16 de fevereiro de 2021

Opinião – “Red Dot” de Alain Darborg

Sinopse

Um homem e uma mulher que esperam o primeiro filho tentam reavivar a paixão do seu casamento numa viagem à neve, na qual acabam perseguidos por assassinos impiedosos.

Opinião por Artur Neves

Nunca me tinha confrontado com uma sinopse tão seca, mas é o que arranja no site oficial da Netflix. Contrariamente a outras sinopses demasiado detalhadas, esta parece-me demasiado redutora e simplista, relativamente a um thriller intenso, que cria robustas cenas de suspense ao longo do desenvolvimento da história, através da omissão de factos que posteriormente são revelados. Quando nos são apresentados eles justificam alguns eventos que nos causaram estranheza anteriormente, mas a sua apresentação somente á posteriori, sem qualquer sugestão anterior para levantar uma dúvida no espectador sobre quem é quem, ou pelo menos que há uma realidade que não conhecemos, sabe a “sopa depois do jantar” e compromete a qualidade global do filme porque parece uma solução arranjada.

David (Anastasios Soulis) e Nadja (Nanna Blondell) são um casal sueco, jovem, que já revela alguns momentos de tensão no seu relacionamento. David é engenheiro civil e está bem empregado, Nadja é estudante de medicina, usufruem de uma vida estável mas algumas acusações mútuas surgem no casal quando Nadja descobre que está grávida e que esse facto vai comprometer a continuação dos seus estudos pelo menos, no tempo imediato.

Para tentar compor o ambiente em casa David surpreende a sua esposa com um fim de semana romântico no norte da Suécia, onde eles se propõem viver ao ar livre, numa tenda, para esquiar e dormir sob o manto da aurora boreal num contacto íntimo com a natureza.

Os preparativos para a viagem decorrem normalmente mas a viagem começa a parecer estranha logo na primeira paragem para abastecimento do carro, com uma troca de palavras pouco comum com dois caçadores (mais tarde veremos que não eram caçadores) que seguiam na mesma direção do norte. O casal, acompanhado pelo seu cachorro Boris, tentam desvalorizar o incidente, mas não deixa de ser o início de alguns eventos sombrios, com Nadja a riscar deliberadamente o carro de um dos caçadores, numa atitude que nesta altura nos parece inusitada e mais estranha ainda se comparada com o que saberemos no fim da história.

No lugar em que eles resolvem acampar, quando na noite se preparam para a fruição da natureza branca e fria que os cerca, aparece na transparência da sua tenda a mira laser de uma espingarda de longo alcance (“Red Dot” o Ponto Vermelho) que sem um objetivo específico, embora perturbador, se passeia pelos seus corpos e pelos diferentes objetos contidos no interior da tenda. Eles saem, procurando o agressor e quando regressam no dia seguinte encontram a tenda vazia porque tinham sido roubados de todos os seus pertences e substituídos por um presente macabro.

É aqui que reside o problema, as atitudes são estranhas, os comportamentos do casal, bem como, com quem eles interagem não parecem adequados em algumas cenas, mas não se vislumbra qualquer motivo, nem sequer indícios, ainda que falsos, nos são apresentados sendo quase induzidos a pensar que se trata de um terror gore justificado por maldade deliberada. Finalmente quando conhecermos as razões e a verdade é revelada já estamos voltados para outro lado e o filme é já quase uma memória, porém é aí que tudo faz sentido.

Assim sendo o que temos aqui é um filme tenso, totalmente sombrio e sem humor ou algo que nos descontraia, o que não significa ser um filme mau, note-se. David e Nadja envolvem-se numa batalha pela sobrevivência num meio que lhes é hostil e impiedoso, refletindo os seus conflitos internos dos quais se querem libertar sem todavia conseguirem, atolando-se cada vez mais numa vertigem maléfica que os destrói pelas suas próprias mãos. Só se lamenta é que o espectador fique todo o tempo a “navegar na maionese”, porque a história até é interessante.

Classificação: 6 numa escala de 10

 

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