7 de setembro de 2019

Opinião - “MIDSOMMAR: O Ritual” de Ari Aster


Sinopse

Dani (Florence Pugh) e Christian (Jack Reynor) são um jovem casal americano cuja relação está à beira de se desmoronar. Mas depois de se manterem juntos devido a uma tragédia familiar, Dani, em fase de luto, junta-se a Christian e aos seus amigos numa viagem a um festival de verão, numa remota aldeia sueca. O que começa como umas descontraídas férias de verão numa terra de sol eterno, sofre uma reviravolta sinistra quando os aldeões convidam os visitantes para participarem nas festividades que tornam o paraíso campestre cada vez mais inquietante e visceralmente perturbador. Da mente visionária de Ari Aster, chega-nos um assustador conto de fadas onde um mundo de trevas se revela em plena luz do dia.

Opinião por Artur Neves

Esta história inclui-se no conhecimento da existência de cultos pagãos, em pleno século XXI na Europa Ocidental, representados numa corrente ancestral de agradecimento e veneração aos elementos da natureza responsáveis pelos ciclos de rejuvenescimento e morte a que obedece o tempo dividido nas estações do ano. Esta questão não é nova e considerando a sua espécie conotada com o ciclo da vida, costuma ser designada como “horror popular”, considerando que se trata de um culto baseado em práticas selvagens e não civilizadas decorrente dos dogmas inquestionáveis por que se rege. Aliás o cinema já abordou este tema em 1973, no filme; “O Sacrifício” de Robin Hardy onde se pode apreciar um Christopher Lee já com 25 anos de carreira,  falecido em 2015 e antes da notoriedade que adquiriu com a interpretação do personagem Conde Drácula.
Ari Aster, o realizador deste filme que em 2018 nos ofereceu “Hereditário”, no ambiente oculto e sombrio dos filmes de terror, apresenta-nos agora numa aprazível paisagem campestre da Suécia, no verão em que o sol nunca se põe, isto é, as noites são sempre iluminadas porque o sol não desaparece, uma história de suicídio, insanidade, histeria religiosa e nudez total, dentro de um conto de fadas praticado em nove dias, em Harga, uma organização comunal que pretende corporizar o paraíso na terra, onde todos vestem roupas brancas, se tratam como irmãos e usam ornamentos florais colhidos e preparados para cada situação do ritual.
Nesta comuna a multidão feminina sobrepõe-se à masculina e como tal são elas que organizam, preparam e executam o ritual que a história nos oferece de uma forma muito ordeira, lenta e ritualista que sucessivamente nos prende e nos faz assistir quase hipnoticamente. É interessante analisar como o terror se pode disseminar em ambientes naturais verdes, brilhantes, iluminados por um sol constante, sob um céu azul cobalto sem nuvens nem ameaças mas que nem por um só momento deixa de ser menos perturbador, violento e fatal.
O que distingue o horror deste filme dos tradicionais filmes de terror é que cerca de 90% do seu tempo decorre à luz do dia, partilhado por todos e sob o sol constante para garantir a comunhão dos atos praticados. Não considero este filme como thriller, porque Aster não usa violência, mas antes uma crescente atmosfera nervosa recheada de pequenos sinais que nos conferem a sensação de pesadelo crescente que paira sobre cada cerimónia, cada personagem, cada ato, até que o real pesadelo se concretize mas sempre de modo lento como a consumação duma vela que se acende.
A completar o ambiente temos uma música que se insinua, canções detalhadas e bonitas sobre temas da vida campestre que dá gosto ouvi-las e nos tenta convencer que tudo está bem e é ótimo, mas não nos iludamos, todos os que o forem ver pensarão nele algum tempo depois do filme terminar. Recomendo.

Classificação: 8 numa escala de 10

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