10 de fevereiro de 2021

Opinião – “Alguns Dias em Setembro” de Santiago Amigorena

Sinopse

1 de Setembro 2001. Elliot, (Nick Nolte) um espião americano desaparece sem deixar rasto, levando consigo uma informação crucial acerca do futuro imediato do mundo. O seu principal objetivo é rever a filha, Orlando, (Sara Forestier) que abandonou dez anos antes. Organiza então um encontro, através de Irene, (Juliette Binoche) uma amiga de longa data, para o qual convida também David, (Tom Riley) o seu filho adotivo. No entanto, serão perseguidos por William Pound, (John Turturro) um assassino a soldo sem escrúpulos, desde Paris até Veneza, onde se encontrarão com Elliot no dia 11 de Setembro.

Opinião por Artur Neves

É mais um filme que utiliza o 11 de Setembro numa mistura algo desconcertante entre thriller, romance e filme de arte, cuja história está descrita na sinopse e que tem como mais valia os desempenhos de Juliette Binoche, a mais internacional das atrizes francesas, como agente secreta que fuma cigarrilha e fala com a sua tartaruga de estimação e é amiga e colega de trabalho de Nick Nolte que só chega à história no ultimo quarto de hora, mas faz-se notar pelo final dramático que conjuga o pai arrependido com o arauto da desgraça que havia de mudar o mundo para sempre, vestindo uma gabardina creme caraterística do arquétipo figurativo associado aos espiões.

Do outro lado temos um John Turturro investido num assassino a soldo, que persegue Elliot, de pendor poético mas com personalidade neurótica que se alivia das suas ações telefonando para o psicanalista sempre que mata alguém. Pelo teor dos telefonemas o seu objetivo não é o arrependimento, que compensa com a citação de um poema ao morto, mas antes a partilha do seu ato como se isso o aliviasse de alguma auto condenação do seu espírito perturbado.

Irene (Binoche) desloca-se pela Europa a pedido do amigo, acompanhada pelos seus dois filhos de diferentes mães, ambas mortas, que ocupam a maior parte do filme no aprofundamento de um conhecimento mútuo que nós percebemos logo que vai dar romance. Eles legalmente são meios irmãos, mas a proximidade crescente entre eles é legitimada por David, quando citando Henry Miller; “Sexo é bom mas incesto é melhor…” faz a música seguir como esperado, apaziguados que estão os espíritos puritanos.

A chegada de Elliot vai sendo protelada por motivos que desconhecemos e o filme referencia os dias que passam para o encontro durante os dez dias que antecedem o ataque às torres gémeas, sugerindo que alguém, com contactos inconfessáveis sabia antecipadamente o que iria acontecer e lucraria com isso, não só individualmente mas toda a rede de banqueiros de ar suspeito interessados nas revelações que Elliot coletava. Com esta premissa pode inferir-se ainda que o governo dos USA não desconhecia totalmente o que se iria passar em 11 de Setembro, favorecendo as teorias da conspiração que ainda hoje subsistem e que mantêm em suspenso as motivações sobre o ataque ao Pentágono.

No seu conjunto o filme até é agradável, só que não convence no capítulo da alta espionagem para a qual aponta e parece-me excessivo usar um evento da dimensão do 11 de Setembro no meio de uma história que reporta um conjunto de três pessoas que desenvolvem uma química considerável entre si, naturalmente aceite por qualquer espectador que se detenha a apreciar uma narrativa lenta, cheia de adiamentos e perseguidos por um assassino neurótico que em modo bilingue (John Turturro está muito bem) os persegue e que deve ter dado muito trabalho a desempenhar. O argumento tem bons diálogos e o crescimento do romance entre Orlando e David, segue a bom ritmo durante o intervalo da espera do encontro com o pai que idolatra.

São espiões europeus, com família e uma tartaruga, lautas refeições, copos de vinho para esquecer e suspense ligeiro por um perseguidor com problemas de afirmação, que compõem 116 minutos de um filme que se vê com agrado.

Classificação: 5 numa escala de 10

 

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