4 de dezembro de 2019

Opinião – “Apocalypse Now – Final Cut” de Francis Ford Coppola


Sinopse

Apocalypse Now – Final Cut é a terceira e derradeira versão de um dos grandes marcos da história do cinema, e que este ano comemora 40 anos sobre a sua estreia no Festival de Cannes, onde venceu a Palma de Ouro. Francis Ford Coppola considera naturalmente esta versão como a melhor e a definitiva para o seu filme, cujo restauro em 4K acompanhou de perto, nomeadamente ao nível do som.
A partir de Coração das Trevas, de Joseph Conrad. Durante a Guerra do Vietname, um jovem capitão americano recebe como missão procurar e assassinar um coronel americano desertor que se escondeu na selva e passou a comandar guerrilheiros no Camboja, onde é adorado como um semi-deus.

Opinião por Artur Neves

Esta é a atual versão (se é a derradeira não sabemos!...) do mais emblemático filme que foi produzido sobre a guerra do Vietname, não por ser um filme de guerra no sentido clássico do termo, mas antes, um filme que evidencia o horror da guerra, a maldade gratuita, a loucura que induz a alienação dos atos de guerra, não em função de uma estratégia, mas sim de acordo com os medos, as obsessões e os interesses pessoais dos seus intervenientes, também eles sem força, nem razão, para resistirem emocionalmente aos efeitos de um meio e de um ambiente, que lhes são desconhecidos e hostis.
“Apocalypse Now” teve a sua primeira apresentação em 1974 com uma duração de 147 minutos, á qual se seguiu uma sequela em 2001 com o nome “Apocalipse Now – Redux” com 197 minutos em que foi acrescentado o encontro do Captain Benjamin L. Willard (Martin Sheen) com uma família de colonos franceses resistentes ao ambiente de guerra que corporiza o único momento de amor da história, bem como, logo na primeira cena, com maior duração para se poder ouvir na íntegra a música dos The Doors: “The End” e evidencia-se a dependência efetiva do álcool que Martin Sheen sofria na altura das filmagens. Esta versão atual com a duração de 183 minutos, estreada em 2019, “encolhe” o encontro com os colonos e remove as evidências de alcoolismo de Martin Sheen. Em tudo o mais o filme é absolutamente fiel ao argumento original. Todavia, considerando que as versões apresentadas em VHS, DVD ou Laserdisc, ao longo do tempo, sempre foram objeto de pequenas alterações nunca pode saber-se se este fnal cut será mesmo final, como é normal entender-se.
Todo o filme é um portento de desumanidade. A história desenvolve-se ao longo da viagem de Willard na subida do rio Nung num barco patrulha, com a missão de eliminar o coronel Walter E. Kurtz (Marlon Brando) que desertou do exército dos USA e atravessou a fronteira do Cambodja com um punhado de militares que o seguem cegamente e endeusaram a sua liderança, para realizar missões de ataque e fuga contra os Viet Cong. As autoridades americanas estão convencidas que o coronel Kurtz enlouqueceu e por esse motivo querem eliminá-lo.
Á medida que o barco patrulha se desloca, a loucura aumenta por todo o lado. Começa na devastação sanguinária com bombas de napalm ao som da partitura clássica “A Cavalgada das Valquírias” de Wagner, que o Tenente-Coronel Bill Kilgore (Robert Duvall) leva a cabo numa praia, apenas para fazer surf com um dos elementos incluídos na missão de Willard. Segue-se o medo inerente, na viagem que estão a empreender num território que serve de abrigo aos Viet cong e donde sofrem ataques constantes. É a chegada a um aquartelamento de tropas americanas, numa altura de recreio, com um espetáculo de variedades totalmente insano e despropositado para o lugar, que termina abruptamente no meio de um ataque. É o assassínio aleatório de um barco de pescadores suspeitos de apoiarem os Viet Cong por uma tripulação esgotada, demente e alienada pelas drogas que consome. A cena do encontro com os colonos franceses decorre tensa, embora socialmente correta é contaminada pelo elevado consumo de droga que distorce as relações e a visão dos acontecimentos. No final, o encontro com o coronel Kurtz corporiza a loucura da guerra pelos motivos que a justificam, o ambiente em que todos vivem, a escuridão e a morte que os circunda em todos os locais do acampamento.
Embora com o mesmo argumento, a remasterização em UHD 4K refina todos os contornos da imagem, enfatiza as cores da selva e valoriza este filme de culto que ocupa um lugar de destaque na curta lista das minhas preferências. Sem dúvida a ver… ou a rever!...

Classificação: 9 numa escala de 10


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