29 de julho de 2021

Opinião – “Presos no Tempo” de M. Night Shyamalan

Sinopse

Gael García Bernal e Vicky Krieps são Guy e Prisca, os cabecilhas de uma família que vai de férias para uma praia remota. Não demora muito até perceberam que a tal praia os faz envelhecer rapidamente, transformando a vida inteira deles num só dia. A eles, aos filhos e aos outros banhistas.

Opinião por Artur Neves

M. Night Shyamalan é completo neste filme, produz, realiza e escreve o argumento embora aqui com a colaboração de Pierre-Oscar Lévy e a sua banda desenhada “Castelo de Areia”. Na peça, um resort de luxo no qual várias famílias procuram o descanso e o desfrute três famílias particulares são distinguidas com o “prémio”, só para os escolhidos na versão do diretor, de desfrutarem de uma praia privada para onde são levados numa minivan com a promessa do paraíso na terra em termos de isolamento, qualidade da água, do ar e da areia branca como em nenhum outro lugar.

Os escolhidos são o casal central da história; Guy (Gael García Bernal) e Prisca (Vicky Krieps) e seus filhos, Maddox (Alexa Swinton), de 11 anos, e Trent (Rio Nolan), de 6 anos, outro casal composto por Charles (Rufus Sewell) um médico de modos rudes e total falta de paciência e sua jovem esposa Chrystal (Abbey Lee) bem como a sua família. Adicionalmente foi também incluída Patrícia (Nikki Amuka-Bird), uma psicóloga dada a grandes tiradas filosóficas.

Todos são transportados na carrinha guiada pelo próprio Shyamalan, à boa maneira de Hitchcock que entrava nos seus filmes como figurante, que por entre as grutas rochosas da falésia os deixa perto da praia sem contudo os acompanhar até à areia porque ele conhece o segredo misterioso daquela praia que faz com que todos os que pisam aquelas areias, envelheçam a um ritmo acelerado, aproximadamente dois anos por hora que significa verdadeiramente o fim da vida antes do anoitecer para Guy e Prisca e uma infância seguida de puberdade e juventude acelerada para as crianças.

O que temos aqui é portanto um “Cocoon” ao contrário, porque nesse filme de Ron Howard de 1985 eram os velhos que rejuvenesciam ao entrar nas águas da piscina e muito embora o rejuvenescimento não fosse permanente, nesta praia o envelhecimento é consistente para todos e a morte é o destino final, a menos que se consigam evadir mas o caminho de chegada não serve como retorno pelo que têm de construir a sua própria fuga.

M Night Shyamalan já nos trouxe boas histórias que exploram o terror do envelhecimento, como “O Sexto Sentido” de 1999 que o tirou do anonimato ou “A Visita” de 2015 em que dois adolescentes em visitas aos avós que habitam numa propriedade rural tecem enredos e suspeitas assustadoras sobre o que não conhecem. Neste filme porém, a gerontofobia do autor é bastante acelerada, contudo Shyamalan parece não saber muito bem o que fazer com ela, considerando que os anos se esvaem nos minutos do dia, a praia é um espaço fechado sem retorno e os diálogos do mais básico que se possa imaginar, procuram apenas matar o tempo investido no filme em passeios entre a areia e o mar.

Há ainda a tentativa de puxar para a melancolia e fazer um exame de vida entre os esposos desavindos Guy e Prisca, que se contemplam e se tentam perdoar do tempo que passaram discutindo futilidades, ou quando ela toca no rosto do marido e lhe diz; “você tem rugas”, ou apreciar o crescimento acelerado de Trent e Madox, agora representados por Thomasin McKenzie e Eliza Scanlen, mas nada resulta porque desde muito cedo o destino é a morte que nem as explicações mais sérias para o mistério da praia podem evitar.

O filme foi rodado na República Dominicana, numa praia que deve ser realmente maravilhosa e socorre-se da maquiagem bem conseguida para ilustrar o envelhecimento dos personagens mas a ação arrasta-se penosamente e as falas entre os personagens são tudo menos inteligentes. Quando já se sabe que todos estão sujeitos a um envelhecimento rápido torna-se absurdo quando Guy diz a Prisca que ficou três horas mais velho enquanto ela tocou no seu rosto. É uma alusão idiota que não acrescente o que quer que seja à ação e quando se depende exclusivamente da caracterização dos personagens para ocupar o tempo do filme é porque a ideia do argumento é mesmo pobre. O twist final é no mínimo peregrino e continua a não preencher o vazio criado.

Estreia nas salas de cinema em 29 de Julho

Classificação: 4 numa escala de 10

 

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