8 de novembro de 2019

Opinião – “Le Mans '66: O Duelo” de James Mangold


Sinopse

“Le mans 66”: O Duelo”, protagonizado pelos oscarizados Matt Damon e Christian Bale, é baseado na história real do visionário car designer Carroll Shelby (Matt Damon) e do destemido piloto britânico Ken Miles (Christian Bale). Juntos lutaram contra os regulamentos, as leis da física e os seus próprios demónios com o objetivo de construir um carro de corrida revolucionário para a Ford Motor Company e vencer os carros de Enzo Ferrari nas 24 horas de Le Mans em França 1966.

Opinião por Artur Neves

Numa observação ligeira pode pensar-se que se trata de um filme de carros de corrida, ou até de máquinas de competição em velocidade, mas “Le Mans 66” é muito mais do que isso, é uma história de castas, de orgulho, de tenacidade e perseverança, de carne e sangue suportados por máquinas de metal e fogo que chegam aos 320 km/h e sem levitar, transportam o seu ocupante para o lugar do seu espírito e para a paz que este pretende atingir na loucura do seu veloz deslocamento controlado.
Estamos na década de 60 e Henry Ford II, (Tracy Letts). que recebeu o negócio do pai, confronta-se com uma empresa paralisada. Os carros não agradam, vendem-se dificilmente, sofrem desenvolvimentos menores que não agradam ao público, mas que aparentemente servem a corporação, os seus pergaminhos, a sua tradição apoiada por uma bateria de funcionários corporativos que apesar de endeusarem o seu patrão não lhe trazem valor acrescentado, nem cash-flow ao departamento comercial. Henry Ford II, sente-se preso na sombra do império e subjugado pelo peso da herança.
Para se libertar dos medos que o assaltam enverada pelo salto qualitativo do seu produto através da conceção de uma máquina que possa vencer a Ferrari de Enzo Ferrari (Remo Girone), na prova rainha de resistência da época; as 24 do circuito de Le Mans em França, através da contratação do melhor profissional no ramo, Carroll Shelby (Matt Damon), um piloto da Aston Martin que venceu Le Mans 1959 e que teve de abandonar as provas por motivos de saúde.
É aqui que a batalha começa e que será decidida na pista de Le Mans por Carroll Shelby que se fará acompanhar pelo seu piloto de eleição Ken Miles (Christian Bale), imposto após dura luta ao patrão da Ford que o recusa por não ter o tipo e a formatação corporativa dos trabalhadores Ford.
James Mangold, realizador americano, nascido em 1963, que já nos ofereceu “Vida Interrompida” em 1999, e "Heavy" (1995), o seu filme mais dramático não passado em Portugal, constrói uma história baseada num caso real que nos mostra a aspereza emocional do confronto entre pessoas que embora situados em mundos diferentes precisam umas das outras e sabem como conduzir os seus objetivos para concretizar as obras que darão felicidade a ambos, embora se mantenham separados pela distância entre os seus mundos.
Independentemente da personalidade real de Carroll Shelby e Ken Miles, o argumento desenvolve personagens bem conseguidos pelos seus intérpretes. Mat Damon constrói um britânico decidido, com ideias e vontade própria embora algo melancólico e Christian Bale apresenta-se como nunca o vira-mos, um americano rural, desbragado, calculista, determinado nas suas opções e com uma família constituída pela mulher; Mollie (Caitriona Balfe) que embora com um pequeno papel mostra sentido e determinação em todos os seus atos, tanto no afeto por Ken, como na hora de impôr a sua vontade quando sente fraqueza do lado de Ken, ou nos cuidados ao filho Peter (Noah Jupe), mostrando que a felicidade familiar é uma componente de construção diária e os três formam uma equipa equilibrada e coesa.
De toda esta história ressalta o valor da determinação em alcançar um objetivo e constitui uma homenagem justa a uma máquina, o modelo Ford GT40 que foi construído para destronar a Ferrari que tinha sido vencedora do circuito das 24 horas de Le Mans entre 1960 e 1965 consecutivamente, tendo conseguido esse trofeu em 1966 com três carros Ford nos 1º, 2º e 3º lugares, constituindo a nova referência da marca que a potenciou no mercado. Muito interessante, bem construído e interpretado, merece ser visto e recomendo.

Classificação: 8 numa escala de 10

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