20 de outubro de 2020

Opinião – “Bangla” de Phaim Bhuiyan

Sinopse

Escrito, realizado e protagonizado por Phaim Bhuiyan, é uma obra ficcional inspirada na vida do realizador e tem sido comparada ao trabalho de Nanni Moretti pelo seu tom mais irreverente. Bangla é uma primeira obra divertida e encantadora sobre integração e identidade.

Opinião por Artur Neves

Phaim Bhuiyan é neste seu primeiro trabalho de longa metragem, um completo “One Man Show”, considerando que além de realizar e protagonizar o filme, também escreveu o argumento com base na sua experiencia pessoal e completa o quadro, como narrador das motivações da história, bem como, das suas próprias reflexões sobre os eventos que nos vai mostrando, olhando-nos nos olhos sem reservas, a nós espectadores.

É um claro trabalho de baixo orçamento mas que não deixa de levantar questões sociais conflituantes que até ao presente não tiveram resposta absoluta, nem foram objeto de um debate sério. A questão de fundo que ele coloca no filme pode formular-se assim: Será curial e correto que a segunda geração dos emigrantes num qualquer país de acolhimento, seja obrigada a seguir e praticar a religião e a tradição dos seu progenitores?... ou deverá aderir à cultura do país onde nasceu, cresceu, vive e lhe proporciona um local de trabalho e perspetivas de futuro?...

Uma resposta apressada pode indicar que lhe cabe a ele decidir, mas tal como mostra esta história, a influência familiar, as instituições instaladas na comunidade e até o lugar onde vive, no meio de outros emigrantes seus semelhantes, constituem um significativo lastro a vencer para conseguir essa emancipação, até mesmo no caso de Phaim, que conscientemente questiona essas práticas e reflete sobre elas.

Phaim trabalha como vigilante num museu, constituiu uma banda que toca música do Bangladesh em festas e casamentos, frequenta a mesquita, não come carne de porco nem bebe álcool, mas caiu fulminantemente de amores por uma italiana, Asia (Carlotta Antonelli) bonita, desembaraçada, autónoma e progressista em termos de relacionamento amoroso, que esbarra na resistência de Phaim em seguir os seus impulsos à revelia da submissão à sua religião e às tradições dos seus pais.

Este relacionamento traz-lhe constrangimentos vários com a sua comunidade que ele não enjeita, dirime-os com graça em termos de comédia e tenta resolvê-los com um amigo que vende droga num banco de jardim e com os concelhos que procura junto do mullah da sua mesquita, o qual vimos a saber ter mais problemas do que ele nesta área dos sentimentos.

Dos pais, não obtém mais do que a intransigência da mãe, profundamente agarrada à tradição, o desinteresse do pai que vive alheado nas sua memórias e a competição da irmã mais velha, também a braços com problemas semelhantes mas que só podem ser abordados de outro ponto de vista por ser mulher.

A abordagem está engraçada, bem contada, maioritariamente de câmara na mão, tendo sido vencedor do Prémio do Público na última edição em 2019, da Festa do Cinema Italiano. Vai estrear em sala no próximo dia 22 de Outubro. Interessante.

Classificação: 6 numa escala de 10

 

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