13 de agosto de 2020

Opinião – “O Rei de Staten Island” de Judd Apatow


 Sinopse

Scott (Pete Davidson) é um caso típico de “síndrome de Peter Pan” desde a morte do seu pai, bombeiro, quando tinha 7 anos. Agora, com 20 e tal anos, e tendo alcançado pouco ou nada, ele tem o, aparentemente inalcançável, sonho de se tornar tatuador. A sua ambiciosa irmã mais nova (Maude Apatow) vai para a Universidade, mas Scott continua a viver com a sua exausta mãe (Marisa Tomei), enfermeira nos Cuidados Intensivos, passando os seus dias a fumar erva, nas ruas com os amigos e em encontros secretos com Kelsey (Bel Powley), sua amiga de infância.

Quando a sua mãe começa a namorar com Ray (Bill Burr), um bombeiro fala-barato, este relacionamento irá desencadear uma cadeia de acontecimentos que forçarão Scott a enfrentar a sua dor e andar para a frente com a vida.

O elenco do filme inclui ainda Steve Buscemi, como Papa, um bombeiro veterano que assume o papel de protetor de Scott, e Pamela Adlon como Gina, a ex-mulher de Ray.

Opinião por Artur Neves

A história deste filme é baseada na vida de Scott Davidson, pai de Pete Davidson, um bombeiro incluído no contingente de combate ao incêndio do World Trade Center em 11 de setembro de 2001 que faleceu no desempenho da sua função e que é lembrado pela National Fallen Firefighters como um homem corajoso, bom esposo e pai de família. A história contada com humor, desvelo e humanidade por Judd Apatow, realizador americano nascido em Nova Yorque pretende lembrar heróis anónimos que cuidam das nossas vidas. Pete Davidson, o filho, é um homem de temperamento sofrido e dolorosamente adorável que colaborou neste argumento semiautobiográfico em homenagem ao seu pai.

Ele já entrou na idade adulta mas continua meio perdido nos seus pensamentos e nos seus projetos de futuro. Está a meio caminho entre ser tatuador ou outra coisa qualquer que o mundo permita que ele seja. Situação semelhante é a que tem com a sua amiga de infância Kelsey (Bel Powley), com quem mantém uma relação estranha que ele próprio não sabe definir mas prefere que se mantenha assim para não ter de assumir responsabilidades que o seu complexo de “Peter Pan” não lhe recomenda.

Pete tem amigos com quem fuma maconha e faz projetos que não cumprirá porque no fundo ele tem bom íntimo e foi bem educado pela sua família que lhe inculcou os preceitos da ordem e da honestidade que ele segue sempre que pode, isto é, sempre que o medo de ser preso ou de ser admoestado pela mãe fala mais alto do que os desejos desviantes que o consomem.

A sua saúde é fraca e a sua clarividência mental nunca tiveram melhores dias, o que lhe permite aproveitá-las como justificação para a sua inércia e para a sua incapacidade geral. Todos estes problemas se agravam quando a sua mãe Margie Carlin (Marisa Tomei) começa a namorar Ray (Bill Burr) como consequência de um problema que ele próprio gerou na sua ânsia de praticar a profissão de tatuador. Todos os seus amigos já foram tatuados por ele e não estão completamente satisfeitos com os resultados porque ele ainda está em auto aprendizagem e as suas tatuagens apresentam defeitos.

Toda a história é uma sequência de avanços e recuos da vida de Scott Carlin para a qual o ator Pete Davidson foi sem dúvida uma boa escolha com o seu corpo esguio, os olhos esbugalhados e a sua face de espanto nas situações mais vulgares. A história tem um desenvolvimento lento que nos permite interiorizar todo a confusão e sofrimento na mente daquele adulto jovem que não sabe como afirmar-se, criar o seu espaço e crescer.

O filme apresenta-nos assim um relato na primeira pessoa, muito franco e honesto do que pode acontecer à estabilidade de uma família na sequência de uma tragédia. Tem ainda a vantagem de não cair na lamechice, embora conte uma história triste e por vezes deprimente que embora não sendo inédita, está bem contada com um humor triste mergulhado em solidão.

Vale a pena assistir a partir nas salas de Lisboa a partir de 20 de agosto

Classificação: 6,5 numa escala de 10

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