1 de junho de 2021

Opinião – “O Espião Inglês” de Dominic Cooke

Sinopse

O Espião Inglês é um thriller de espionagem baseado em factos verídicos, trata-se da história do modesto empresário britânico Greville Wynne (Benedict Cumberbatch), recrutado para ajudar num dos maiores conflitos internacionais da História. A pedido do MI6 britânico e de uma agente da CIA (Rachel Brosnahan), ele cria uma parceria secreta e perigosa com o oficial soviético Oleg Penkovsky (Merab Ninidze), num esforço para obter informações cruciais para prevenir um confronto nuclear e desanuviar a Crise dos mísseis de Cuba.

Opinião por Artur Neves

O que temos aqui é um filme de espiões old fachioned (e isto não é uma observação depreciativa) que relata a parceria de espionagem mais conseguida entre ingleses e americanos durante os tempos da Guerra Fria, que culminou na crise dos mísseis que de Cuba que opôs J. F. Kennedy a Nikita Khrushchev (Vladimir Chuprikov) quando este se propunha a instalar mísseis nucleares na ilha de Cuba, sob o domínio revolucionário de Fidel Castro, como retaliação para a instalação de mísseis nucleares americanos na Turkia.

A história que nos é contada é verdadeira, aconteceu nos anos 60 no início da Guerra Fria que iria continuar nas décadas seguintes e é suporta da por um elenco de atores que constroem um ambiente de época habilmente captado pelo realizador Dominic Cooke que assim documenta a intensidade da espionagem internacional durante esses anos.

Subtilmente é-nos também mostrado as diferenças intrínsecas entre a CIA e o MI6 inglês, que ontem como hoje assume uma petulância e pretensa superioridade nas relações internacionais com base na convicção de serem os melhores e do trabalho em equipa constituir sempre uma inerente subserviência dos outros perante os súbditos de sua majestade. Apesar dos tempos serem outros os tiques de sobranceria e individualismo permanecem, tal como o Brexit nos mostra.

Greville Wynne (Benedict Cumberbatch) é um vendedor de maquinaria pesada, representante de fabricantes britânicos que desenvolve o seu negócio em Londres para todos os países da Europa que os queiram adquirir e que por inciativa de Emily Donovan (Rachel Brosnahan) alto quadro da CIA, convence o MI6 na pessoa de Dickie Franks (Angus Wright) director da Junta do Comércio Internacional, a utilizar para contacto secreto com Oleg Penkovsky (Merab Ninidze) um coronel do exército soviético desiludido com a política expansionista e beligerante do seu país, disposto a partilhar informações secretas que impeçam o início de uma 3ª guerra mundial que Nikita Khrushchev não teria qualquer reserva em iniciar e que é descrito por Penkovsky como “impulsivo e caótico, um homem que não devia ter acesso a códigos nucleares” e que em certa medida justifica a sua atitude.

Postos em contacto, os dois homens estabelecem uma relação amistosa em almoços, espetáculos no Bolshoi e visitas ao West End que corroboram os negócios e mascaram os verdadeiros objetivos de transferência para o ocidente dos segredos de estado soviético.

Inevitavelmente a vida familiar de Greville sofre uma alteração significativa com sua esposa Sheila (Jessie Buckley) a suspeitar que ele tem um caso como aconteceu no passado e do qual ainda subsistem algumas feridas. Greville está dedicado à causa de que foi incumbido e a sua atividade como espião sobrepõe-se à sua atividade comercial e obrigações mundanas da vida do casal.

À medida que a crise dos mísseis evolui e os estados Unidos tomam conhecimento dos seus pormenores, a vida de Penkovsky complica-se, decorrente das denúncias de espiões soviéticos infiltrados no MI6 e começa a colocar-se a necessidade de tirá-lo de lá. Greville disponibiliza-se para fazer uma última viagem à Rússia, contrária à perspetiva do MI6 que se preparava para abandonar Penkovsky à sua sorte. Todavia o plano para o retirar da Rússia não tem o resultado esperado e é aqui que se destaca o verdadeiro desempenho do personagem de Cumberbatch, que fica preso na Rússia por cerca de dois anos e torna crível o seu sofrimento pelo amigo que investiu a sua vida por um bem maior, que nunca foi devidamente reconhecido pela história. Quando finalmente é libertado por troca com um espião russo preso no ocidente, é um homem envelhecido precocemente que segue com a sua vida até falecer em 1990. Trata-se de uma história bem gizada, com personagens bem construídos que recomendo sem reserva.

Em exibição nas salas a partir de 10 de Junho

Classificação: 7 numa escala de 10

 

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