22 de dezembro de 2021

Opinião – “Ressurreições de Matrix” de Lana Wachowski

Sinopse

Da visionária realizadora Lana Wachowski chega-nos o tão aguardado 4º filme da inovadora franquia "A Matriz", que redefiniu o género. O novo filme reúne os protagonistas originais Keanu Reeves e Carrie-Anne Moss nos personagens icónicos dos famosos, Neo e Trinity.

Opinião por Artur Neves

Mais uma vez discordo do “aportuguesamento” do título original de “Matrix” mas as coisas são o que são e não me irei deter neste pormenor, referindo apenas que é o 4º blockbuster que faltava neste ano, devido aos adiamentos provocados pela pandemia.

Matrix é um filme especulativo, isto é, ele combina a ficção informática através e uma realidade alternativa digital dos game makers de jogos de computador, com reflexões sobre a vida real nunca nos mostrando claramente em que plataforma nos encontramos porque a passagem entre os dois mundos é fluida e sequencial em função dos acontecimentos. Porém a filosofia expositiva sobre a vida e o amor são os temas mais fortes do filme embora de uma maneira que não nos foi mostrado nos três filmes anteriores da série, recuperando-se neste várias passagens icónicas já vistas anteriormente.

Recordando a história base desta saga (acho útil rever o fulcro da história) a humanidade, as pessoas, teriam sido sequestradas dentro de um ambiente que simulava a realidade para servirem de alimento, de fonte de energia, às máquinas que se tinham desenvolvido ao ponto de serem capazes de controlar o mundo. Porém, um intruso não vinculado ao videogames, Tomas Anderson, Neo, (Keanu Reeves) começa a ter dúvida da realidade que o cerca e inicia a busca de uma verdade em que possa confiar, através da sua introdução no sistema, no programa de simulação da realidade. Durante esta sua investida ele conhece outra hacker, Trinity (Carrie-Anne Moss) com quem estabelece uma relação afetiva que vai pautar a sua atuação e os seus objetivos, e que o leva ao contacto com do chefe da revolução contra as máquinas dominantes Morpheus (Laurence Fishburne, já falecido e substituído neste filme por; Yahya Abdul-Mateen II) que lhe revela a realidade simulada em que vive e lhe dá a escolher a toma do comprimido vermelho ou do comprimido azul, para enfrentar a dura realidade ou continuar ou viver na simulação, respetivamente. É o filme a apelar ao livre arbítrio da humanidade de uma forma simplista, apenas pela decisão voluntária sem atender às condicionantes e consequências de todas as nossas decisões. Neo descobre assim a verdade que procurava e junta-se à luta contra os “Smiths”, os homens de fato e óculos negros que contaminavam todos os habitantes com quem contactavam com um vírus para ficarem ao serviço das máquinas. Todavia Neo consegue chegar ao Deus Ex-Máquina e negociar com ele a paz com os humanos, bem como a eliminação do agente Smith numa luta derradeira em que não há vencedores. Neo também sucumbe ao Smith.

Neste “Matrix” 4 temos então o reaparecimento de Neo, (a ressurreição) através de uma intervenção nos códigos dos atuais jogos de computador com um código antigo e já pouco usado que o revela, na consola de trabalho de Tomas Anderson que já se tinha esquecido da dupla personalidade que possuía. Aliás nesta história ele anda a tratar-se com um psicoterapeuta por causa de uns sonhos recorrentes que o assaltam e lhe causam depressão. A terapia prescrita pelo médico são os comprimidos azuis anteriormente conhecidos que o fazem permanecer no mundo virtual e ao espectador devem alertar para o duplo papel que o psicoterapeuta deve estar a cumprir, porque viver uma fantasia não é saudável.

Tal como nos anteriores, este Matrix tem cenas extraordinárias concebidas nos sonhos de Thomas Anderson que geram uma simulação, mais devida à quantidade de pílulas azuis que toma do que a pílula vermelha que tomou o primeiro filme em busca da verdade e da realidade, sendo assim uma reinicialização com tiradas filosóficas que enquadram um amor recuperado entre Neo e Trinity, no meio de explosões grandiosas em câmara lenta a várias velocidades, com balas que se apanham com a mão e muitos metadados que renova muito pouco o quadro geral anteriormente criado. No seu enredo apoia-se em várias filosofias que foram pensadas e debatidas longo dos tempos mas que a sua conclusão assenta principalmente em que; nem tudo o que parece é. Neo apresenta-se com um poder diferente, mais repartido pelos outros personagens que talvez devido à idade do protagonista tem menos movimento, mais argumentação e uma inspiração de que consegue voar, ou pelo menos sonhar que pode voar.

Para os amantes da saga o filme é bem-vindo e era esperado, para todos os outros sublinha-se na história que o mundo tal como o conhecemos é uma ilusão que recomenda a dúvida sistemática para se atingir a verdade. Por vezes nem podemos confiar nos nossos próprios sentidos e iludirmo-nos com poções mágicas ou comprimidos de cor diferente, é retardarmos a tomada de consciência. Thomas Anderson só chegou a Neo porque duvidou e perseguiu a dúvida, através de efeitos visuais impressionantes, lutas demolidoras e muitos tiros. Os outros elementos são o visionamento em IMAX, com som Dolby Atmos que torna o filme muito mais imersivo e emocionante ao longo dos seus 148 minutos. Gostei, embora incorpore pouca novidade para lá do desenvolvimento tecnológico relativamente ao filme de 1999 em que a Internet dava ainda os seus primeiros passos.

Tem data de estreia prevista em sala para dia 22 de dezembro

Classificação: 7 numa escala de 10

 

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