21 de dezembro de 2020

Opinião – “Tesla” de Michael Almereyda

Sinopse

Nikola Tesla (Ethan Hawke), o enigmático pioneiro da ciência da eletricidade, é um imigrante nascido numa pequena aldeia no que agora é a Croácia. Orgulhoso, genial e socialmente desajustado, Tesla é um funcionário promissor na Thomas Edison’s Machine Works que não consegue interessar Edison (Kyle MacLachlan) no seu revolucionário motor de corrente alternada. O fim da relação de Tesla com Edison inicia uma rivalidade duradoura entre ambos. A procura de fundos de Tesla leva-o a George Westinghouse (Jim Gaffigan), outro poderoso nome na indústria que, com sucesso, financia e promove o sistema elétrico inovador de Tesla. Mas o impaciente inventor já está a planear métodos inéditos de transmitir luz, eletricidade e informação sem fios por todo o mundo. Trabalhando num laboratório a céu aberto no Colorado, Tesla transmite raios da terra para o céu e ousa aplicar as suas descobertas a um sistema sem fios global, um projeto de alto risco apoiado por J. P. Morgan (Donnie Keshawarz). Os seus progressos tecnológicos acabariam por definir e a moldar o mundo moderno.

Opinião por Artur Neves

Desde Outubro de 2019, data de estreia em Portugal do filme; “Guerra das Correntes”, já comentada neste blogue, que eu esperava por um filme sobre Nikola Tesla, para repor a verdade sobre os projetos e o desenvolvimento dos meios de utilização da eletricidade ao serviço da humanidade.

No filme “Guerra das Correntes” aborda-se a questão do advento da eletricidade do ponto de vista da iluminação, das lâmpadas elétricas desenvolvidas por Thomas Alva Edison e da sua fidelização absoluta à corrente contínua produzida através de geradores eletromagnéticos que possuíam um dispositivo comutador entre as bobinas, o coletor e as escovas, que permitiam “transformar” a corrente alternada produzida naturalmente pela máquina, em corrente pulsatória designada por Edison como contínua (DC direct corrent). Tesla, imigrante nos USA, trabalhador da empresa de Edison, (tal como referido na sinopse) mais esclarecido e com espírito mais científico do que Edison, que se assumia como cavalheiro de indústria, frequentando o círculo social mais destacado e endinheirado da época, desprezava a ideia de Tesla e da sua corrente alternada (AC alternate corrent) desqualificando e impedindo o investimento ao seu projeto de motor elétrico, que se viria a desenvolver e implantar em toda a indústria mundial até aos dias de hoje.

Tesla era de facto um homem socialmente apagado. A sua demasiada concentração nos problemas técnicos e nos seus estudos matemáticos do eletromagnetismo, ao qual deu um impulso decisivo para a sua compreensão, afastava-o dos salões das festas e do convívio sociais que poderiam financiar a concretização das suas ideias. Do ponto de vista da inovação tecnológica do início do século XX foi muito mais importante e fundamental do que Edison e este filme pretende ilustrar esse facto.

O filme em si não é particularmente generoso com Tesla, constituindo-se pela apresentação sequencial de um conjunto de cenas que ilustram o comportamento e a vida de Tesla, mas sem contarem uma história nos moldes formais utilizados em biografias. A história é narrada por Anne Morgan (Eve Hewson), filha de J.P. Morgan na qualidade de benfeitora e amiga com conotações românticas, a quem ele expressa os seus projetos de transmissão de eletricidade sem fios para todo o universo beneficiando todos os povos mesmo os das regiões mais remotas. Anne aparece como a pessoa mais próxima de Tesla na sua época, bem como, sentada em frente de um computador a consultar e a comparar as citações sobre Edison e Tesla no Google, o que denota o caráter mais documental e menos romanceado deste filme.

Tesla fala-lhe das suas obsessões teóricas, das suas ponderações matemáticas sobre o universo, enquanto manifesta uma total negligencia pelas questões comerciais da sua atividade permitindo a monumental burla de George Westinghouse (Jim Gaffigan), que lhe compra e comercializa o seu sistema de AC e quando este começa a dar frutos, renegoceia o anterior contrato com ele roubando-lhe uma significativa riqueza que lhe era devida de acordo com o contrato anterior. Por outro lado, J.P. Morgan (Donnie Keshawarz), que numa primeira fase investe nos trabalhos de Tesla, condena-o ao colapso quando lhe corta o financiamento na sequência de falta de resultados no tempo estabelecido por ele.

Na Exposição Colombiana de 1893 em Chicago o mundo fica a conhecer Tesla e Anne Morgan pergunta-nos se o sucesso dele não teria sido maior se ele aceitasse ter ao seu lado alguém mais astuto e esclarecido para os negócios, em vez de a rejeitar como parceira e companheira de vida. Tesla porém não está virado para o amor e o filme mostra-nos a pureza da sua vida teórica e a exclusividade da sua tarefa científica que culmina pelo seu repúdio pelo prazer sexual.

A narração do filme por Anne chama-nos a atenção para a vida social de Edison em contraste com o voto de celibato de Tesla, seguindo as recomendações do seu conselheiro espiritual Swami Vivekananda (Jameal Ali), que o aconselha que; "a castidade é um caminho para a iluminação” e que um cientista só se deva casar com a sua ciência, caraterizando-o como ensimesmado, confinado em si próprio, que Michael Almereyda transpõe para o filme pela forma como realiza esta obra.

Deste modo o filme embarca por caminhos sinuosos e negócios de bastidores, oscilando entre a realidade monótona e a fantasia inspirada de um homem que foi importante para todo o desenvolvimento tecnológico que atualmente usufruímos. Não desilude, mas por vezes torna-se pouco compreensível, todavia reporta-se a uma personagem incontornável do século passado, a quem devemos muito e de quem merece ser conhecida a sua verdade. Interessante.

Tem data prevista de estreia nos cinemas a 7 de Janeiro.

Classificação: 6 numa escala de 10

 

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