23 de janeiro de 2019

Opinião – “Destroyer: Ajuste de Contas” de Karyn Kusama


Sinopse

Destroyer: Ajuste de Contas, narra a odisseia moral e existencialista do detetive da polícia de Los Angeles Erin Bell (Nicole Kidman) que, enquanto jovem polícia, foi infiltrada num gangue no deserto da Califórnia, um caso que resultou em trágicas consequências. Quando o líder desse gangue reaparece muitos anos depois, Erin vai ter de lidar com a história que tem com os remanescentes membros do gangue, para poder finalmente acertar contas com os demónios que lhe destruíram o passado.

Opinião por Artur Neves

É impressionante a transformação operada em Nicole Kidman para o desempenho do personagem sombriamente fascinante desta história. A atriz possui um corpo naturalmente magro, mas aqui foi submetida a uma transformação de tal ordem radical, que associado ao desempenho inerente do personagem, o que vemos é um perfeito fantasma, de andar trôpego e porte andrajoso que se arrasta num penoso sacrifício físico em todas as cenas no presente atual da história.
Trata-se de um mulher profundamente destruída e corroída pelo arrependimento das opções anteriormente tomadas que agora procura a redenção a qualquer custo sem qualquer cuidado consigo própria e somente focada no castigo de quem lhe causou tanto mal, todavia, não a move somente a vingança, mas também um profundo sentimento de justiça para que outros não sofram como ela e de alguma maneira possa obter a expiação de culpas que ela não enjeita.
Como se pode inferir pela leitura da sinopse anterior trata-se de uma história de polícias infiltrados numa quadrilha de ladrões, para arranjar provas que os incriminem dos assaltos, se possível em flagrante delito. Não se pode dizer que se trata de um tema inédito, mas a apresentação dos factos e a montagem realizada pelo editor do filme, transformam uma história simples num enredo que nos prende durante toda a ação.
Não se trata somente da inserção de flashback dos eventos para se compreender a trama, mas sim de uma montagem que liga o presente aos factos passados em que eles ocorreram de forma dar-lhes consistência e justificação, para que o espetador menos versado nas diatribes do espetáculo cinematográfico não perca qualquer facto importante da história, transformando assim um argumento banal, (se os factos fosse apresentados sequencialmente no tempo) num thriller de suspense que nos agarra à ação desde a primeira imagem.
A realizadora Karyn Kusama de origem Japonesa nascida nos USA não apresenta no seu curriculum algo que nos fique particularmente na memória. Talvez, “The Invitation”, 2015, não estreado em Portugal, seja a sua referência mais significativa, mas com esta realização apresenta potencial para voos mais amplos no género em que esta história se insere.
Mais uma vez, como já tenho referido nestas crónicas, este é mais um filme em que o herói é uma mulher que utiliza o estoicismo, a angústia e a capacidade de sofrimento anteriormente confiada a personagens masculinos. Não é que isso contenha qualquer mal, apenas assinalo aqui o sublinhado de mais uma demonstração da crescente tendência do cinema internacional.

Classificação: 7 numa escala de 10

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