8 de março de 2022

Opinião – “O Domingo das Mães” de Eva Husson

Sinopse

Num dia quente da primavera de 1924, Jane Fairchild (Odessa Young), uma empregada doméstica órfã, vê-se sozinha no Dia da Mãe. Os patrões, o Sr. e Sra. Niven (Colin Firth e Olivia Colman), estão fora e ela tem uma oportunidade rara de passar um bom bocado com Paul (Josh O'Connor), o seu amante secreto. Filho dos donos de uma mansão vizinha, Paul é a paixão de longa data de Jane, embora esteja noivo de outra mulher, uma amiga de infância que é filha de amigos dos seus pais. Mas eventos que nenhum dos dois pode prever virão mudar o curso da vida de Jane para sempre.

Opinião por Artur Neves

Esta obra é um exemplo acabado em como a edição (montagem das cenas filmadas) é de crucial importância para a sua qualidade, interesse e até inteligibilidade da história. Na descrição de uma qualquer história costuma também dizer-se, que mais importante do que a sequencia em que os eventos são contados, o importante é estarem lá todos e não serem perdidos no seu encadeamento descritivo e essa é a principal função e objetivo de uma competente edição tal como se pode observar neste filme.

“O Domingo das Mães”, no original; “Mothering Sunday” é um romance escrito em 2016 pelo autor inglês Graham Swift sobre o dia 30 de março de 1924 em Inglaterra, em que as famílias da classe alta realizam um encontro no campo para se confortarem da perda dos seus filhos mortos na Primeira Guerra Mundial e permitirem aos criados um dia de folga em que aproveitem visitar os sus parentes mais próximos, principalmente as suas mães também enlutadas pela morte dos seus filhos, e assim prestarem-lhe o conforto possível.

A sinopse descreve o fundamental do enredo, que pode entender-se como linear e simples como se apresenta, pelo que o importante e transforma esta história num documento sobre sentimentos, é a forma como Eva Husson (já nomeada para a Palma de Ouro por “As Filhas do Sol” de 2018) filmou o argumento bem elaborado por Alice Birch que foi capaz de capturar o poder literário do romance original, e Emilie Orsini que editou o material filmado de forma a oferecer-nos um filme repleto de surpresa, misturando notavelmente os eventos do romance de Graham Swift e fazendo com que o filme sugira ser uma memória emocional, em vez de um desdobramento da narrativa. Sem pontos mortos e principalmente recheado de pormenores íntimos de comportamentos da época em que não era espectável a revelação sincera das suas emoções, mas antes a submissão severa às regras convencionais de etiqueta que regulavam as relações sociais.

Todo o elenco está muito bem escolhido com particular destaque para os patões de Jane, Sr. E Sra. Niven (Colin Firth e Olivia Colman), que apesar de não serem figuras centrais na história mostram o sentimento compungido da época de luto, ele tentando amenizar o ambiente e facilitar a vida, embora com a consciência da superficialidade circunstancial das sua alusões, ela mantendo um ar de tristeza azeda em todas as situações compondo um personagem imbuído na dor que deve ter sido comum a muitos outros pais na época.

O filme move-se constantemente para a frente e para traz no tempo, mostrando-nos o passado órfão de Jane que justifica uma das premissas do romance; alguém sem passado só pode esperar um futuro melhor, pois não tem nada a perder. O passado com os jovens da casa que marca o início da sua relação com Paul (Josh O'Connor) e focando-se na sua vida de criada em que Jane assume uma postura de observadora atenta, que lhe potencia a ascensão social com o emprego numa livraria e a futura carreira de escritora de sucesso.

Não há dúvida que o profundo romance de Swift ao caraterizar os sentimentos humanos torna-se difícil de passar a filme. Literalmente os personagens serão descritos com mais vibração e apresentarão uma sensualidade erótica mais desenvolvida. O escritor tem outras formas de as descrever e nos fazer imaginá-las, mas Eva Husson, ou melhor, a três mulheres envolvidas na confeção deste filme conseguiram apresentar-nos uma adaptação decente e bem representativa de uma experiencia de vida emocionante. Gostei, recomendo sem reservas.

Tem estreia prevista em sala, dia 31 de Março

Classificação: 8 numa escala de 10

 

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