; Lee Isaac Chung, parece que perdeu a mão.

Tem estreia prevista para 13 de Maio nas salas de cinema

Classificação: 5 numa escala de 10


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