8 de março de 2017

Opinião “100 Metros” de Marcel Barrena


Sinopse

Ramón, pai de família, vive para o trabalho até que o seu corpo começa a falhar.
Com o diagnóstico de Esclerose Múltipla todos os prognósticos pareciam indicar que no espaço de um ano não seria capaz de andar nem cem metros. Ramón decide levantar-se para a vida e participar na prova desportiva mais dura do planeta.
Com a ajuda da sua mulher e do rabugento do seu sogro, Ramón começa um treino peculiar no qual lutará contra as suas limitações, demonstrando ao mundo que render-se não é opção.

Opinião por Artur Neves

Marcel Barrena, realizador e autor do argumento desta história fundamentada num caso verídico, mostra-nos o sofrimento e a profunda desestruturação pessoal de um paciente de esclerose múltipla que num pequeno intervalo de tempo vê a sua vida drasticamente alterada por esta doença silenciosa, sem cura, que se agrava com o passar do tempo e que não desaparece até ao fim dos nossos dias. Tal como se refere no filme, é uma companheira para dançar para a qual temos de nos prevenir para que não nos pise.
O título, reporta-se ao limite genérico de capacidade de locomoção quando somos apanhados por ela, embora de maneira ligeira, mas que nos deforma a postura, a clarividência, a vista ou qualquer dos nossos sentidos que estamos habituados a usar. Todavia representa também o alvo a ultrapassar quando cerramos os dentes e decidimos combater (se é que se pode chamar assim) o mal através do esforço, da perseverança, da abnegação pelo sofrimento autoinfligido em muitas horas de treino físico que constitui o alimento da esperança, da raiva, do desespero para que não se piore o que já é muito mau.
Trata-se pois de uma história de superação das nossas fraquezas, de estoicismo, de desafio para todos os que nos cercam e por fim, de descoberta de amigos improváveis, de confirmação de outros que não nos abandonam e de revelação de pequenos nadas que nessa situação são o tudo a que ficamos reduzidos. É sem dúvida uma história de destruição inevitável em que o fim é conhecido e inevitável, mas em que o que conta é que o percurso até lá seja o mais longo e “normal” possível, para nosso bem e dos que nos rodeiam indiretamente afetados pela mesma doença.
A doença não é o verdadeiro mal, mas sim a vida em si mesma que permite que este, ou outro mal se sobreponha a uma existência que prevíamos diferente.
A história está bem contada, Alexandra Jiménez, que desempenha o papel de “Inma”, esposa de “Ramón” Dani Rovira, está muito convincente como esteio da família e o sogro mal-amado “Manolo”, Karra Errejaldo, é o elemento dissonante na tragédia, que constrói um personagem truculento e desafiador mas fundamental para a superação de Ramón e para a elevação da história. Também é agradável ver Maria de Medeiros num papel de hippie que empresta algum colorido à ação, lamenta-se é que seja tão pouco.

Classificação: 6 numa escala de 10

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