24 de abril de 2019

Opinião – “O Professor e o Louco” de Farhad Safinia


Sinopse

Baseado no best-seller de Simon Winchester, O PROFESSOR E O LOUCO é uma extraordinária história verídica de génio, obsessão e loucura, centrada em dois homens extraordinários, que em 1857 conceberam o Dicionário de Inglês de Oxford, um dos projetos mais ambiciosos e revolucionários da época
O Professor James Murray (Mel Gibson) aceita o desafio de criar o dicionário mais abrangente de sempre, mas sabia que necessitaria de um século para recolher todas as definições necessárias. Contudo, através do uso de ajudas fornecidas por pessoas de todo o mundo, a obra poderia ser acabada em meras décadas.
Durante o processo de recolha de definições, o Professor Murray dá-se conta que um só homem tinha enviado mais de dez milhões de definições. O comité decide honrar o trabalho desta figura, W.C. Minor (Sean Penn), mas acaba por descobrir que ele é um veterano da Guerra de Secessão Americana e um assassino condenado e preso num asilo para os criminosos loucos.

Opinião por Artur Neves

Quando folheamos um dicionário não nos detemos, nem sequer valorizamos o imenso trabalho que reside por detrás desta obra, que consiste em recolher ordenadamente todas a palavras possíveis num determinado idioma para conferir-lhes um significado de acordo com os diferentes contextos em que elas possam intervir. Este filme conta pois a história da organização dum dos mais conceituados dicionários do mundo, com base no livro sobre o mesmo tema mas que eu tenho dúvidas sobre o interesse da passagem para cinema desta história, conduzido por um realizador Iraniano, com pouca experiência e inerente pouco ascendente, sobre dois atores consagrados como Mel Gibson e Sean Penn, sobejamente conhecidos pela sua irreverencia e truculência no seu trato normal.
Na realidade Farhad Safinia, não chegou a concluir o filme, tendo sido substituído por outra pessoa e o seu nome foi sumariamente apagado nas cópias que foram distribuídas em alguns mercados. Em Portugal temos a versão “original” sem que isso represente uma vantagem.
Não querendo repetir a sinopse direi que a história se desenvolve em torno de dois personagens muito diferentes, alternando as cenas entre as vidas do Professor Murray e de William Chester Minor que desde cedo é identificado como esquizofrénico, com obsessão de se sentir perseguido por uma das suas vítimas até ser preso numa prisão manicómio, depois de num dos seus desvarios ter assassinado um inocente que confundiu com o seu pseudo perseguidor.
Tratando-se de uma biografia não é normal que somente estes dois personagens envelheçam e os outros, tais como; a esposa e filhos do Professor Murray e a mulher e os filhos da vítima assassinada pelo W.C. Minor se mantenham inalterados e jovens ao longo de todo o filme.
Muito embora o conhecimento entre os dois decorra do trabalho prestado incognitamente por W. C. Minor, e esteja de acordo com a descrição do autor do best-seller, soa pouco provável que duas personalidades tão dissonantes tenham tido este relacionamento tão profícuo.
Por outro lado, para conferir alguma emoção ao relato da construção de um dicionário, a história inclui um romance de amor entre Eliza Merrett (Natalie Dormer) mulher da vítima assassinada e W.C. Minor, que nos intervalos lúcidos da sua loucura lhe corresponde efusivamente como expiação do remorso pelo seu precipitado crime. Já para a esposa de Murray o argumento não sabe muito bem o que lhe fazer e destaca-a numa defesa inusitada do trabalho do marido, em que ela não está envolvida nem conhece em pormenor.
Todavia o desenvolvimento do trabalho não deve ter sido tarefa fácil entre o autor, o editor, o diretor da Universidade de Oxford e o filme retrata com suficiente qualidade a rivalidade latente entre estes intervenientes, numa época de relações fortemente convencionais e hierarquizadas socialmente, em plena época Victoriana da velha Inglaterra. Para este pormenor vai toda a classificação atribuída, embora no seu todo, este filme seja fraco.

Classificação: 6 numa escala de 10

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