28 de novembro de 2018

Opinião – “Um Desconhecido em Casa” de George Ratliff


Sinopse

Bryan e Cassie decidem alugar uma casa de campo no interior de Itália para passar um fim de semana romântico, numa última tentativa de reconciliação e de reatarem a sua relação. Mas os planos do casal serão afetados pelas intenções duvidosas do proprietário da casa que alugaram…

Opinião por Artur Neves

Este filme pode classificar-se como sendo um thriller psicológico e isso não teria qualquer relevância para além da qualidade do argumento, se não existisse um epílogo verdadeiramente perturbador apresentado nos últimos minutos que recentra toda a história na violação de privacidade, que aliás consiste em parte fundamental do argumento, mas que com este twist alarga o âmbito ao mundo da comunicação digital paga por contrato (pay TV) que é verosímil, real e pode neste momento estar a ser utilizado em alguma parte deste mundo a caminho da loucura completa.
O filme começa com a viagem dum casal para umas curtas férias no campo para recuperação da relação que se deteriorou por motivos que veremos depois e isso indicia-nos logo que a “coisa” não vai funcionar por semelhança com outros argumentos do género o que torna a história razoavelmente previsível. O ambiente é de facto sossegado, muito sossegado até, o que nos põe de alerta para o sangue que aí vem.
Dentro do género a realização de Ratliff, é competente e segura, utilizando um jogo de luz e sombra e espaços negativos para enquadrar os personagens que se perdem nos seus jogos de ternura e desespero sem contudo verificarem algum sucesso. Consegue transmitir-nos os pormenores de uma vivência constrangida entre ambos mostrando os detalhes ínfimos da infelicidade entre Bryan e Cassie (Emily Ratajkowski) que promovem os problemas que se irão seguir.
Bryan Palm (Aaron Paul) nunca se encontrou em todo o filme, encarnando um personagem hesitante e com dúvidas, que deve colidir com a personalidade do próprio ator, não transmite verossemelhança na representação. Já senti isto noutras interpretações deste ator. Contrariamente ao Federico (Riccardo Scamarcio) que tem um papel mais complicado entre o sinistro e o evasivo mas não dececiona, esperando-se dele em todo o filme uma explosão de violência que não aparece, constituindo assim um personagem particularmente perturbador e transmitindo um medo velado em quase todas as cenas onde aparece.
É compreensível a evolução deste tipo de filmes para o novo género em presença, considerando o terrorismo e a insegurança transmitida pelos atos conhecidos, que justifica a observação sistemática de todos e de cada um nos seus atos quotidianos, onde todos somos observados 24 horas por dia, 7 dias por semana e as imagens resultantes processadas para análise futura. Este comportamento e a facilidades de obter bons resultados com a atual tecnologia serve igualmente os observadores tóxicos na sua obsessão compulsiva de violação da privacidade alheia para com isso obter proventos ou vantagens, tornando isso o terror dos nossos dias. A miniaturização dos componentes, câmaras, microfones, permitem a sua dissimulação nos mais variados lugares e a internet faz o resto, permitindo a divulgação imediata das imagens tornando o mundo num enorme reality show. O problema reside em assimilarmos isso como um “novo normal”, ao que anteriormente considerava-mos como paranóia, convictos de que nada disso representa consequências reais. Interessante!...

Classificação: 6 numa escala de 10

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