5 de novembro de 2020

Opinião – “No Centro do Labirinto” de Donato Carrisi

Sinopse

Numa manhã de inverno, Samantha Andretti foi raptada quando ia para a escola. Quinze anos depois, acorda num quarto de hospital sem memória de onde esteve ou do que aconteceu. Ao lado dela está um 'profiler', o Dr. Green (Dustin Hoffman), que promete ajudá-la a recuperar a memória e a capturar o monstro, mas para que tal aconteça terá de ser dentro da mente de Samantha. "Isto é um jogo, certo?", repete ela, insegura.

Bruno Genko (Toni Servillo) é um detetive privado contratado há quinze anos pelos pais de Samantha para encontrar a filha deles e que, quando a menina reaparece, se sente em dívida e tenta capturar o homem sem rosto que a raptou. A busca de Genko é também uma corrida contra o tempo. O prognóstico médico prevê que só tem mais dois meses de vida, que terminarão no mesmo dia em que Samantha regressa da escuridão. Quem irá chegar à verdade primeiro: o detetive ou o traçador de perfis?

Algures lá fora, há um labirinto de portas. Atrás de cada porta esconde-se um enigma, um truque. Neste jogo, o labirinto que o mantém prisioneiro já está dentro de si.

Opinião por Artur Neves

Este é daqueles filmes pouco frequentes, em que o espectador é conduzido por uma narrativa à qual se junta uma demonstração em flashback, que ao longo do tempo somos levados a pensar que alguns dos factos mostrados talvez não pertençam ao mesmo evento, muito embora exista entre eles uma relação próxima, como uma imagem no espelho que não corresponde ao objeto colocado em frente dele.

Donato Carrisi faz aqui o plenum de escrever o romance, construir o argumento e realizar o filme, apostado em nos confundir com duas histórias paralelas que durante 130 minutos nos mantêm vivamente interessados para tentar descortinar quem é quem, para lá de levantar suspeitas sobre a identidade do verdadeiro criminoso que na realidade não é nenhum dos personagens que nos são apresentados. Ele existe, nós vemo-lo mascarado com uma mascara de coelho na cabeça, conhecemo-lo por Bunny, mas não é revelado quem seja, nem ao que vem concretamente, porque por várias vezes são-nos apresentados sinais e alusões que escondem a verdade para manter o jogo com que o filme envolve o espectador para ganhar a sua atenção.

Ambos os parágrafos da sinopse estão corretos e sumarizam todo o enredo do filme, só que pertencem a duas histórias diferentes embora entrelaçadas no seu desenvolvimento e atribuição, em que a primeira reporta-se à busca de Samantha Andretti pelo investigador arrependido, Bruno Genko que demorou 15 anos em interessar-se pelo caso que lhe foi confiado pelos pais da menina raptada e só o anúncio do seu previsível falecimento por doença o faz vencer o remorso sentido ao longo do tempo de inação.

A segunda história reporta-se ao jogo entre a falsa Samantha Andretti, Sam, (Valentina Bellè) com o Dr. Green, um profiler que pretende através da análise das memórias de Sam, construir o perfil do seu sequestrador, que o realizador nos leva a acreditar tratar-se da mesma Samantha Andretti, a menina desaparecida procurada por Bruno Genko. O elemento comum é o labirinto em que ambas as vítimas estão contidas e a verdadeira caça está dentro da nossa mente, quando somos levados a acreditar numa narrativa, quando não sabemos que não possuímos todos os dados de um problema e os que efetivamente possuímos não são totalmente claros.

Admito que talvez nem todos possam gostar de um argumento que pode ser tudo, menos linear e que está concebido para provocar uma continuada expectativa no espectador sobre qual será o verdadeiro sequestrador, através dos elementos contraditórios que nos são apresentados presumidamente para encontrarmos a verdade, mas qual verdade?... será que só existe uma verdade?... As vítimas revelam muitos medos e o medo pode ter muitas faces que a nossa mente retém em lugares inacessíveis da nossa memória para que causem o menor distúrbio possível no dia a dia da nossa vida. É tudo isto que este complexo filme nos sugere, num intrincado jogo de identidade contido num enredo em labirinto multifacetado.

Na sua essência é uma excelente história que nos prende durante todo o tempo e recomendo a todos aqueles que aceitem a complexidade como um desafio. Estreia nos cinemas em 10 de Novembro.

Classificação: 7 numa escala de 10

 

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