23 de março de 2022

Opinião – “O que Vemos quando Olhamos para o Céu?” de Aleksandre Koberidze

Sinopse

Um encontro casual à porta de uma escola em Kutaisi, na Geórgia. Lisa e Giorgi chocam e um livro cai no chão. Visivelmente atordoados, marcam um encontro sem terem sequer dito os seus nomes. É amor à primeira vista e, como que encantadas, as coisas começam a ganhar vida: a câmara de vigilância é um mau-olhado, o cano de esgoto um oráculo. Fecham os olhos e os amantes são amaldiçoados, condenados a acordar no dia seguinte com uma aparência diferente. Esse obstáculo sobrenatural ao seu reencontro torna-se a passagem para um mundo governado pela magia do quotidiano em toda a sua beleza simples.

Opinião por Artur Neves

A pergunta formulada no nome do filme fica sem resposta até ao fim, mesmo depois de 150 minutos em que a câmara percorre a cidade de Kutaisi na Georgia mostrando-nos as banalidades quotidianas de animais e pessoas que vagueiam pela objetiva do realizador sem que com isso nos seja apresentado um fundamento, uma história, um argumento de ideia que o filme pretende consubstanciar.

O filme começa com um encontro fortuito entre dois personagens Lisa (Ani Karseladze) com Giorgi (Giorgi Ambroladze) que nos faz pensar numa história que começa acidentalmente mas que não tem continuação porque o filme não tem uma história que o suporte. O filme tem duas partes em que na primeira parte somos informados dos acontecimentos banais quotidianos durante a final de uma Copa do Mundo que naquela cidade, segundo o que nos é apresentado, não tem grande interesse e na segunda parte o realizador centra-se nas banalidades que acontecem aqui e ali como um pequeno pardal, crianças brincando num parque infantil, cães vadios ou nem tanto, mas pulando aqui e ali ao sabor dos seus impulsos e todo um conjunto de observações do mesmo género em jeito de documentário que atira para um papel residual o potencial namoro que nos é apresentado inicialmente.

Aliás, quando o par inicial é forçado a juntar-se a outros casais que o filme engendra, Lisa e George sem se conhecem por são desta vez representados por outros atores (Oliko Barbakadze e Giorgi Bochorishvili) respetivamente que a custo se juntam aos outros casais, presumindo eu, por não sentirem qualquer afinidade com eles. Sou eu que digo, não é o filme que nos dá alguma pista. Os diálogos são mudos para o espectador, porque toda a presumível ação do filme é-nos descrita em off por um narrador, o realizador Koberidze, que descreve para o público o sentido dos acontecimentos que vemos ocorrerem em todas as banalidades que são filmadas que se estendem por duas hora e meia em que ficamos á espera de um sentido para tudo aquilo.

Nas notas de produção pode ler-se numa entrevista feita ao realizador que o nome do filme saiu da atitude de Lionel Messi que olha para o céu sempre que marca um golo e com essa ligação ele recebe algo que não é possível ver-se, o que confere ao filme uma visão futebolística. Por outro lado, a visão documental do quotidiano, mostrando-nos todas as ninharias dos dias e das pessoas onde também existe o amor mal esboçado entre Lisa e Giorgi, sem contudo conter os elementos do romance, leva-me a pensar que o filme não possui um contexto definido no qual possa aprecia-lo e como tal não lhe confiro qualquer classificação.

Tem estreia prevista em sala dia 31 de Março

Classificação: ? numa escala de 10

 

Sem comentários: