24 de junho de 2019

Opinião – “Sem Filtro” de Eric Lavaine


Sinopse

Na companhia de familiares e amigos próximos, Beatrice (Alexandra Lamy) comemora a publicação do seu livro, onde conta o acidente do marido, que lhes alterou radicalmente a vida: Frederic (José Garcia) ficou cego e sem filtro, passando a dizer tudo o que pensa. Embora continue divertido e sedutor, transformou-se num homem imprevisível.
Mas o livro – um hino à vida – acaba por desencadear uma onda de discussão, porque embora Beatrice tenha alterado os nomes dos amigos que menciona no livro, cada um deles tenta identificar a sua personagem, o que vai despertar segredos e ciúmes escondidos. O grupo de familiares e amigos estremece, mas há tempestades que nos salvam a vida.

Opinião por Artur Neves

“Sem Filtro” é mais um filme francês que aborda a temática dos relacionamentos pessoais tanto no foro íntimo como social num regime ligeiro, de comédia “soft”, que apela ao sorriso através do sentido secundário das situações que nos são mostradas, de uma cuidadora presente em todos os momentos da vida do seu agregado familiar onde existe um deficiente visual e cognitivo, uma filha adolescente e um rapaz infantil, no contexto descrito na sinopse, que lhe satura a existência.
Como terapia para a sua abnegada insatisfação, Beatrice resolve escrever um livro onde descreve a sua vida vivida durante os últimos cinco anos e do seu grupo de amigos que de alguma maneira a têm apoiado nesta difícil fase, descrevendo, embora com nomes fictícios, as suas características, as suas tendências, os seus interesses e particularidades que ela mais apreciou, mas que ao serem lidos pelos próprios, que se reconhecem pelos eventos citados, não têm o mesmo entendimento de catarse, de agradecimento, de hino à amizade com que ela os citou.
Adicionalmente, a história também nos transporta para o novo paradigma das relações abertas tão em voga nos tempos que correm, como sendo mais uma panaceia para a ajudar a suportar a sua solitária existência, considerando que entre outros traumas, o marido Frederic também ficou impotente. Este íntimo problema foi sendo resolvido, através do conhecimento acidental de Bernard (Nuno Melo) durante um dos ataques de gula de Frederic no restaurante de fast food em que se encontraram.
A atração entre Beatrice e Bernard floresce e consuma-se, é uma paixão com hora marcada, com apontamento de calendário, e com justificação alternativa pois o tempo é um elemento contínuo na vida das pessoas. Ela ama e trata do marido, não descura o governo da casa nem o acompanhamento dos filhos mas sente-se só, diminuída, com uma vida insuficiente. A paixão que experiencia com Bernard é o complemento que lhe falta, o côncavo para o seu convexo (parafraseando Roberto Carlos) a fonte do seu equilíbrio, o seu ânimo no dia-a-dia, que como mais tarde veremos é reconhecido e aceite pela sogra, num dos momentos mais gratos desta história.
Só que Eric Lavaine, não quis chegar tão longe e na sua realização só aborda de “raspão” esta realidade e entrega a Bernard (Nuno Melo) o protagonismo da cena mais desconchavada deste filme. Não se lhe exigia um final romântico de pacotilha, ou uma “love story” de arrasar, incompatível com alguém que coloca em livro a catarse das sua frustrações, mas apenas o reconhecimento de que; “não se deve começar aquilo que não se pode acabar”, ou neste caso; não se quer abordar. Por tudo isto considero-o inferior ao recente: “Pequenas Mentiras entre Amigos 2” e 1 também. Ainda assim continua a ser interessante, pelo sorriso que provoca e pela reflexão “sem filtro” que indicia.

Classificação: 6 numa escala de 10

Sem comentários: