5 de abril de 2019

Opinião – “Piercing” de Nicolas Pesce


Sinopse

Reed despede-se da sua mulher e do filho bebé, aparentando ir numa viagem de negócios. Mas em vez de roupas, a sua mala contém um kit de bondage e um picador de gelo. O plano está traçado: irá fazer check-in num hotel, ligar para um serviço de acompanhantes, e matar uma prostituta inocente. Mas o plano de Reed não contava com Jackie, a sedutora e misteriosa acompanhante que entra no seu quarto e altera completamente tudo aquilo que Reed meticulosamente tinha imaginado. À medida que a noite avança, um pesadelo diabólico instala-se. Uma comédia negra baseado num livro de Ryu Murakami, que também inspirou o clássico "Audition" (1999), de Takashi Miike.

Opinião por Artur Neves

Este filme fundamenta-se (embora remotamente) no romance Japonês citado na sinopse, mas abordado por outro prisma, considerando que em “Auditon” o que se pretende mostrar é a violência bizarra dos jogos sadomasoquistas de uma jovem candidata a atriz que se apresenta numa representação elaborada, fazendo-se passar por quem não é para assim cativar os que acreditam nela.
Nesta abordagem, temos a mesma tendência desviante da pretendente, mas noutro contexto, considerando que quem deveria ser morta era ela por um meticuloso assassino, pai de família frustrado na sua existência, que decide “só porque sim” assassinar uma acompanhante de luxo para se divertir e encontrar alguma compensação para os seus insucessos.
Para que nada falhe o putativo assassino ensaia o golpe em todos os pormenores, simulados até à exaustão, imaginando o som dos membros a serem cortados e o sangue a jorrar, com a expressão mais natural que se possa conceber que o realizador detalha com precisão, e excesso, digo eu, fazendo derivar o filme e o espírito da obra em que se inspirou para a comédia negra com sangue a jorros e situações caricatas que destorcem o drama de horror e mistério que lhe deu origem.
Não podemos dizer que Nicolas Pesce se destaca pela negativa neste trabalho. O seu trabalho anterior; “Os Olhos da Minha Mãe” de 2016, também um drama de horror e morte está muito bem conseguido o que indicia ser mais bem utilizada a sua arte com histórias de elevada intensidade dramática do que em trabalhos como o atual onde a loucura dos personagens e a sua exuberante convicção nos seus objetivos, os leva a comportamentos que criam ambientes tensos que subitamente caem no ridículo e no improvável e nos fazem perder, ou pelo menos reduzir a expetativa inicial.
A mulher que lhe aparece no quarto não é a que ele tinha requisitado, mas antes Jackie (Mia Wasikowska) muito diferente do que Reed (Chistopher Abbott) esperava, com quem ele se vê compelido a desenvolver um romance imprevisto, constituindo dois personagens credíveis até ao final abrupto que não vou revelar para não retirar o mais interessante do filme e que justifica a classificação atribuída.

Classificação: 6 numa escala de 10

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