2 de fevereiro de 2016

Opinião – “O Caso Spotlight” de Tom McCarthy


Sinopse:
Quando a tenaz equipa de repórteres denominada "Spotlight" investiga as alegações de abuso no seio da Igreja Católica, acaba por descobrir décadas de encobrimento aos mais altos níveis das instituições de Boston - religiosas, legais, e mesmo do governo, desencadeando uma onda de revelações por todo mundo.

Opinião por André Olim
Diversas denúncias de abusos sexuais de menores por parte de membros da Igreja Católica têm vindo a público nos últimos anos, lançando um importante debate na sociedade sobre a condição de protecção da Igreja. Mas tudo começou na verdade em 2001 quando a equipa Spotlight do The Boston Globe arrancou uma investigação de largos meses sobre centenas de abusos na cidade norte-americana que eram ocultados pelos mais altos representantes da instituição milenar, nunca chegando a tribunal ou sequer ao conhecimento público. Ao longo de dois anos, a equipa Spotlight publicou vários artigos sobre o tema, vencendo em 2003 o Pulitzer por serviço público. Rodeado por um elenco de luxo, Tom McCarthy, com o argumentista Josh Singer, adapta esta destemida investigação ao grande ecrã fazendo jus à qualidade da investigação do The Boston Globe, não se coibindo da sua temática sensível ou de pintar um retrato negro sobre a Igreja Católica sem atacar qualquer crença. Adaptar não basta e o realizador vai para além da temática, usando como motriz da sua narrativa a prática da imprensa e a relevância da sua persistência, independência e liberdade de actuação.

A certa altura de O Caso Spotlight, a insaciável Sacha Pfeiffer, interpretada por Rachel McAdams, pede a uma das vítimas que descreva detalhadamente os abusos de que foi alvo. A descrição, sugere, deve ser crua e dura, deve ser sentida como um murro no estômago para que não fique a pairar qualquer dúvida sobre o mal infligido. O realizador norte-americano estende esta sugestão à sua realização e o elenco, consciente da importância e da sensibilidade do tema, nunca perde foco nem reduz carga ao seu comprometimento. Mark Ruffalo é particularmente empenhado no papel do luso-descendente Michael Rezendes, provando que tem mais estofo para papéis criteriosos do que lhe é normalmente atribuído. Michael Keaton, enquanto líder da equipa Spotlight, volta a oferecer uma interpretação cuidada, dando continuação à retoma iniciada com Birdman.

O Caso Spotlight coze em banho-maria durante grande da sua narrativa, mas é assim que atinge o ponto de rebuçado em que se transforma, questionando vítimas e perpetradores, cúmplices e denunciadores com o mesmo discernimento, um ponto de rebuçado inspirado sobre o jornalismo genuíno e sobre a sua relevância no mundo moderno. Sem comprometer em nenhum momento, Tom McCarthy prova que está para as curvas.

Classificação: 4 em 5 estrelas

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