28 de janeiro de 2020

Opinião – “Calafrio” de Floria Sigismondi


Sinopse

Há mais de cem anos que se conta uma história assustadora que deixa aterrado quem quer que a ouça. "CALAFRIO" leva-nos até ao Maine, a uma mansão rural misteriosa, onde Kate, a nova ama, está encarregada de cuidar de dois órfãos perturbados, Flora e Miles. Mas Kate depressa se apercebe que as duas crianças e a casa albergam segredos tenebrosos e que as coisas poderão não ser aquilo que parecem.

Opinião por Artur Neves

Os filmes declaradamente feitos para desestabilizarem as nossas emoções e provocarem medo, terror, necessitam criar uma narrativa envolvente e detalhada que nos introduza na história de tal modo que nos faça sentir as dores do personagem mais ameaçado, ou mais fraco, ou de alguma maneira a vítima eleita pelo poderoso mal que discricionariamente tem o poder de fazer sofrer o personagem com que o espectador se identifica.
Em “Calafrio” falta tudo, falta a vítima, que em princípio nos é apresentada como sendo a nova ama Kate Mandell (Mackenzie Davis) que vai substituir a que vemos fugir desordenadamente logo no princípio do filme.
Falta o “poderoso mal”, que nos é apresentado como uma sombra de um preceptor de Flora Fairchild (Brooklynn Prince) e Miles Fairchild (Finn Wolfhard) aparecendo em imagens esfumada em espelhos pela casa e presumidamente provocando ruídos lascivos em cenas que não nos são mostradas.
Flora e Miles, que constituem o motivo de permanência da nova ama, ocupam uma posição dúbia de “vítimas” que sabem mais do que dizem, recaindo sobre Miles a responsabilidade de, proteção da irmã, por ser mais velho. Miles tem 15 anos e estudava num colégio interno que por razões mal explicadas foi expulso e como tal regressa a casa por onde deambula sem qualquer ocupação específica, exceto, formular expressões duras com uma cara de menino mimado, rico e problemático, que só uma estudada iluminação nos pode levar a pensar ser o elo de ligação com o “poderoso mal” que ensombra a casa e ameaça Kate.
Mas Kate não tem nada que a prenda ali, tem um carro no exterior e pode sair quando muito bem entender ou quando já não suportar aquele ambiente opressivo. Mrs. Grose (Barbara Marten) a governanta da casa que toma conta da família por várias gerações, das quais não há relato nem memória no filme representa um personagem desagradável sim, mas não associado ao “poderoso mal” que nos quer assustar.
Aliás, quando a realizadora Italiana Floria Sigismondi já não precisa dela, provoca-lhe uma queda desamparada que lhe causa morte imediata, praticada pela sombra do “poderoso mal” que até agora tinha coexistido com ela sem qualquer rebuço.
O que temos a ligar tudo isto é a repetição sucessiva dos sustos e das sombras tradicionais de uma casa velha, embora imponente, pejada de carrancas tanto no exterior como no interior e de sons súbitos que nem sobressaltam nem assustam, sem continuidade, enquadramento ou justificação que parecem ser pedaços perdidos de outros filmes que a realizadora insere na história porque os tem.
O argumento baseia-se numa novela de Henry James, escrita em 1898 que já teve uma primeira aparição em cinema em 1961, “Os Inocentes”, em que Deborah Kerr desempenhava o papel de uma governanta que cuidava de duas crianças numa casa que ela suspeitava estar amaldiçoada, mas nesta versão nada pode salvar a narrativa que oscila entre o incompreensível e o instável, culminado por um clímax que nos faz sentir arrependidos do tempo despendido por termos aturado tanto disparate. A mim apeteceu-me dizer: WTF…

Classificação: 2 numa escala de 10

Sem comentários: