12 de fevereiro de 2020

Opinião – “Gretel & Hansel” de Oz Perkins


Sinopse

A história que todos conhecemos esconde um segredo sinistro. Há muito tempo, numa distante terra de contos de fadas, Gretel conduz o irmão para um bosque escuro em busca de comida e trabalho, encontrando em vez disso o caminho para um mal aterrorizador.
Do visionário realizador Oz Perkins, chega-nos uma nova e aterradora abordagem a um conto clássico, protagonizada por Sophia Lillis (It).

Opinião por Artur Neves

“Hänsel und Gretel” é um contro da tradição oral alemã, escrito pelos Irmãos Grimm e publicado pela primeira vez em 1812 como sendo uma versão esterilizada para a classe média do século XIX com a intenção de ilustrar a dureza da vida na Idade Média, devido à fome e á miséria generalizada, em que um casal profundamente carente de comida para se alimentar, abandona os filhos ao seu destino na floresta, para os salvar de serem comidos por eles próprios, se não pudessem resistir a essa tentação.
Nas suas deambulações pela floresta os dois irmãos encontram uma casa que pertence a uma bruxa que os alicia e entrar apresentando-lhes uma mesa com as maiores iguarias que eles alguma vez tinham visto, mas cuja verdadeira intenção era comer o pequeno Hansel, convencendo Gretel a ajudá-la a preparar a refeição.
Osgood (Oz) Perkins, ator e realizador americano, adapta este conto a um filme de terror, o que já anteriormente tinha sido realizado com mais espetacularidade, mas sem tanta intensidade dramática e elegância formal submetida à frugalidade da época em que a história se desenrola tornando este filme austero e sombrio.
Não se percebe a inversão dos nomes considerando que a história é praticamente a mesma da original. A caminhada pela floresta dos dois irmãos é longa e descritiva, recheada de revelações introspetivas daqueles dois seres ligados familiarmente mas que a carência alimentar e a fome que os assalta lhes provoca a visão sonhadora de outros seres e de outras realidades em que a presença das árvores somente acentua a sua solidão e isolamento.
O filme anima um pouco depois do encontro com uma misteriosa casa triangular situada na floresta. É a casa da saciedade com tantas e tão boas iguarias com que Holda (Alice Krige), a bruxa, alicia Gretel (Sophia Lillis) e Hansel (Samuel Leakey) e entrarem em casa para desfrutar do manjar que lhes é servido. A casa apresenta exteriormente uma forma aparentemente normal mas a sua dimensão interior é infinita, com uma cave onde cabem todas as magias e feitiços seguindo a fantasia de um argumento que se afirma numa estética baseada em cenários impressionantes e grotescos.
É a fase da consciencialização de Gretel e da responsabilização pelo seu pequeno irmão apesar de intimamente o acusar como responsável por se encontrarem ambos naquela situação e do ressentimento moral por ter recusado uma proposta anterior, atualmente vista com outros olhos.
Como fantasia, o filme segue os cânones do conto de fadas embora transformando inteligentemente a história original. Como filme de terror, o realizador procurou intensificar o sinistro que se adivinha e a inquietação subtil que perpassa em quase todas as cenas, do que o gore tradicional deste género, como tal, pode ser aceitável para um público que prefere o racional perturbador, em vez da morte gratuita e do sangue a jorros. Se não preferir a magia dos contos de fadas há melhores sugestões em cartaz.

Classificação: 5 numa escala de 10

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