21 de dezembro de 2018

Opinião – “Aqui e Agora” de Fabien Constant


Sinopse

Vivienne (Sarah Jessica Parker), cantora na cidade de Nova Iorque, vive para si mesma e para a sua arte. Depois de receber notícias que despedaçam o seu mundo e a abalam profundamente, seguimos Vivienne num período de 24 horas, enquanto se prepara para uma digressão mundial, gere as suas relações e obrigações familiares e reflete nos êxitos e fracassos da sua vida, tentando encontrar um momento privado para partilhar com outros as notícias que recebeu do médico. Com esse peso sobre os ombros, vemos Vivienne esforçar-se para fazer as pazes com a cidade à sua volta e com os seus habitantes, quando um encontro fortuito com um amigo improvável acaba por ajudá-la a aceitar a sua nova realidade.

Opinião por Artur Neves

Esta é uma história de presente absoluto no espaço e no tempo.
Decorre num intervalo de 24 horas e aborda o complexo tema sobre o que fazer, o que podemos ou devemos fazer, o que será mais importante atender na voragem dos nossos dias, quando inusitadamente somos informados da previsivelmente breve finitude da nossa existência, com elevado grau de probabilidade dessa ocorrência se verificar.
Tenho de declarar que “O Sexo e a Cidade” com todas as suas sequelas, colou-se à pele de Sarah Jessica Parker e pensei que ela não seria capaz de fazer outra coisa diferente daquele estilo de personagem fútil, apelando ao erotismo frívolo e que entre uma passagem de modelos e uma sessão de maquiagem avant gard tinha esgotado todas as sua valências.
Pois declaro aqui que me enganei. Vivienne, recebe a notícia da sua doença, como que de uma impossibilidade se tratasse, tal era a distância que se encontrava do problema, para ela menor, que a acompanhava há mais de vinte anos. É o momento em que tudo desaba à sua volta, tudo deixa de fazer sentido, os horários esbatem-se, os compromissos desvanecem-se, os amigos passam a desconhecidos, impróprios para receberem esta verdade improvável, impróprios para cederem o seu ombro para apoio e consolo nesta hora dolorosa.
Nada do que se conhece já verdadeiramente importa e surge a noção do tempo perdido com frivolidades profissionais que descartaram o que era importante, como o crescimento da filha, o amor perdido, a vida protelada para um tempo que já não existirá.
A realização é fundamentalmente de close up, usando (e talvez abusando) travellings de câmara sobre rosto, mãos e todos os pormenores que possam revelar o inimaginável estado de espírito de tão enorme condenação. Vivienne (Sarah Jessica Parker) suporta isso tudo mostrando um estofo de representação dispensável em “O Sexo e a Cidade”, bem como as suas expressões de indiferença e desapego a todos os eventos daquele dia de revelação.
Que todos inevitavelmente morremos é uma verdade assumida, saber quando com razoável probabilidade, tira-nos o “chão” e a capacidade de viver com data marcada para o nosso desaparecimento, exceto se um desconhecido com o qual não sentimos qualquer empatia no momento inicial nos revele uma face de preocupação, cuidado e atenção tão imprevista, como a rotunda dor que nos sucumbe a perspetiva de existência. Muito interessante.

Classificação: 7 numa escala de 10

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