5 de abril de 2018

Opinião – “A Morte de Estaline” de Armando Iannucci


Sinopse

União Soviética, 1953. Após a morte de Josef Stalin (Adrian McLoughlin), o alto escalão do comité do Partido Comunista vê-se em momentos caóticos para decidir quem será o sucessor do líder soviético.

Opinião por Artur Neves

Numa altura em que a comunidade internacional condena a Rússia de Putin como responsável pelo atentado ao espião russo Skripal e sua filha, refugiados em Inglaterra, surge este filme, já proibido pelo Ministério da Cultura da Rússia através da suspensão da sua licença de exibição, sobre os últimos dias do ditador Josef Stalin, reconhecidamente como um dos líderes mais cruéis da história mundial recente, (em conjunto com Hitler) que ocupou o poder na Rússia entre 1922 e 1953, na sequência da Revolução Bolchevique de Outubro de 1917 que acabou com o Governo Provisório de cariz moderado que se seguiu à queda do poder imperial do czar Nicolau II, impondo o governo Socialista Soviético.
Os 31 anos de poder absoluto, autocrático e despótico de Josef Stalin não são de facto um período de que a Rússia se possa orgulhar, considerando o que o seu sucessor; Nikita Khruchshov revelou ao mundo, durante a realização do XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética em 23 de Fevereiro de 1956, onde enumera a longa lista de atrocidades cometidas contra o povo pelo estalinismo, durante a sua ocupação do poder.
Armando Iannuci, Escocês de origem, realizador e coargumentista desta história, resolveu revisitar esta época através de uma abordagem crítica, com traços acentuadamente burlescos relatando os eventos ocorridos nos círculos próximos do ditador na sequência da sua inesperada morte em maio de 1953 e da luta pelo poder que se seguiu.
O resultado é este filme atrevido, ousado em todas as suas premissas, pormenorizado na identificação das personagens que são referenciados com o nome real das pessoas que representam, considerando que o secretismo do sistema e o nível de divulgação da época não permitiria o seu reconhecimento ao espetador normal, caraterizando-os ao pormenor das suas idiossincrasias e retratando-os nas suas funções e confrontos com os seus pares, entabulando intrigas, vinganças, e ódios de estimação que, pelo que sabemos hoje, não deve estar muito longe da realidade vivida naqueles anos.
A abordagem às relações entre pares do governo é feita em jeito de comédia de humor negro (doutra forma seria mais doloroso) evidenciando a total submissão de todos ao determinístico líder, sempre autoritário e desdenhoso mesmo nas questões mais comezinhas, e a total falta de ética dos seus mais próximos e despersonalizados colaboradores, (súbditos) totalmente incapazes de formularem alternativas, ou qualquer espécie de ação coordenada, quando subitamente confrontados com a sua inesperada falta.
Os diálogos estão bem concebidos, sempre proferidos segundo uma lógica jocosa que nos surpreende, diverte e nos faz pensar como foi possível tudo isto, descontando claro, o efeito de caricatura que o filme naturalmente exibe. Merece ser visto, recomendo.

Classificação: 6 numa escala de 10

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