26 de fevereiro de 2019

Opinião – “O Poder da Palavra” de Yvan Attal


Sinopse

Neïla Salah (Camélia Jordana) é uma jovem de ascendência argelina que cresceu nos arredores de Paris e sonha tornar-se advogada. Matriculada na prestigiada universidade parisiense de Assas, Neila confronta-se, desde início, com Pierre Mazard (Daniel Auteuil), um professor conhecido pelas suas provocações e controvérsias.
Em busca de redenção pública, Mazard aceita preparar Neïla para uma prestigiada competição de discursos em que a sua universidade participa.
Ao mesmo tempo cínico e exigente, o professor poderia vir a tornar-se o mentor de que a estudante necessita, mas para isso é preciso que os dois sejam capazes de ultrapassar os seus preconceitos.

Opinião por Artur Neves

A primeira questão que esta história levanta é se são as palavras que contribuem para a formulação das ideias, ou se pelo contrário, são as ideias que se servem da palavra para se revelar. A resposta não é fácil, nem definitiva e caberá ao leitor encontrá-la, depois de uma reflexão sobre o conteúdo deste filme.
Neïla Salah é uma jovem com todas as naturais reservas de pertencer a uma família de imigrantes, embora o seu nascimento em França lhe tenha conferido um sentimento de pertença a uma comunidade diferente da sua. Não obstante, os seus amigos, o seu namorado e as amigas da sua mãe que frequentam a sua casa, embora franceses ou residentes em França, demonstram idênticas peculiaridades culturais que os identificam entre os seus.
O problema começa quando ela enfrenta a frequência do primeiro ano de um curso superior numa universidade clássica cheia de tradições e muito particularmente, um determinado professor, Pierre Mazard, francês genuíno por nascimento e herança familiar, que tanto pela cadeira que ministra, como por sentimento e cultura, utiliza uma sobranceria e um autoritarismo exacerbado nas relações com os outros, muito particularmente os alunos, que precisam dos seus conhecimentos. Particularmente os não franceses são os que sofrem mais de perto com o seu chauvinismo e a sua arrogância cultural que choca de frente com Neïla Salah.
Destas duas personalidades opostas, vai nascer uma ligação profissional improvável que fará deste filme uma demonstração do “Poder da Palavra” no diálogo professor aluna, enumerando as sucessivas e vastas referências literárias em que se baseiam os pressupostos da utilidade da palavra como veículo de convencimento da razão, da argumentação necessária para levarmos os outros a ouvir-nos e a seguir-nos nas suas opiniões.
Yvan Attal é o realizador israelita que consegue a proeza de tornar muito interessante um argumento com muitas palavras, muito dialogado sobre a forma e os conteúdos da dicção, em que a primeira é preponderante relativamente à segunda. Como Pierre Mazard afirma e ensina nas suas aulas, a verdade não interessa, o importante é o modo, a forma como se apresentam as razões.
Filme interessante, com a ação focada na palavra, nas palavras, produzidas por uma representação de personagens consistentes, particularmente no que concerne a Neïla Salah (Camélia Jordana) que recebeu o Prémio de Melhor Atriz Revelação no festival de Cannes 2017. Duma maneira geral sentimos alguma resistência aos filmes franceses, mas este, quer pelo assunto como pela representação merece ser visto. Recomendo.

Classificação: 7 numa escala de 10

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