14 de agosto de 2020

Opinião – “A Troca das Princesas” de Marc Dugain

 

Sinopse

Em 1721, o Regente de França, numa tentativa de selar a paz com Espanha, oferece ao Rei espanhol, um casamento entre os herdeiros respectivos: Luís XV, de 11 anos, e Mariana Victoria, a infanta espanhola de 4 anos. O Regente propõe também a sua filha, Mademoiselle de Montpensier, de 12 anos, ao Príncipe das Astúrias, o herdeiro do trono de 14 anos. Madrid responde com entusiasmo às propostas. A troca das princesas realiza-se numa pequena ilha, entre os dois países. Mas nada corre como planeado.

Opinião por Artur Neves

A sinopse anterior descreve sucintamente todo e enredo da história em que baseia este filme de Marc Dugain, realizador e argumentista francês, nascido em 1957 no Senegal, que tem no seu curriculum diversas obras de caris autobiográfico e histórico referente a personalidades como Joseph Staline ou J. Edgar Woover.

A história decorre quase completamente no interior dos palácios para onde o regente do Reino da França, Philippe d'Orléans engendrou o plano de casar o futuro rei de França, Luís XV, de 11 anos, com Marie-Anne-Victoire d'Espagne, de 4. Não satisfeito com isso, ele acrescenta ao “lote” a oferta da sua filha Louise-Élisabeth d'Orléans, de 12, para desposar o príncipe herdeiro do trono espanhol, Luis, de 14 anos que nos é apresentado como um imberbe totalmente impreparado para viver, ou casar, quanto mais para reinar.

É este o mérito do filme e do argumento que o suporta, escrito por Chantal Thomas que tem provas dadas nesta área de desmontagem da convenção história sobre as monarquias europeias que até hoje se revelam pelos piores motivos.

No presente caso é o desespero de Philippe d'Orléans, (Olivier Gourmet) a sua incapacidade e impreparação para assumir as tarefas régias durante a infância de Luis XV que o leva a tentar estabelecer uma ponte e uma amarração com o futuro, através do enlace dos atuais infantes, independentemente das suas preferências. Era o normal na época, bem sei e a história também nos mostra isso, mas só a ociosidade da sua vida palaciana e a total ausência de preocupação com o povo e os destinos da nação é que o faria pensar em levar o jovem Luis XV a assumir um compromisso de casamento com uma criança de 4 anos que o filme até nos mostra ter uma presença de espírito e de premonição invulgares para a idade.

Só pela idade e pela impreparação generalizada destes quatro peões infantis, usados nesta absurda empresa de vinculação dinástica pode-se suspeitar do sucesso da ideia, mas todo o ambiente vivido na corte de França e de Espanha que o filme nos mostra, sugere-nos claramente à sua conclusão catastrófica de devolução das “encomendas” às suas origens naturais de onde não deveriam ter saído.

Rodado quase completamente no ambiente interior dos palácios, o filme apresenta uma dinâmica lenta e soturna, filmado à luz de velas, no interior de salões, onde por vezes se espera que uma acção aconteça. Porém, esta fica retida no protocolo das cerimónias da corte e nos pensamentos dos seus agentes, mostrando-nos as vidas estéreis dos detentores do poder, embora inocentes nas suas atitudes, porque ainda ingénuos nos objetivos a atingir.

Fica-nos assim uma revelação histórica, por vezes comovente, dos poderes reais e da monarquia, interpretado por atores bem escolhidos com particular destaque para Marie-Anne-Victoire (Juliane Lepoureau) que apesar da sua tenra idade obtém um excelente desempenho.

Nas salas a partir de 20 de agosto

Classificação: 5 numa escala de 10

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